Editorial
Mariana Diniz, Directora da UNIARQ
Espera-se, como ritual próprio da sociedade que nos acolhe, que a cada novo ano se executem balanços do acontecido nos últimos 12 meses, que se apresentem os propósitos e as resoluções para o ano que se abre, num exercício individual e colectivo que oscila, em função da escala onde acontece, entre o exame de consciência e a análise SWOT, que marca a vida dos organismos contemporâneos.
Em Janeiro de 2024, combinam-se-nos diferentes cenários ameaças, riscos e fragilidades, mas como postura única aos que trabalham em Ciência, acreditamos que as oportunidades e as forças são suficientes para enfrentar os desafios e para construir um melhor Conhecimento, parte de uma sociedade mais justa e mais inclusiva. À curiosidade que nos impele a querer saber mais, junta-se a convicção que só sabendo mais viveremos melhor, como seres únicos e como sociedade.
A nossa responsabilidade social existe, como cientistas e como cidadãos. A acção da UNIARQ, na diversidade de tópicos e de temas de investigação que acolhe, na diversidade de perspectivas e metodologias de trabalho, na constante preocupação de que os fundos que nos são entregues – públicos ou privados, locais, nacionais, comunitários ou outros – sob a forma de apoios, de bolsas, de projectos, de contratos… sejam eficazmente utilizados, na apresentação de resultados e nas acções de disseminação e divulgação de conhecimento a diferentes públicos, deve reflectir a nossa adesão a essa Ciência consciente, herdeira de um Humanismo de que queremos fazer parte, sobretudo agora quando, e como preveem as análises SWOT, as ameaças existem em totalitarismos de diferentes roupagens, que rejeitamos.
No plano do imediato, a re-organização da tutela e com ela uma, mais uma, re-distribuição de poderes e competências, entre empresa e instituto, entre museus-monumentos e salvaguarda, entre poder central e poderes locais. Esperamos que entre a nova floresta de siglas, não se perca, como temem alguns investigadores da UNIARQ, o Património – bem finito, não renovável e de imenso valor, em diferentes planos da existência individual e colectiva.
No plano do imediato, um novo ciclo de avaliação das Unidades de Investigação e de concursos para projectos científicos, lançados nos últimos dias de 2023, pela Fundação para a Ciência e Tecnologia, garante, aos primeiros meses deste ano, uma intensa actividade para Centros e para Investigadores, em busca de classificações e de financiamentos, fundamentais (apesar das múltiplas vicissitudes que envolvem qualquer concurso), ao exercício da Ciência contemporânea.
Para além destas ameaças-oportunidades, nesta revisão de fim-de-ano, os números do Especial Balanço 2023 quantificam as forças e a dinâmica do trabalho realizado pelos Investigadores da UNIARQ, nos diferentes cenários onde actuam e nos diferentes circuitos onde se faz, hoje, Arqueologia.
Numa prática de investigação que se inicia ainda durante a licenciatura, a participação activa dos estudantes nas 23 campanhas de escavação que aconteceram em 2023, em contextos que se estendem do Paleolítico Inferior ao Período Contemporâneo, e nos diferentes trabalhos de laboratório, dos materiais da Antiguidade clássica, à Inteligência Artificial e às Colecções Africanas, reflecte o papel da UNIARQ na formação graduada e na formação pós-graduada, da qual hoje fazem parte dezenas de estudantes de doutoramento, como Margarida Rodrigues, bolseira FCT que neste número da UNIARQ DIGITAL, apresenta o seu projecto, ou Diana Nukushina que a 25 de Janeiro defenderá a sua tese de doutoramento.
Mas outros números, 1728 artigos colocados no Repositório da Universidade de Lisboa, garantindo o acesso aberto e permanente aos resultados da investigação que decorre na UNIARQ, as três edições UNIARQ lançadas este ano, onde constam, para além de mais um número da revista Ophiussa, apresentado por Carlos Fabião, os trabalhos de Victor Filipe, sobre Economia e Comércio na Lisboa romana, e de César Neves sobre o Neolítico médio, no Sul de Portugal, reflectem a intensidade da investigação produzida, que é também o motor que alimenta o Serviço de Comunicação, multimédia, da responsabilidade de André Pereira e de impacto crescente nas diferentes canais e redes sociais.
Ainda em Dezembro, a conferência de Sara Cura, alumna de Letras, a estância do investigador, Pablo Paniego Díaz, o projecto da Litoteca em construção, de Patrícia Jordão, ou a peça do mês de José Angel Garrido Cordero constituem algumas das peças da investigação que se faz na UNIARQ, demonstram a abertura, do Centro de Arqueologia, a outros investigadores e a outras instituições, com as quais colaboramos em continuidade, como é visível na rubrica Protocolos e Parcerias, assinada por Ana Catarina Sousa e Cátia Delicado.
Para além dos balanços, na preparação do novo ano é também fundamental dar as boas-vindas a Daniela Matos, Investigadora CEEC, que vem ampliar o grupo de Investigadores da UNIARQ dedicado a questões africanas, consolidando uma abertura temática que é decisiva no processo de crescimento das instituições cientificas.
Por fim, para o mês de Janeiro, entre os múltiplos eventos que a Agenda contempla, como De Gibraltar aos Pirenéus - Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular, encontro que homenageia João Carlos Senna-Martinez, investigador da UNIARQ cujo trajecto de investigação incidiu sobre Megalitismo como temática nuclear, ou o Isto é Arqueologia!, encontro aberto e destinado, sobretudo, mas não exclusivamente aos estudantes de todos os ciclos de Arqueologia da FLUL, destaco a entrega da Medalha de Mérito Cultural a João Zilhão, porque é um Arqueólogo que vê oficialmente reconhecido, mesmo que mais uma vez, o seu trajecto, porque sendo esse Arqueólogo da UNIARQ, todos nos, duplamente, congratulamos.
Um Bom Ano de 2024!
Em Janeiro de 2024, combinam-se-nos diferentes cenários ameaças, riscos e fragilidades, mas como postura única aos que trabalham em Ciência, acreditamos que as oportunidades e as forças são suficientes para enfrentar os desafios e para construir um melhor Conhecimento, parte de uma sociedade mais justa e mais inclusiva. À curiosidade que nos impele a querer saber mais, junta-se a convicção que só sabendo mais viveremos melhor, como seres únicos e como sociedade.
A nossa responsabilidade social existe, como cientistas e como cidadãos. A acção da UNIARQ, na diversidade de tópicos e de temas de investigação que acolhe, na diversidade de perspectivas e metodologias de trabalho, na constante preocupação de que os fundos que nos são entregues – públicos ou privados, locais, nacionais, comunitários ou outros – sob a forma de apoios, de bolsas, de projectos, de contratos… sejam eficazmente utilizados, na apresentação de resultados e nas acções de disseminação e divulgação de conhecimento a diferentes públicos, deve reflectir a nossa adesão a essa Ciência consciente, herdeira de um Humanismo de que queremos fazer parte, sobretudo agora quando, e como preveem as análises SWOT, as ameaças existem em totalitarismos de diferentes roupagens, que rejeitamos.
No plano do imediato, a re-organização da tutela e com ela uma, mais uma, re-distribuição de poderes e competências, entre empresa e instituto, entre museus-monumentos e salvaguarda, entre poder central e poderes locais. Esperamos que entre a nova floresta de siglas, não se perca, como temem alguns investigadores da UNIARQ, o Património – bem finito, não renovável e de imenso valor, em diferentes planos da existência individual e colectiva.
No plano do imediato, um novo ciclo de avaliação das Unidades de Investigação e de concursos para projectos científicos, lançados nos últimos dias de 2023, pela Fundação para a Ciência e Tecnologia, garante, aos primeiros meses deste ano, uma intensa actividade para Centros e para Investigadores, em busca de classificações e de financiamentos, fundamentais (apesar das múltiplas vicissitudes que envolvem qualquer concurso), ao exercício da Ciência contemporânea.
Para além destas ameaças-oportunidades, nesta revisão de fim-de-ano, os números do Especial Balanço 2023 quantificam as forças e a dinâmica do trabalho realizado pelos Investigadores da UNIARQ, nos diferentes cenários onde actuam e nos diferentes circuitos onde se faz, hoje, Arqueologia.
Numa prática de investigação que se inicia ainda durante a licenciatura, a participação activa dos estudantes nas 23 campanhas de escavação que aconteceram em 2023, em contextos que se estendem do Paleolítico Inferior ao Período Contemporâneo, e nos diferentes trabalhos de laboratório, dos materiais da Antiguidade clássica, à Inteligência Artificial e às Colecções Africanas, reflecte o papel da UNIARQ na formação graduada e na formação pós-graduada, da qual hoje fazem parte dezenas de estudantes de doutoramento, como Margarida Rodrigues, bolseira FCT que neste número da UNIARQ DIGITAL, apresenta o seu projecto, ou Diana Nukushina que a 25 de Janeiro defenderá a sua tese de doutoramento.
Mas outros números, 1728 artigos colocados no Repositório da Universidade de Lisboa, garantindo o acesso aberto e permanente aos resultados da investigação que decorre na UNIARQ, as três edições UNIARQ lançadas este ano, onde constam, para além de mais um número da revista Ophiussa, apresentado por Carlos Fabião, os trabalhos de Victor Filipe, sobre Economia e Comércio na Lisboa romana, e de César Neves sobre o Neolítico médio, no Sul de Portugal, reflectem a intensidade da investigação produzida, que é também o motor que alimenta o Serviço de Comunicação, multimédia, da responsabilidade de André Pereira e de impacto crescente nas diferentes canais e redes sociais.
Ainda em Dezembro, a conferência de Sara Cura, alumna de Letras, a estância do investigador, Pablo Paniego Díaz, o projecto da Litoteca em construção, de Patrícia Jordão, ou a peça do mês de José Angel Garrido Cordero constituem algumas das peças da investigação que se faz na UNIARQ, demonstram a abertura, do Centro de Arqueologia, a outros investigadores e a outras instituições, com as quais colaboramos em continuidade, como é visível na rubrica Protocolos e Parcerias, assinada por Ana Catarina Sousa e Cátia Delicado.
Para além dos balanços, na preparação do novo ano é também fundamental dar as boas-vindas a Daniela Matos, Investigadora CEEC, que vem ampliar o grupo de Investigadores da UNIARQ dedicado a questões africanas, consolidando uma abertura temática que é decisiva no processo de crescimento das instituições cientificas.
Por fim, para o mês de Janeiro, entre os múltiplos eventos que a Agenda contempla, como De Gibraltar aos Pirenéus - Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular, encontro que homenageia João Carlos Senna-Martinez, investigador da UNIARQ cujo trajecto de investigação incidiu sobre Megalitismo como temática nuclear, ou o Isto é Arqueologia!, encontro aberto e destinado, sobretudo, mas não exclusivamente aos estudantes de todos os ciclos de Arqueologia da FLUL, destaco a entrega da Medalha de Mérito Cultural a João Zilhão, porque é um Arqueólogo que vê oficialmente reconhecido, mesmo que mais uma vez, o seu trajecto, porque sendo esse Arqueólogo da UNIARQ, todos nos, duplamente, congratulamos.
Um Bom Ano de 2024!
ESPECIAL BALANÇO 2023
NOTÍCIAS
Revista Ophiussa: volume 7 e a indexação na Scopus
No dia 14 de Dezembro decorreu a habitual sessão de apresentação do volume anual da Revista Ophiussa, desta feita com a apresentação de Carlos Fabião, que como director da UNIARQ (2016-2023) apoiou o processo de implementação da revista nos seus números 1 a 7.
Cada número publicado constitui uma meta cumprida, o culminar de um ano de trabalho dos autores, revisores, editores e gráficos. O número 7 apresenta seis artigos da autoria de António Faustino Carvalho, Carlos Ferreira, Carlos Tavares da Silva, Eduardo Mendez-Quintas, Francisco B. Gomes, Inês Rasteiro, João Pedro Cunha-Ribeiro, João Pimenta, Joaquina Soares, Juan Francisco Gibaja e Nathalie Antunes-Ferreira e cinco recensões da autoria de Ana Andújar Suárez, Ana Catarina Sousa, Daniel Carvalho, Frederico Agosto, Juan Antonio Hernández Gento e Victor S. Gonçalves. O volume integra ainda um apartado dedicado à memória de Grégor Marchand (1968-2023), membro do Conselho Científico da Ophiussa e da Comissão externa permanente de aconselhamento científico (CEPAC) da UNIARQ.
O volume em acesso aberto encontra-se disponível para leitura (ophiussa.letras.ulisboa.pt/index.php/ophiussa/issue/view/8) e também com edição impressa distribuída para uma extensa rede de permutas.
Cada número publicado constitui uma meta cumprida, o culminar de um ano de trabalho dos autores, revisores, editores e gráficos. O número 7 apresenta seis artigos da autoria de António Faustino Carvalho, Carlos Ferreira, Carlos Tavares da Silva, Eduardo Mendez-Quintas, Francisco B. Gomes, Inês Rasteiro, João Pedro Cunha-Ribeiro, João Pimenta, Joaquina Soares, Juan Francisco Gibaja e Nathalie Antunes-Ferreira e cinco recensões da autoria de Ana Andújar Suárez, Ana Catarina Sousa, Daniel Carvalho, Frederico Agosto, Juan Antonio Hernández Gento e Victor S. Gonçalves. O volume integra ainda um apartado dedicado à memória de Grégor Marchand (1968-2023), membro do Conselho Científico da Ophiussa e da Comissão externa permanente de aconselhamento científico (CEPAC) da UNIARQ.
O volume em acesso aberto encontra-se disponível para leitura (ophiussa.letras.ulisboa.pt/index.php/ophiussa/issue/view/8) e também com edição impressa distribuída para uma extensa rede de permutas.
Fundada em 1996 por Victor S. Gonçalves (número 0), a Revista Ophiussa regressou a partir de 2017, sob a direcção de Carlos Fabião (números 1 a 7), tendo como objectivos centrais a disponibilização de uma revista científica em acesso aberto (digital e em papel), cumprindo as boas práticas científicas e deontológicas da edição científica. Aceitando contributos em português, espanhol, inglês e francês, o âmbito da revista é internacional, com especial ênfase na Europa e no Mediterrâneo.
A retoma da publicação foi entusiasticamente defendida por Rui Boaventura (1971-2016) que, com a colaboração das signatárias, organizou o processo editorial (normas, composição, procedimentos) e preparou o primeiro site da revista entre 2015 e 2016. Infelizmente o Rui já não veria publicado o número 1, mas deixou entregue para publicação o seu artigo que foi publicado postumamente em Dezembro de 2017.
A partir do volume 6 foi possível fazer a migração da revista para a plataforma PKP (Public Knowledge Project) que que assegura o arquivo digital e a software da Revista de Acesso Aberto (OJS). A indexação tem vindo a ser gradualmente implementada: desde 2018 com a Latindex, 2022 Erihplus e Sherpa Romeo e em Setembro de 2023 foi comunicado à UNIARQ a inclusão da Revista Ophiussa na Scopus (Elsevier): www.elsevier.com/products/scopus/content#4-titles-on-scopus Este patamar importante, é o resultado de um plano de média-longa duração com o apoio das várias direcções da UNIARQ, do Conselho Científico da Ophiussa e com os autores e revisores. Os oito números publicados da Ophiussa e as indexações já alcançadas reflectem uma complexa jornada entre os meandros complexos da edição científica que é (também) aferido pelas indexações e factores de impacto. Seguem-se novos desafios para a revista Ophiussa. Mas para já está aberta a fase de submissão de novos artigos para o número 8 (ophiussa.letras.ulisboa.pt/index.php/ophiussa/about/submissions) |
Ana Catarina Sousa e Elisa de Sousa
Gestão de Ciência: estratégia, planeamento e impacto, na FLUL
No dia 15 de Dezembro, Sara Cura, gestora e comunicadora de ciência da Escola Superior de Comunicação Social - Instituto Politécnico de Lisboa, e alumna de Arqueologia da FLUL, a convite de João Pedro Cunha Ribeiro, proferiu uma conferência intitulada "Don't miss that call! Gestão de Ciência: estratégia, planeamento e impacto", dirigida preferencialmente aos alunos de Mestrado em Arqueologia da Faculdade de Letras de Lisboa. O Anfiteatro 2 encheu-se de estudantes e investigadores para ouvir a conferencista.
Nas palavras da própria: "O desafio lançado pelo Professor João Pedro Cunha Ribeiro foi o de trazer algo da minha experiência profissional atual em Gestão de Ciência para o enriquecimento do percurso dos alunos do Mestrado em Arqueologia da FLUL.
Mais do que dar a conhecer o que é a Gestão de Ciência ou o que faz uma gestora de ciência, pensei no que eu, há mais de vinte anos, gostaria de ter ouvido quando fui aluna de mestrado e que me teria ajudado a planear o meu futuro como investigadora.
A ciência tem um sem número de aspetos que se relacionam com a sua gestão, mas ela não existe sem os investigadores e estes também têm de gerir de forma realista e saudável as suas carreiras científicas.
Assim falei de vários objetivos para construir um roteiro que permita ir tomando decisões num percurso em ciência que, como em qualquer vida, nunca vai diretamente do ponto A ao ponto B.
Foram abordados aspectos relacionados com: Supervisão e Mentoria; Networking e colaboração; Investigação ética e responsável; Publicações; Conferências; Obtenção de financiamento; Liderança e gestão de projetos; Disseminação, Impacto e Comunicação; Visibilidade e reconhecimento; e Equilíbrio vida/trabalho.
Os desafios de uma carreira científica são enormes no atual ecossistema extremamente competitivo, portanto priorizar e planear é crucial para guardar energia, gerir expectativas e manter um equilíbrio saudável, ao mesmo tempo que é fundamental ser crítico o suficiente para colocar os desafios em perspetiva.
No final o debate beneficiou de, além dos alunos de mestrado, ter presentes experientes investigadores da UNIARQ que muito contribuíram para enriquecer a conversa."
Nas palavras da própria: "O desafio lançado pelo Professor João Pedro Cunha Ribeiro foi o de trazer algo da minha experiência profissional atual em Gestão de Ciência para o enriquecimento do percurso dos alunos do Mestrado em Arqueologia da FLUL.
Mais do que dar a conhecer o que é a Gestão de Ciência ou o que faz uma gestora de ciência, pensei no que eu, há mais de vinte anos, gostaria de ter ouvido quando fui aluna de mestrado e que me teria ajudado a planear o meu futuro como investigadora.
A ciência tem um sem número de aspetos que se relacionam com a sua gestão, mas ela não existe sem os investigadores e estes também têm de gerir de forma realista e saudável as suas carreiras científicas.
Assim falei de vários objetivos para construir um roteiro que permita ir tomando decisões num percurso em ciência que, como em qualquer vida, nunca vai diretamente do ponto A ao ponto B.
Foram abordados aspectos relacionados com: Supervisão e Mentoria; Networking e colaboração; Investigação ética e responsável; Publicações; Conferências; Obtenção de financiamento; Liderança e gestão de projetos; Disseminação, Impacto e Comunicação; Visibilidade e reconhecimento; e Equilíbrio vida/trabalho.
Os desafios de uma carreira científica são enormes no atual ecossistema extremamente competitivo, portanto priorizar e planear é crucial para guardar energia, gerir expectativas e manter um equilíbrio saudável, ao mesmo tempo que é fundamental ser crítico o suficiente para colocar os desafios em perspetiva.
No final o debate beneficiou de, além dos alunos de mestrado, ter presentes experientes investigadores da UNIARQ que muito contribuíram para enriquecer a conversa."
André Pereira e Sara Cura
Lançamento do volume de Actas do “Encontro Internacional – Gestão de Sítios Arqueológicos em Meio Urbano”
No passado mês de Dezembro foi publicado o volume de Actas do Encontro Internacional – Gestão de Sítios Arqueológicos em Meio Urbano. O Encontro, realizado entre os dias 13 e 15 de Setembro de 2021, foi organizado pela Câmara Municipal de Almada em parceria com a UNIARQ, o ICOMOS-ICAHM, a Fundação Serra Henriques e a Património.pt. Tendo como tema central a valorização e abertura ao público de sítios arqueológicos integrados em contexto urbano, reuniram-se projectos com diferentes características e geografias, em distintas etapas de desenvolvimento.
A confluência de experiências permitiu reflectir sobre os difíceis equilíbrios e desafios inerentes a projectos desta natureza, que tornam necessária a identificação de modelos de gestão que permitam concertar o desenvolvimento da investigação científica, a utilização enquanto recurso educacional, cultural e turístico, e a salvaguarda da integridade dos vestígios descobertos face à pressão exercida, quer pelo desenvolvimento das cidades, quer pelos visitantes. Diversos investigadores da UNIARQ estiveram presentes com os respectivos projectos, reflectindo o volume agora publicado algumas dessas contribuições. O volume encontra-se disponível em issuu.com/cmalmada/docs/encontro_internacional_de_arqueologia_-atas. |
Ana Olaio
Exposição de Posters a "Arqueologia das Cidades" do Mestrado em Arqueologia
No chamado “corredor de História”, no piso 1 do Edifício Central da FLUL, junto à entrada das instalações da UNIARQ, estão expostos 17 posters, que se prendem directamente com a temática das actividades arqueológicas praticadas em meio urbano. Foram concretizados pelos alunos do mestrado de Arqueologia da Faculdade de Letras de Lisboa, no âmbito da disciplina de “Arqueologia das Cidades”.
Versam uma ampla variedade de perspectivas, focando-se quer em núcleos urbanos específicos, como Lagos, Almada, Torres Vedras, Mafra, Braga, Sines, Angra, Lisboa, quer em projectos concretos que neles se desenvolvem, de investigação, mas também e sobretudo, naqueles que decorrem da chamada Arqueologia Preventiva e/ou de Salvamento. Outros ainda incidiram sobre questões relacionadas com a musealização dos sítios arqueológicos em meio urbano, especificamente quanto aos aspectos relacionados com a sua conservação e respectiva monitorização. A Arqueologia da Arquitectura, tão importante no caso específico das cidades históricas, bem como o recurso às tecnologias digitais para a divulgação do património histórico e arqueológico também mereceram a devida atenção. |
Ana Margarida Arruda
UNIARQ na organização de sessões do 30.º Congresso da EAA
Vai realizar-se no próximo mês de Agosto, em Roma, mais uma edição – a 30ª – do encontro anual da EAA, onde mais uma vez, Investigadores da UNIARQ são responsáveis, ou co-responsáveis, pela organização de diferentes sessões, em parcerias alargadas que envolvem, como prevê o regulamento do encontro, investigadores de diferentes nacionalidades que cruzam agendas e metodologias de investigação, neste evento que pela sua dimensão constitui um dos barómetros onde podemos observar os rumos que a Arqueologia Europeia segue. Na modalidade mista – presencial e digital – o 30º Encontro Anual da EAA, voltará a reunir, sob o tema Persisting with Change, linhas de investigação que incidem sobre cronologias, geografias e temáticas distintas. Já está aberta a chamada para comunicações e em curso a divulgação das sessões organizadas por Investigadores da UNIARQ.
Fiquem atentos à chamada. Encontramo-nos em Roma.
Fiquem atentos à chamada. Encontramo-nos em Roma.
Mariana Diniz
Pedra sobre pedra II: mais uma pedra na construção da litoteca da UNIARQ
No passado dia 5 de Dezembro tivemos a primeira reunião com as Doutoras Sofia Soares e Teresa Pena, do Laboratório Nacional de Energia e Geologia (LNEG), seguida de visita técnica a um dos principais espaços de arquivo - a Litoteca de Alfragide.
O LNEG conserva e gere as colecções de testemunhos de sondagens, amostras de rochas, minérios, fósseis, solos e sedimentos, bem como os dados relativos aos levantamentos geológicos realizados em território nacional (em particular, as cartas geológicas à escala 1: 50000).
A Litoteca do LNEG é herdeira de diversos organismos que, ao longo de mais de 150 anos, foram assumindo estas atribuições. No seu acervo contam-se também materiais com elevado valor histórico provenientes de missões e levantamentos de campo realizados por naturalistas, exploradores e missionários, em contexto colonial, nos território das antigas Províncias Ultramarinas Portuguesas, sobretudo africanas. Para saber mais: www.lneg.pt/other-infrastructure/litoteca/.
Assumindo-se como uma litoteca com colecções de referência vocacionadas para a geologia, neste último ano foi reconhecida a necessidade de servir também a comunidade arqueológica. Neste sentido, iniciou-se um processo de aproximação com a Litoteca da UNIARQ, estando actualmente em desenvolvimento um trabalho de intercâmbio entre ambas as instituições – UNIARQ-UL e LNEG – que inclui, entre outras, a partilha de informação técnico-científica, colaboração em actividades de investigação científica, partilha de alocação de colecções e divulgação de actividades. Mais uma “pedra” na construção da nossa litoteca!
O LNEG conserva e gere as colecções de testemunhos de sondagens, amostras de rochas, minérios, fósseis, solos e sedimentos, bem como os dados relativos aos levantamentos geológicos realizados em território nacional (em particular, as cartas geológicas à escala 1: 50000).
A Litoteca do LNEG é herdeira de diversos organismos que, ao longo de mais de 150 anos, foram assumindo estas atribuições. No seu acervo contam-se também materiais com elevado valor histórico provenientes de missões e levantamentos de campo realizados por naturalistas, exploradores e missionários, em contexto colonial, nos território das antigas Províncias Ultramarinas Portuguesas, sobretudo africanas. Para saber mais: www.lneg.pt/other-infrastructure/litoteca/.
Assumindo-se como uma litoteca com colecções de referência vocacionadas para a geologia, neste último ano foi reconhecida a necessidade de servir também a comunidade arqueológica. Neste sentido, iniciou-se um processo de aproximação com a Litoteca da UNIARQ, estando actualmente em desenvolvimento um trabalho de intercâmbio entre ambas as instituições – UNIARQ-UL e LNEG – que inclui, entre outras, a partilha de informação técnico-científica, colaboração em actividades de investigação científica, partilha de alocação de colecções e divulgação de actividades. Mais uma “pedra” na construção da nossa litoteca!
Patrícia Jordão
INVESTIGAÇÃO NA UNIARQ
Margarida Rodrigues - Bolseira de Doutoramento FCT (2022.11304.BD)
A ocupação romana na Baía de Lagos: leituras através da Terra Sigillata
A Baía de Lagos foi um espaço com uma ocupação intensa durante a época romana. Vestígios desta ocupação já eram conhecidos desde o século XIX, mas, nas últimas décadas, a realização de intervenções arqueológicas de cariz preventivo, bem como as associadas a projectos de investigação, têm vindo a expandir o volume de dados sobre a presença romana nesta área. O projecto em curso procura realizar uma análise integrada do espaço da Baía de Lagos durante a ocupação romana, examinando as suas dinâmicas de importação de Terra Sigillata. Procura-se caracterizar e compreender como estas se enquadram no panorama regional, colmatando lacunas no conhecimento sobre a ocupação romana no Barlavento Algarvio. Tem-se como objetivo a realização de um estudo crono-tipológico da Terra Sigillata de vários sítios, entre os quais a Estação Arqueológica de Monte Molião, a villa da Meia Praia e ainda materiais provenientes de um conjunto de escavações arqueológicas preventivas realizadas na cidade de Lagos, sítios com diferentes características, funções e distintas cronologias de ocupação.
No primeiro ano de Doutoramento, foram analisados os mais de 7000 fragmentos de Terra Sigillata de contextos balizados entre o século I e os finais do século II/ inícios do século III, provenientes de Monte Molião, recolhidos desde 2006 no âmbito do projecto MOLA - Monte Molião na Antiguidade. O estudo dos materiais, ainda em fase preliminar, focou-se até ao momento nas importações dos últimos momentos de ocupação do sítio, parecendo apontar, tal como já tinha sido observado e publicado anteriormente, para uma prevalência das importações da produção Sud-Gálica até momentos bastante tardios da ocupação. Estas parecem ter sido adquiridas em detrimento de produções africanas que surgem em volumes muito reduzidos, enquanto as importações provenientes da Hispânia apenas parecem surgir em percentagens equivalentes às dos materiais sul da Gália nos momentos finais da ocupação de Monte Molião.
Os restantes sítios (ainda por estudar) estenderão a cronologia dos materiais estudados pelo menos até ao século VI permitindo caracterizar, em articulação com os dados existentes sobre os restantes materiais em contexto, as dinâmicas de importação e consumo da região ao longo de cerca de seis séculos.
Este projecto de investigação é financiado pela FCT - Fundação para a Ciência e Tecnologia e orientado por Ana Margarida Arruda (UNIARQ/ FLUL) e Rui Morais (CECH/FLUP). |
INVESTIGADOR VISITANTE NA UNIARQ
Pablo Paniego Díaz (UAM / IAM-CSIC)
Pablo Paniego Díaz, Investigador posdoctoral Margarita Salas, Departamento de Prehistoria y Arqueología da Universidad Autónoma de Madrid e do Instituto de Arqueología-Mérida (CSIC-Junta de Extremadura), esteve uma vez mais na UNIARQ, dando continuidade a uma já longa colaboração em torno do estudo da Proto-História do Sudoeste peninsular.
Na presente estada, ocupou-se do estudo da estela de guerreiro Ervidel II, depositada no MAEDS, no âmbito do trabalho em curso de actualização do corpus deste tipo de monumentos. A actividade incluiu ainda o trabalho com Samuel Melro e Miguel Rego da DRC Alentejo, de actualização da informação arqueológica desta região, particular atenção foi concedida ao território do Município de Barrancos, pela sua localização raiana. |
Pablo Paniego e Carlos Fabião
PROTOCOLOS E PARCERIAS
Protocolo com Mosteiro de Alcobaça – Direcção Geral do Património Cultural
No final de 2023 celebrou-se um protocolo de colaboração entre o Mosteiro de Alcobaça (Direcção Geral do Património Cultural) e a Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, através da UNIARQ, o qual visa promover a investigação e divulgação do Espólio Vieira Natividade e do acervo arqueológico do Mosteiro.
As investigações arqueológicas de Manuel Vieira Natividade (1860-1918) compulsaram um importante acervo, especialmente relacionado com as “Grutas de Alcobaça” (Natividade, 1901). Como outros projectos regionais de finais de oitocentos, Vieira Natividade desenvolveu pesquisas arqueológicas, realizou várias publicações e pretendia fundar um museu local. No escritório da residência particular, na modalidade “Casa-Museu”, foi organizada uma exposição, com suportes e molduras que ainda hoje subsistem. A criação de um Museu de Alcobaça sob o mote de Vieira Natividade converteu-se num desiderato familiar e em 1960 foi criada uma Comissão para a constituição do Museu de Alcobaça, a instalar na Ala Sul do Mosteiro. Posteriormente a formalização da doação à tutela do património (então Instituto Português do Património Cultural), foi celebrada por escritura pública datada de 4 de outubro de 1991, ficando a Casa-Museu Vieira Natividade, na dependência técnica e administrativa do “Museu de Alcobaça” (Mosteiro de Alcobaça). |
A colecção Vieira Natividade integra uma importante coleção de bens arqueológicos e a respectiva documentação de campo. O núcleo mais relevante é constituído pelas Grutas de Alcobaça com cronologias do Neolítico antigo à Idade do Bronze mas existem também materiais de cronologia romana como são o Mosaico de Cós, o conjunto de moedas de Cela ou as ânforas recolhidas em Turquel. Victor S. Gonçalves efectuou a única publicação global do conjunto neolítico-calcolítico das grutas (Gonçalves, 1978) mas salvo algumas investigações pontuais, a centenária colecção arqueológica Vieira Natividade permanece ainda praticamente por estudar.
Os protocolos formalizam usualmente colaborações em curso. No caso do Mosteiro de Alcobaça, decorre desde 2020 o projecto de doutoramento de Cátia Delicado Vagueiro subordinado ao tema O Calcário, o Rio e a Morte. A ocupação funerária do vale do Carvalhal de Aljubarrota (Carvalhal, Alcobaça) do Neolítico ao Calcolítico (Bolsa FCT 2020.05503.BD) na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, sob orientação de Ana Catarina Sousa (UNIARQ, FLUL), Ana Maria Silva (CIAS, UNIARQ) e Anna J. Waterman (Mount Mercy University, Iowa). No âmbito do projecto de doutoramento tem sido efectuado o inventário e estudo dos artefactos das Grutas do Vale do Carvalhal de Aljubarrota, incluindo várias análises (radiocarbono e isótopos). Para além da vertente de investigação, tem também sido desenvolvidas algumas acções de divulgação, nomeadamente a produção de curtos vídeos temáticos.
A colaboração entre a UNIARQ e o Mosteiro de Alcobaça tem ainda um longo caminho a percorrer, tendo em vista a investigação e a divulgação da importante colecção Vieira Natividade.
A colaboração entre a UNIARQ e o Mosteiro de Alcobaça tem ainda um longo caminho a percorrer, tendo em vista a investigação e a divulgação da importante colecção Vieira Natividade.
Referências:
Gonçalves, V. S. (1978) – A Neolitização e o Megalitismo da Região de Alcobaça, Lisboa: IPPC.
Natividade, M. V. (1901) – Grutas de Alcobaça. Materiaes para o estudo do Homem. Porto. Imprensa Moderna.
Gonçalves, V. S. (1978) – A Neolitização e o Megalitismo da Região de Alcobaça, Lisboa: IPPC.
Natividade, M. V. (1901) – Grutas de Alcobaça. Materiaes para o estudo do Homem. Porto. Imprensa Moderna.
Ana Catarina Sousa e Cátia Delicado
FINANCIAMENTO COMPETITIVO
FCT - Concurso Estímulo ao Emprego Científico Individual 2023
Middle Stone Age hunter-gatherers at the highlands of Southwest Angola (2023.08165.CEECIND) Daniela de Matos |
PEÇA DO MÊS
Conta de fluorite decorada da Anta Grande da Comenda da Igreja
Proveniência: Anta Grande da Comenda da Igreja (Évora, Portugal)
Cronologia: Neolítico Final / Calcolítico (4º-3º milénios cal ANE)
Trabalhos arqueológicos: Leite de Vasconcellos (1898), Manuel Heleno (1931)
Descrição: A excepcional conta de colar aqui apresentada faz parte do espólio de adorno pessoal proveniente das escavações de Leite de Vasconcellos (1898) e/ou Manuel Heleno (1931) na Anta Grande da Comenda da Igreja, não sendo possível fazer uma aproximação contextual precisa do achado. Este elemento de adorno já tinha sido salientado pelo casal Leisner na sua descrição dos materiais deste importante monumento megalítico (Leisner e Leisner, 1959).
A conta de colar é notável pela sua raridade organoléptica, tanto pela sua decoração como pela sua cor esbranquiçada translúcida. De forma esferoidal, mede 20,51 mm por 22,07 mm e pesa 15,9 gramas. Toda a sua superfície está decorada com um padrão quadriculado que lembra a decoração de certos elementos incisos ou métopas em cerâmicas ou recipientes de osso do Neolítico Final e do Calcolítico.
No âmbito do projeto Redes y Rocas Raras en la Península Ibérica y el Mediterráneo (VI-II Milenio AC) (HAR2017-83474-P), com o financiamento do Ministerio de Economía y Competitividad de Espanha e dirigido por Carlos Odriozola (Universidade de Sevilha / UNIARQ), foram realizadas análises físico-químicas mediante espetroscopia Raman e fluorescência de raios X sobre esta peça. Os resultados revelaram que a mineralogia deste ornamento era a fluorite (CaF2), um halogeneto extremamente raro no repertório ornamental da Pré-História Recente peninsular, mas também noutras regiões do mundo (Garrido-Cordero et al., 2020).
Comentário: A fluorite encontra-se numa grande parte do mundo em veios hidrotermais, como um mineral da ganga ou associado a mineiros de metais, em cavidades de dolomitos e calcários e ainda como mineral de menor importância em rochas magmáticas e pegmatitos. Pode apresentar uma grande diversidade de cores e combinações de cores, algumas das quais são raras na natureza, como o rosa ou o roxo.
As contas de fluorite são excepcionais entre as matérias-primas líticas utilizadas no fabrico de objectos de adorno pessoal na Pré-História Recente, com menos de 40 peças identificadas em toda a Península Ibérica (Garrido-Cordero et al., 2020). Uma primeira aproximação a alguns destes ornamentos de fluorite foi publicada por J. L. Cardoso et alii (2012), conferindo-lhes um carácter exógeno ao estuário do Tejo e, portanto, objeto de trocas a longa distância.
A singularidade da fluorite reside na dificuldade ou raridade do seu acesso, apesar de se tratar de um mineral bastante comum, sendo o acesso claramente esporádico ou circunstancial e respondendo a uma utilização exclusiva ou notável. Isto pode ser deduzido tanto pelos contextos em que este tipo de elemento aparece em enterramentos colectivos de grande importância, como pelo formato das próprias peças, normalmente de grandes dimensões e por vezes, como o exemplar que nos ocupa, decorados com linhas ou padrões geométricos, tendência rara no adorno pessoal da Pré-História Recente peninsular.
A maioria dos casos documentados parece indicar e confirmar uma procura relativamente próxima dos locais de utilização com base na distribuição geológica deste mineral, embora no caso de alguns sitios no estuário do Tejo, como o de Leceia ou o hipogeu de São Paulo 2, pareça confirmar-se o intercâmbio a longa distancia (Garrido-Cordero et al., 2020).
Cronologia: Neolítico Final / Calcolítico (4º-3º milénios cal ANE)
Trabalhos arqueológicos: Leite de Vasconcellos (1898), Manuel Heleno (1931)
Descrição: A excepcional conta de colar aqui apresentada faz parte do espólio de adorno pessoal proveniente das escavações de Leite de Vasconcellos (1898) e/ou Manuel Heleno (1931) na Anta Grande da Comenda da Igreja, não sendo possível fazer uma aproximação contextual precisa do achado. Este elemento de adorno já tinha sido salientado pelo casal Leisner na sua descrição dos materiais deste importante monumento megalítico (Leisner e Leisner, 1959).
A conta de colar é notável pela sua raridade organoléptica, tanto pela sua decoração como pela sua cor esbranquiçada translúcida. De forma esferoidal, mede 20,51 mm por 22,07 mm e pesa 15,9 gramas. Toda a sua superfície está decorada com um padrão quadriculado que lembra a decoração de certos elementos incisos ou métopas em cerâmicas ou recipientes de osso do Neolítico Final e do Calcolítico.
No âmbito do projeto Redes y Rocas Raras en la Península Ibérica y el Mediterráneo (VI-II Milenio AC) (HAR2017-83474-P), com o financiamento do Ministerio de Economía y Competitividad de Espanha e dirigido por Carlos Odriozola (Universidade de Sevilha / UNIARQ), foram realizadas análises físico-químicas mediante espetroscopia Raman e fluorescência de raios X sobre esta peça. Os resultados revelaram que a mineralogia deste ornamento era a fluorite (CaF2), um halogeneto extremamente raro no repertório ornamental da Pré-História Recente peninsular, mas também noutras regiões do mundo (Garrido-Cordero et al., 2020).
Comentário: A fluorite encontra-se numa grande parte do mundo em veios hidrotermais, como um mineral da ganga ou associado a mineiros de metais, em cavidades de dolomitos e calcários e ainda como mineral de menor importância em rochas magmáticas e pegmatitos. Pode apresentar uma grande diversidade de cores e combinações de cores, algumas das quais são raras na natureza, como o rosa ou o roxo.
As contas de fluorite são excepcionais entre as matérias-primas líticas utilizadas no fabrico de objectos de adorno pessoal na Pré-História Recente, com menos de 40 peças identificadas em toda a Península Ibérica (Garrido-Cordero et al., 2020). Uma primeira aproximação a alguns destes ornamentos de fluorite foi publicada por J. L. Cardoso et alii (2012), conferindo-lhes um carácter exógeno ao estuário do Tejo e, portanto, objeto de trocas a longa distância.
A singularidade da fluorite reside na dificuldade ou raridade do seu acesso, apesar de se tratar de um mineral bastante comum, sendo o acesso claramente esporádico ou circunstancial e respondendo a uma utilização exclusiva ou notável. Isto pode ser deduzido tanto pelos contextos em que este tipo de elemento aparece em enterramentos colectivos de grande importância, como pelo formato das próprias peças, normalmente de grandes dimensões e por vezes, como o exemplar que nos ocupa, decorados com linhas ou padrões geométricos, tendência rara no adorno pessoal da Pré-História Recente peninsular.
A maioria dos casos documentados parece indicar e confirmar uma procura relativamente próxima dos locais de utilização com base na distribuição geológica deste mineral, embora no caso de alguns sitios no estuário do Tejo, como o de Leceia ou o hipogeu de São Paulo 2, pareça confirmar-se o intercâmbio a longa distancia (Garrido-Cordero et al., 2020).
Bibliografia:
Cardoso, J. L.; Domínguez, S. and Martínez, J. (2012) “Ocorrência de contas de fluorite no Neolítico Final e no Calcolítico da Estremadura (Portugal)”. Estudos Arqueológicos de Oeiras 19: 35-42.
Garrido-Cordero, J. A.; Odriozola, C. P.; Sousa, A. C.; Gonçalves, V. S.; Cardoso, J. L. (2020) “Distribution and consumption of fluorite and translucent beads in the Iberian peninsula from 6th to 2nd Millennia BC”. Trabajos de Prehistoria 77 (2): 273-283. https://doi.org/10.3989/tp.2020.12256
Leisner, G.; Leisner, V. (1959) Die Megalithgräber der Iberischen Halbinsel: der Westen. Madrider Forschungen Band 1/2, Deutsches Archäologisches Institut abteilung Madrid, Walter de Gruyter. Berlin.
Cardoso, J. L.; Domínguez, S. and Martínez, J. (2012) “Ocorrência de contas de fluorite no Neolítico Final e no Calcolítico da Estremadura (Portugal)”. Estudos Arqueológicos de Oeiras 19: 35-42.
Garrido-Cordero, J. A.; Odriozola, C. P.; Sousa, A. C.; Gonçalves, V. S.; Cardoso, J. L. (2020) “Distribution and consumption of fluorite and translucent beads in the Iberian peninsula from 6th to 2nd Millennia BC”. Trabajos de Prehistoria 77 (2): 273-283. https://doi.org/10.3989/tp.2020.12256
Leisner, G.; Leisner, V. (1959) Die Megalithgräber der Iberischen Halbinsel: der Westen. Madrider Forschungen Band 1/2, Deutsches Archäologisches Institut abteilung Madrid, Walter de Gruyter. Berlin.
José Angel Garrido Cordero
AGENDA
2024 Conference on Historical and Underwater Archaeology
3 a 6 de Janeiro Oakland, California, EUA Mais informação AQUI |
Sessão de entrega de
Medalha de Mérito Cultural a João Zilhão 4 de Janeiro | 15h Palácio Nacional da Ajuda |
Encontro
Arqueologia, Património e Autarquias 11 e 12 de Janeiro Convento dos Capuchos, Almada Programa AQUI |
Isto é Arqueologia! 2023-2024
18 de Janeiro Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa Mais informação AQUI |
De Gibraltar aos Pirenéus
Megalitismo, Vida e Morte na Fachada Atlântica Peninsular 26 e 27 de Janeiro Fundação Lapa do Lobo (Nelas) Programa AQUI |
VII Congresso Internacional
Sociedad de Estudios de la Cerámica Antigua en Hispania (SECAH) 15 a 18 de Maio FLUL e FCSH-UNL Mais informação AQUI |
30th EAA Annual Meeting
Persisting with change CALL FOR PAPERS ATÉ 8 DE FEVEREIRO 28 a 31 de Agosto Roma, Itália Mais informação AQUI |
Participações em Congressos, Colóquios e Conferências
Mesa Redonda "Nos 100 anos do nascimento de João Manuel Bairrão Oleiro"
Participação de Amílcar Guerra, Carlos Fabião e João Luis Cardoso 13 de Dezembro | Sociedade de Geografia de Lisboa Lançamento da Revista Digital e Impressa OPHIUSSA 7 (2023)
Apresentação de Carlos Fabião 14 de Dezembro | Faculdade de Letras de Lisboa Apresentação e Discussão de Projectos do Programa de Doutoramento em Arqueologia da Universidade de Évora
Conferência e Comentários por Mariana Diniz 15 de Dezembro | Évora |
44.º TAG "Climate Archaeology"
«The environmental impacts of slavery in two different regions of the Atlantic world: Cacheu (Guinea-Bissau, West Africa) and Sado (Portugal, Southwestern Europe)» Comunicação de Sara Simões, Ana Maria Costa, Cláudia Oliveira, João Tereso, Maria da Conceição Freitas, Maria da Conceição Lopes, Patrícia Mendes, Rui Gomes Coelho, Rute Arvela, Sandra Domingues Gomes e Sónia Gabriel 18 a 20 de Dezembro | Norwich, UK Podcast "Let's Rock - Um podcast da Idade da Pedra"
«O que nos diz a Arte Paleolítica acerca de quem a fez?» Entrevista a André Tomás Santos 22 de Dezembro | Online |
Provas Académicas
Prova Intermédia e de Qualificação dos Trabalhos no Doutoramento em Arqueologia e Pré-História "Do Sagrado e do Profano. Práticas Rituais no Baixo Tejo e no Baixo Alentejo do Bronze Final à Idade do Ferro Pós-Orientalizante" (2020.08397.BD)
por Ana Sofia Tamissa Ganhão Antunes
8 de Janeiro | 14h30 | Sala C138.B, FLUL
por Ana Sofia Tamissa Ganhão Antunes
8 de Janeiro | 14h30 | Sala C138.B, FLUL
Tese de Doutoramento "Mid-Holocene hunter-gatherers and shell midden site structure and functionality in Atlantic Europe and Japan" (SFRH/BD/100329/2014)
por Diana Rita da Graça Nukushina
25 de Janeiro | 9h15 | Zoom/Colibri
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25 de Janeiro | 9h15 | Zoom/Colibri
Tese de Mestrado "O Impacto da Promagistratura de Júlio César na Hispania Ulterior (61-60 A.C.): Um Confronto Entre a Literatura Clássica e os Dados Arqueológicos"
por Rafael Gonçalves Boavida
30 de Janeiro | 10h30 | Zoom/Colibri
por Rafael Gonçalves Boavida
30 de Janeiro | 10h30 | Zoom/Colibri
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