Movendo megálitos no Neolítico: A proveniência geológica dos esteios de antas do Centro-Sul de Portugal (PTDC/EPH-ARQ/3971/2012).
Parceiros de Projecto: Centro de Arqueologia da Universidade de Lisboa (UNIARQ/FL/UL); Centro de Geofísica da Universidade de Évora (CG/UE); GEOBITEC da Universidade de Aveiro (GEOBIOTEC/UA).
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Os sepulcros megalíticos conhecidos por antas, são uma das evidências mais conspícuas das populações dos 4º e primeira metade do 3º milénios a.n.e., tanto pela sua monumentalidade, como pelo investimento socioeconómico que terá representado a sua construção para aquelas comunidades neolíticas peninsulares, nomeadamente do Centro-Sul de Portugal. Estas construções foram erigidas no âmbito do fenómeno funerário designado por Megalitismo, um complexo conjunto de práticas mágico-religiosas relacionadas com a morte, e não estritamente com um tipo de arquitectura. No entanto, as antas surgem como o tipo de sepulcro mais abundante da região, tendo sido registadas vários milhares destas.
Apesar das antas serem estudadas pelos seus conteúdos e tipologias, a abordagem interdisciplinar de caracterização e proveniência geológica dos megálitos utilizados nas suas construções, não tem recebido a devida atenção da investigação. Limitam-se muitas vezes a classificações empíricas e genéricas das rochas, a uma atribuição local, ou com algum destaque, caso estas sejam distintas do substrato geológico imediato. Mesmo quando alguma atenção mais detalhada é dada a algumas dessas antas, essa abordagen não procura verificar quais as suas proveniências geológicas específicas ou se em sepulcros vizinhos ocorrem padrões semelhantes. Há quase uma década, dois projectos foram desenvolvidos no Alentejo para avaliação dos tipos de rochas utilizadas em antas e as suas proveniências geológicas: em Vale de Rodrigo, Évora e no conjunto de Rabuje, Monforte. Estes estudos verificaram uma tendência para a utilização maioritária de rochas locais (1-2 km), sobretudo em antas de pequena dimensão (aproximadamente 1-2 m de altura, 2-4 metros de comprimento e 2m de largura), mas em sepulcros maiores foram detectados megálitos que terão sido carregados de origens mais distantes (entre os 6-8 km). Apesar da selecção dos blocos utilizados poder relacionar-se com a proximidade e o custo/benefício da sua extracção, transporte e erecção, a busca de lajes a maiores distâncias poderá dever-se à necessidade de blocos mais adequados, inexistentes nas proximidades. No entanto, as qualidades intrínsecas de certas rochas ou contextos geológicos poderão ter influenciado as escolhas daquelas comunidades, bem como o prestígio que tais empresas granjeariam para os membros destas. Estas hipóteses, contudo, só poderão ser testadas com novos estudos. No intuito de encontrar respostas convergentes para a resolução destas questões propõe-se o presente projecto geo-arqueológico. Este projecto procurará actualizar e avaliar a distribuição das antas do Centro-Sul de Portugal e a sua respectiva implantação no substrato geológico, utilizando para a análise dessas relações um sistema de informação geográfica. Para tal serão analisadas 3 áreas como casos de estudo: Monforte e Redondo, ambas no Alto Alentejo (Maciço Hercínico), e Baixa Estremadura, região de Lisboa (Orla Meso-Cenozoica). A escolha destas áreas com substratos geológicos distintos permitirá avaliar se os padrões humanos de comportamento na selecção de megálitos são semelhantes ou diferem regionalmente. Essa avaliação seria alcançada pela verificação do tipo de rocha, formato, volume e massa dos megálitos utilizados na construção dos sepulcros, bem como pela identificação e distância à sua provável origem geológica. Neste sentido uma análise geológica rigorosa e detalhada é crucial. Assim, além das descripções macrocópicas dos esteios das antas, a análise petrográfica seria também efectuada pelo método convencional de microscopia de luz polarizada (transmitida e reflectida), bem como recorrendo a análises semi-quantitativas de fases minerais por SEM-EDS e RAMAN. A composição geoquímica elementar (IC P-MS) e isotópica (TIMS) dos megálitos e afloramentos constituem uma informação complementar e fundamental para a diferenciação e classificação dos vários litótipos. As experiências técnicas combinadas dos membros participantes do projecto MEGAGEO são valores importantes desta empresa multidisciplinar, procurando compreender como e porquê as comunidades neolíticas dos 4º e primeira metade do 3º milénios a.n.e. usaram os megálitos e se foram influenciados pela sua natureza geológica. |
actualização em Agosto 2014