O projecto de investigação que se desenvolveu em torno da ocupação humana de Castro Marim durante a Antiguidade implicou trabalhos de escavação no Castelo da Vila (oito campanhas entre 1983 e 1987 e 2000 a 2003) e no Forte de São Sebastião, bem como o estudo da informação recolhida. Foi um projecto financiado pela FCT (POCTI/38334/HAR/2001), que contou ainda com a ajuda financeira da Câmara Municipal de Castro Marim e da Fundação Calouste Gulbenkian.
Os trabalhos permitiram perceber que a ocupação humana da pequena colina onde se implantou o castelo medieval se iniciou no Bronze final, tendo sido particularmente intensa na Idade do Ferro e durante a Época romana. No que se refere à primeira, deve insistir-se nas fortes relações que evidencia com o mundo mediterrâneo, concretamente com a colonização fenícia da Península Ibérica, primeiro, e, posteriormente, a partir dos finais do século V a.n.e., com o mundo púnico/gaditano. Quer os espólios, quer as arquitecturas são claros quanto à matriz cultural que pode ser imputada às comunidades que habitaram no sítio da foz do Guadiana. Os primeiros englobam, entre outros, cerâmicas gregas de época arcaica (coríntias) e clássica (ática), cerâmicas de engobe vermelho (pratos e taça), pintadas em bandas (pithoi, urnas de tipo Cruz del Negro), ânforas (R1, Mañá Pascual A4, de tipo B/C e D de Pellicer, de tipo Tiñosa), vasos trípodes, barris, cerâmica de tipo Kuass, fechos de cinturão de bronze de tipo «tartéssico», fíbulas, os artefactos de pasta vítrea…Os pavimentos de conchas e pintados de vermelho, bem como os planos ortogonais integram os elementos arquitectónicos que podemos associar às influências mediterrâneas. A importância da Andaluzia meridional como área abastecedora de produtos manufacturados e alimentares mantém-se durante a época romana, ainda que no período republicano as importações itálicas de vasos de mesa sejam significativas. No império, o abastecimento diversifica-se quanto à origem e os produtos sud-gálicos, hispânicos do Ebro e norte africanos estão presentes no conteúdo dos inventários. Os trabalhos de campo no Castelo de Castro Marim permitiram escavar uma área que foi considerada como dedicada ao culto. No chamado Corte 1, as evidências apontam nesse sentido, ao longo de toda a diacronia sidérica. Os altares e os espaços rectangulares com bancos corridos, os pavimentos de conchas, o depósito (bothros), sustentam esta interpretação. Os pendentes de vidro (cabeças femininas) indiciam que a entidade cultuada pode ter sido Astarté. O projecto que se desenvolveu implicou também o estudo da fauna recolhida, o que possibilitou uma leitura sobre a evolução da dieta alimentar da população ao longo de mais de um milénio. As análises antracológicas e carpológicas forneceram outros elementos, que permitem avaliar a paisagem da área envolvente, e as espécies cultivadas. Do projecto de estudo de Castro Marim durante a Antiguidade, resultaram nove teses de mestrado e uma de doutoramento. Mestrados: Vera Teixeira de Freitas «A cerâmica de engobe vermelho do Castelo de Castro Marim». Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Defendida e aprovada com a classificação de Muito Bom, com especiais felicitações do júri. Jaquelina Covaneiro «Faunas mamalógicas da Idade do Ferro do Castelo de Castro Marim». Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Defendida e aprovada com a classificação de Bom com distinção. Elisa Sousa «As cerâmicas de Kuass do Castelo de Castro Marim». Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Defendida e aprovada com a classificação de Muito Bom, com especiais felicitações do júri. Carlos Filipe Oliveira «Cerâmicas manuais da Idade do Ferro do Castelo de Castro Marim». Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Defendida e aprovada com a classificação de Muito Bom, com especiais felicitações do júri. Teresa Rita Pereira «Os artefactos metálicos da Antiguidade do Castelo de Castro Marim». Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Defendida e aprovada com a classificação de Muito Bom. Daniel Santos «As ânforas de tipo Mañá Pascual A4 do Castelo de Castro Marim». Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Defendida e aprovada com a classificação de 15 valores. Filipe Fernandes «As ânforas de tipo B/C do Castelo de Castro Marim». Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Defendida e aprovada com a classificação de 16 valores. Catarina Furtado "A cerâmica cinzenta do Castelo de Castro Marim». Defendida e aprovada com a classificação de 16 valores. Pedro Abade "A cerâmica de paredes finas do Castelo de Castro Marim" Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Defendida e aprovada com a classificação de 18 valores. Doutoramento Catarina Viegas «A ocupação romana do Algarve: estudo do povoamento central e oriental no período romano» Aprovado com Muito Bom, com Distinção e Louvor Trabalhos Publicados sobre Castro Marim pela equipa do Grupo de Trabalho 1. Arruda, A. M., 1984, Escavações arqueológicas no Castelo de Castro Marim. Relatório dos trabalhos de 1983. CLIO/ARQUEOLOGIA. Lisboa: INIC, 1, p. 245-248. 2. Arruda, A. M., 1984, Escavações arqueológicas no Castelo de Castro Marim. Relatório dos trabalhos de 1984. CLIO/ARQUEOLOGIA. Lisboa: INIC, 1, p. 249-254. 3. Arruda, A. M., 1984, Escavações arqueológicas no Castelo de Castro Marim: sua integração no contexto do turismo regional. In Actas do 3º Congresso sobre o Algarve. Montechoro: Racal Clube, p. 45-49, vol I. 4. Arruda, A. M.1986, Castelo de Castro Marim. Informação Arqueológica. Lisboa: IPPC, 8, p. 32-34. 5. Arruda, A. M., 1986, Castro Marim na Idade do Ferro. In Actas do 4º Congresso sobre o Algarve. Montechoro: Racal Clube, p. 33-38, vol. I. 6. Arruda, A. M., 1988, Nota acerca da ocupação romana/republicana do Castelo de Castro Marim. In Actas do 5º Congresso sobre o Algarve. Montechoro: Racal Clube, vol. 1. 7. Arruda, A. M., 1994, O corço, a kylix e Dionysos: Uma breve nota sobre cerâmica e símbolos. Revista da Faculdade de Letras de Lisboa. Lisboa: Faculdade de Letras de Lisboa, 15, p. 17-22, 5ª Série 8. Arruda, A. M., 1995, Panorama das importações áticas em Portugal. Huelva Arqueológica (Actas do Simpósio: Iberos y Griegos: Lecturas desde la diversidad .Ampúrias, 1991). Huelva: Diputación Provincial de Huelva, 13, 1, p. 129-154. 9. Arruda, A. M., 1996, O Castelo de Castro Marim. In De Ulisses a Viriato. O primeiro milénio a.C.. Lisboa: Ministério da Cultura, Instituto Português de Museus, Museu Nacional de Arqueologia. p. 95-100. 10. Arruda, A. M., 1997, A cerâmica ática do Castelo de Castro Marim. Lisboa: Colibri. 11. Arruda, A. M., 2000, As cerâmicas de importação do Castelo de Castro Marim no âmbito do comércio Ocidental dos séculos V a III a.C. Actas del IV Congreso Internacional de Estudios Fenícios y Púnicos. Servicio de publicaciones de la Universidad de Cádiz. Cádiz, pp. 727-735. 12. Arruda, A. M., 2001, Importações púnicas no Algarve: cronologia e significado. In Os Púnicos no Extremo Ocidente (Actas do colóquio Internacional – Outubro de 2000). Lisboa: Universidade Aberta, p. 69-98. 13. Arruda, A. M., 2003, A Idade do Ferro no Castelo de Castro Marim através das importações cerâmicas. Xelb (Actas do 1º Encontro Arqueologia do Algarve). Silves: Câmara Municipal de Silves, 4, p. 70-88. 14. Viegas, C. (2003b) – Les sigillées du sud de la Gaule à Castro Marim et Faro (Algarve – Portugal). In SFECAG, Actes du Congrés de Saint-Romain-en-Gal, p. 641-646. 15. Freitas, V. T., 2005, Observações preliminares sobre as cerâmicas de engobe vermelho do Castelo de Castro Marim. In Celestino Pérez e Jiménez Ávila (eds.) El período orientalizante. Anejos de AEspa XXXV. II, p. 911-917. 16. Arruda, A. M., Viegas, C., Bargão, P., Pereira, R., 2006, A importação de preparados de peixe em Castro Marim: da Idade do Ferro à época romana. In Actas do Simpósio internacional de Homenagem a Françoise Mayet. Setúbal. Setúbal Arqueológica, 13, p. 153-176. 17. Arruda, A. M., 2006, Castelo de Castro Marim. In Bicho, N. (dir.) A Pré-história do Algarve. Tomar: CEIPHAR. p. 193-199. 18. Viegas, C. (2006b) – A ocupação romana de Castro Marim, in Xelb 6, Actas do 3º Encontro de Arqueologia do Algarve, vol. I (Silves Outubro 2005), p. 241-260. 19. Arruda, A. M., Freitas, V. e Oliveira, C. F., 2007, Os Fenícios e a urbanização no Extremo Ocidente: o caso de Castro Marim.In Lopez Castro (ed.) Las ciudades fenicio-punicas en el Mediterráneo Occidental. p. 459-482. 20. Arruda, A. M., 2007, A Idade do Ferro no Algarve: velhos dados (e outros mais recentes) e novas histórias Xelb (Actas do 4º Encontro de Arqueologia do Arqueologia do Algarve - Percursos de Estácio da Veiga), Silves: Câmara Municipal, 7, p. 116-130. 21. Arruda, A. M., 2007, A Idade do Ferro do Sul de Portugal. Estado da Investigação, Madrider Mitteilungen. Madrid, 42, p. 114-139. 22. 2007, Cerâmicas gregas encontradas em Portugal. In Vasos Gregos em Portugal - Aquém das Colunas de Hércules. Lisboa: Museu Nacional de Arqueologia. 23. Arruda, A. M. e Pereira, C., 2008, As ocupações antigas e modernas do Forte de S. Sebastião (Castro Marim). XELB (Actas do «Encontro Arqueologia no Algarve»). Silves: Câmara Municipal de Silves. 8. 24. Arruda, A. M. e Freitas, V, 2008, O Castelo de Castro Marim durante os séculos VI e V a.n.e. In Sidereum Ana I. El río Guadiana en época postorientalizante, J, Jiménez Avila (ed), Anejos de AEspA, XLVII, Madrid: CSIC, p.429-446. 25. Lourenço, P., 2008, Os Trípodes no Castelo de Castro Marim. Promontoria, 6. 25. Arruda, A. M., Freitas, V., Oliveira, C., Sousa, E., Lourenço, P. e Carretero, P., 2009, Castro Marim: um santuário pré romano na foz do Guadiana. In Mateos, Celestino, Pizzo e Tortosa (Eds.) Santuarios, Oppida y Ciudades: Arquitectura Sacra en el origen y desarrollo urbano del Mediterráneo Occidental. (Anejos de AEspA, XLV) Mérida: Instituto de Arqueología de Mérida/CSIC. P. 79-88. 26. Sousa, E., 2009, A cerâmica de tipo Kuass no Algarve. Lisboa: Uniarq. 27. Oliveira, Carlos Filipe, 2011, O bronze Final no Castelo de Castro Marim. In Sidereum Ana II. El río Guadiana en el Bronce Final, J, Jiménez Avila (ed), Anejos de AEspA, XLVII, Madrid: CSIC. 28. Viegas, C., 2011, A ocupação romana do Algarve. Lisboa: Uniarq. 29. Arruda, A. M. 2011, Castro Marim. In Dizionario Enciclopedico della Civiltà Fenicia” (DECF). Roma: CNR. 30. Arruda, A. M., 2012, Castro Marim. In J. Alarcão; M. Barroca (Eds.) Dicionário de Arqueologia Portuguesa. Porto: Figueirinhas, p. 90. 31. Arruda, A.M.; Soares, A. M.; Freitas, V.T.; Oliveira, C.F.; Martins, J.M.; Portela, P., A cronologia relativa e absoluta da ocupação sidérica do Castelo de Castro Marim. Saguntum. Valencia, 45, p. 101-114. 32. Arruda, A. M., 2014, Imagens de Astarté: pendentes de vidro da Idade do Ferro do Castelo de Castro Marim. In P. Badenás de la Peña, P. Cabrera Bonet, M. Moreno Conde, A. Ruiz Rodriguez, C. Sanchez Fernandez, T, Tortosa Rocamora (Eds.) Per speculum in aenigmate, miradas sobre la Antiguedad (Anejos de Erytheia, 7). Madrid: Asociación Cultural Hispano Helénica. P. 273-278. 33. Pereira, C.; Arruda, A. M.; Silva, R., 2015, Os vidros romanos do Castelo de Castro Marim. ONOBA, 3, pp 25-50. 34. Pereira, C.; Arruda, A.M., 2015, O sítio arqueológico do Enterreiro, Castro Marim. Revista Portuguesa de Arqueologia, 18, p. 181-194. 35. Bargão, P.; Arruda, A. M., 2017, The Castro Marim 1 amphora type: A West Mediterranean production inspired by Carthaginian models. Cartago Studies, 8, p. 143-160. 36. Arruda, A. M.; Oliveira, C.; Freitas, V. T., 2017, Castro Marim entre indígenas, fenícios e tartésicos. In J. J. Ávila (ed): Sidereum Ana III. El río Guadina y Tartessos. Mérida: Consórcio de la Ciudad Monumental, p. 445-466. ISBN 978-84-697-4788-9 Os resultados do projecto permitiram também colaborar com a Câmara Municipal de Castro Marim na construção do espaço museológico do Castelo, tendo os investigadores do grupo de trabalho concebido os conteúdos do mesmo, bem como redigido os textos dos painéis. |