Equipa de investigadores: Ana Margarida Arruda Elisa de Sousa Cleia Detry João Pimenta Henrique Mendes Rui Soares Instituições participantes:
FCT UNIARQ Instituições apoiantes:
Câmara Municipal de Alenquer Câmara Municipal de Alpiarça Câmara Municipal de Salvaterra de Magos Câmara Municipal de Vila Franca de Xira |
A ocupação oriental e/ou orientalizante do antigo estuário do Tejo foi o objectivo central deste projecto, com o qual se pretende analisar as modalidades que presidiram à instalação de grupos humanos de matriz cultural mediterrânea nesta região.
O estudo da área revela-se particularmente importante no quadro da análise da expansão fenícia para ocidente e, também, no das transformações tecnológicas, mas também sociais, políticas e culturais, que ocorreram, nos inícios do 1º milénio a.n.e., no extremo ocidente e que estão relativamente bem documentadas quer na cultura material, quer ainda na arquitectura, técnicas construtivas, espécies animais consumidas. Nestes últimos aspectos concretos é evidente a mudança verificada em vastas áreas da Península Ibérica entre a Idade do Bronze e a do Ferro, sendo perceptível que essas alterações foram provocadas pela chegada de contingentes populacionais consideráveis provenientes de outras regiões.
Se até há poucos anos a presença e instalação de grupos humanos exógenos no estuário do Tejo era apenas conhecida na sua foz, concretamente em Lisboa e Almaraz (Almada), e ainda no seu extremo norte, precisamente na Alcáçova de Santarém, a verdade é que trabalhos recentes de prospecção ao longo das suas margens têm revelado uma excepcional concentração de povoamento com evidentes conexões com o mundo fenício ocidental. Este fenómeno precisava de ser compreendido e explicado, uma vez que se trata de uma verdadeira rede de povoamento que não tem paralelos a não ser na costa de Málaga, e que incorpora: Santa Sofia, Quinta da Marquesa II, Casal da Mó, Quinta da Carapinha e Casal do Pego, em Vila Franca de Xira, Castro do Amaral, em Alenquer, Porto do Sabugueiro, em Salvaterra de Magos, Alto dos Cacos e Eira da Alorna, Almeirim, Alto do Castelo e Cabeço da Bruxa, em Alpiarça. Por outro lado, a ocupação de alguns desses sítios remonta à Idade do Bronze, como é o caso, por exemplo, do Castro do Amaral e do Alto do Castelo, tornando-se imprescindível compreender a forma com as duas comunidades, indígenas e exógenos, interagiram e qual foi exactamente o resultado dessa interacção. Esta nova situação, que emergiu recentemente permite reavaliar as hipóteses que tem sido equacionadas para explicar a colonização fenícia do actual território português. E, por isso mesmo, era imprescindível um trabalho mais aprofundado sobre esta realidade, que documentasse espólios, arquitecturas, faunas consumidas e áreas ocupadas. Entendeu-se que apenas o estudo detalhado de cada um dos sítios identificados poderia esclarecer devidamente a multiplicidade de questões que a nova situação exibia. A área de ocupação dos vários sítios identificados, a sua sequência cronológica e as suas funcionalidades específicas eram as questões a que pretendemos responder, de forma a compreender a densidade de povoamento que tem vindo a ser detectada neste espaço geográfico. As relações destes sítios, maioritariamente implantados em cotas baixas, ou em áreas de encosta, quase sempre sem condições naturais de defesas, com os já conhecidos na colina do castelo, em Lisboa, na Alcáçova de Santarém e em Almaraz, Almada devem ser avaliadas, de forma a compreender também a situação na óptica dos próprios colonizadores. Como as populações indígenas foram seguramente mais do que observadores passivos da sua própria história, parece importante esclarecer se existem povoados mistos, distintos dos unicamente indígenas e ainda dos que se podem considerar feitorias ou colónias. Em 2013 e 2014 levaram-se a efeito trabalhos arqueológicos no Cabeço da Bruxa, em Porto do Sabugueiro e no Castro do Amaral, tendo-se procedido também ao estudo da documentação antiga, bem como à análise de materiais de escavações do século passado em depósito no Museu Nacional de Arqueologia, na Casa dos Patudos, Museus Municipais de Almeirim e de Alenquer. Em 2015, efectuaram-se sondagens e trabalhos de registo em Chões de Alpompé A continuação de trabalhos de prospecção sistemática foi igualmente realizada, uma vez que era considerada prioritária. Os dados de prospecção já recolhidos indicam que nem todos os pequenos sítios até ao momento identificados nas duas margens do antigo estuário do Tejo prolongaram a sua ocupação para os momentos mais avançados da Idade do Ferro, ao contrário dos grandes povoados da foz, Lisboa e Almaraz, nem do que se implantou no planalto da Alcáçova de Santarém. Os espólios recolhidos à superfície mostram que outros, porém, se mantiveram em actividade. Compreender essa situação tornou-se possível. Saber como a exploração de recursos das comunidades instaladas na região se desenvolveu na sequência da re-organização da economia mediterrânea que a chamada "crise" do século VI a.n.e. será também passível de descortinar. Publicações: Arruda, A. M. (2017) - A Idade do Ferro Orientalizante no Estuário do Tejo: as duas margens do mesmo rio. In Sebastian Celestino e Esther Rodriguez Território comparados: los valles del Guadalquivir, el Guadiana y el Tajo em época tartésica (Anejos del ArchEspArq, LXXX). Madrid: CSIC, 283-294. Arruda, A. M.; Sousa, E.; Pimenta, J.; Mendes, H.; Soares, R. (2014) - Alto do Castelo´s Iron Age occupation (Alpiarça, Portugal). Zephyrus, 74, p. 143-155. Arruda, A. M.; Sousa, E. (2015) – Late Bronze Age in Alcáçova de Santarém (Portugal). Trabajos de Prehistoria, 72, nº 1, p. 176-187. Arruda, A. M.; Pereira, C.; Pimenta, J.; Sousa, E.; Mendes, H.; Soares, R. (2016) – As contas de vidro do Porto do Sabugueiro (Muge, Salvaterra de Magos, Portugal). CuPAUM, 42, p. 79-101. Arruda, A. M.; Sousa, E.; Pimenta, J.; Soares, R.; Mendes, H. (2017) – Phénicians et indigènes e contact à l’embouchure du Taje, Portugal. Folia Phoenicia, 1, 243-251. Arruda, A. M.; Sousa, E.; Pimenta, J.; Soares, R.; Mendes, H. (2017) – Fenícios e indígenas em contacto na foz do Tejo. Ophiussa, 1, 79-90. Arruda, A. M.; Sousa, E.; Barradas, E.; Batata, C.; Detry, C.; Soares, R. (2017) – O Cabeço Guião (Cartaxo, Portugal). Um sítio da Idade do Ferro do vale do Tejo. In Sebastian Celestino e Esther Rodriguez Território comparados: los valles del Guadalquivir, el Guadiana y el Tajo em época tartésica (Anejos del ArchEspArq, LXXX). Madrid: CSIC, 319-361. imenta, J. P.; Mendes, H.; Arruda, A. M.; Sousa, E.; Soares, R. (2014) - Do pré-romano ao Império: a ocupação humana do Porto de Sabugueiro (Muge, Salvaterra de Magos). Magos, 1, p. 39-57. Pimenta, J.; Arruda, A.M. (2015) [2014] – Novos dados para o estudo dos Chões de Alpompé. Estudos Arqueológicos de Oeiras, 21, p. 375-392. Pimenta, J.; Sousa, E.; Amaro, C. (2015) - Sobre as mais antigas ocupações da Casa dos Bicos – Lisboa: da Olisipo pré-romana aos primeiros contactos com o mundo itálico. Revista Portuguesa de Arqueologia, Lisboa. 18, p. 161-180. Pimenta, J.; Sousa, E.; Henriques, E.; Mendes, H.; Arruda, A. M. (2018) - A Eira da Alorna (Almeirim): as ocupações pré e proto-históricas. Cira, 6. Sousa, E. (2017) - Percorrendo o Baixo Tejo: regionalização e identidades culturais na 2 metade do 1º milénio a.C. In Sebastian Celestino e Esther Rodriguez Território comparados: los valles del Guadalquivir, el Guadiana y el Tajo em época tartésica (Anejos del ArchEspArq, LXXX). Madrid: CSIC, Sousa, E. (2015) – Alcune considerazioni sulla Età del Ferro nella costa atlantica occidentale. Rivista di Studi Fenici. Roma. 43, p. 145-160. Sousa, E. (2016) – From Greek to Roman Pottery in the Far West. In Japp, S. e Kögler, P. (eds.), Traditions and Innovations. Tracking the Development of Pottery from the Late Classical to the Early Imperial Periods. Viena: Phoibos Verlag, p. 17-28. ISBN: 978-3-85161-160-1 Sousa, E.; Pimenta, J.; Mendes, H.; Arruda, A. M. (2017) – A ocupação proto-histórica do Alto dos Cacos. Cira, 5, 9-32. Sousa, E; Arruda, A. M. (2018) - A Idade do Ferro na Alcáçova de Santarém. Onoba, 6, 3-19. |
última actualização Maio 2019