Editorial
Mariana Diniz, Directora da UNIARQ
Compete ao Editorial fazer um balanço do feito, sublinhar o que de notável aconteceu e reflectir sobre o sucedido na vida da comunidade UNIARQ. Escrevo desta vez com o coração pesado pela morte da Andrea, mas escrevo com a certeza de que o Tempo que nos é dado deve, como um imperativo categórico, ser usado de forma plena. As notícias desta Newsletter são o reflexo desta convicção e é papel da UNIARQ, como unidade de investigação construída por todos, apoiar o trajecto de cada um.
E desse trajecto fazem parte actividades como o Workshop de Geoarqueologia “Archaeology rocks: do afloramento ao sítio” organizado por Patricia Jordão em colaboração com o Centro de Geologia da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa que trouxe à UNIARQ alguns dos mais conceituados geo-arqueólogos para discutirem metodologias de trabalho e processos de construção de litotecas, mas também participações em encontros científicos como a de Cleia Detry e Nelson Almeida no Encontro de Zooarqueologia Ibérica, em Barcelona onde apresentaram os primeiros dados do projeto Zoochanges, ou no Landscape Archaeology Congress, onde Miguel Almeida e Thierry Aubry organizaram uma sessão “Surveying through changing landscapes”, num encontro onde também participaram Mónica Corga e Luís Luís ou a participação de Daniel Sanchez, no Congresso Arqueológico Colombiano.
Ao mesmo tempo, os congressos que estão previstos, como a reunião na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (FLUL), do Comité Internacional do ICAZ (International Committee for Archaeozoology), nos próximos dias 30 de Junho e 4 de Julho de 2025, marcam já a agenda da UNIARQ, do próximo ano.
Também da vida dos investigadores da UNIARQ fazem parte prémios, homenagens, bolsas e distinções. Homenagem a carreiras longas como a feita pelo Museu Municipal / Câmara Municipal de Loulé a Victor S. Gonçalves nos 30 anos da edição de “Megalitismo e Metalurgia no Alto Algarve Oriental, uma aproximação integrada”, mas também as distinções a investigadores em inicio de carreira, como Patrícia Aleixo e André Texugo, dois dos candidatos a quem foram atribuídas bolsas Portugal 2023 (para 2024) do Instituto Arqueológico Alemão, em colaboração com o Património Cultural, I.P. ou a menção honrosa dos Prémios Científicos Universidade de Lisboa / Caixa Geral de Depósitos 2024, entregue a Ana Margarida Arruda. E é também como reconhecimento da qualidade do trajecto feito que vemos a nomeação de Ana Catarina Sousa para um cargo de direcção da Arqueologia nacional.
Foi também aprovada uma nova COST Innovators Grant onde participam os investigadores/as da UNIARQ, Francisco Gomes e Catarina Costeira dando continuidade a um projecto de máximo impacto em torno das indústrias têxteis e do seu papel social. E porque o papel social da Arqueologia se constrói também através da divulgação, a Caminhada Comemorativa na Gruta da Marmota, animada por Daniel van Calker e Ana Catarina Sousa, levou inúmeros visitantes às paisagens funerárias da Pré-história, do concelho de Alcanena.
E em Julho, como tem acontecido nos últimos anos, com a participação dos estudantes da Licenciatura, Mestrado e Doutoramento em Arqueologia da Faculdade de Letras, concentra-se muito do trabalho de campo desenvolvido pelos Investigadores da UNIARQ. Do conjunto vasto de sítios, das distintas cronologias e tipologias em que trabalham as equipas da UNIARQ, Alexandre Varanda faz, neste número, o relato dos trabalhos desenvolvidos no Abrigo da Senhora das Lapas (Tomar).
Quase fechar, refira-se ainda a presença da Investigadora visitante da Universidade de Salamanca, Carmen Martinez e o contributo de Susana Estrela, na Peça do mês.
Sobre a Andrea, escrevo abaixo, com um problema de expressão. As palavras não são suficientes e não parecem adequadas. O modo ultrapassa o das “relações profissionais” e da objectividade que não procuro ter. Aqui, quero em nome da UNIARQ, agradecer de forma sentida a todos aqueles que, em nome próprio ou das suas instituições, nos fizeram chegar as suas mensagens, partilhando a tristeza imensa que sentimos.
E desse trajecto fazem parte actividades como o Workshop de Geoarqueologia “Archaeology rocks: do afloramento ao sítio” organizado por Patricia Jordão em colaboração com o Centro de Geologia da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa que trouxe à UNIARQ alguns dos mais conceituados geo-arqueólogos para discutirem metodologias de trabalho e processos de construção de litotecas, mas também participações em encontros científicos como a de Cleia Detry e Nelson Almeida no Encontro de Zooarqueologia Ibérica, em Barcelona onde apresentaram os primeiros dados do projeto Zoochanges, ou no Landscape Archaeology Congress, onde Miguel Almeida e Thierry Aubry organizaram uma sessão “Surveying through changing landscapes”, num encontro onde também participaram Mónica Corga e Luís Luís ou a participação de Daniel Sanchez, no Congresso Arqueológico Colombiano.
Ao mesmo tempo, os congressos que estão previstos, como a reunião na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (FLUL), do Comité Internacional do ICAZ (International Committee for Archaeozoology), nos próximos dias 30 de Junho e 4 de Julho de 2025, marcam já a agenda da UNIARQ, do próximo ano.
Também da vida dos investigadores da UNIARQ fazem parte prémios, homenagens, bolsas e distinções. Homenagem a carreiras longas como a feita pelo Museu Municipal / Câmara Municipal de Loulé a Victor S. Gonçalves nos 30 anos da edição de “Megalitismo e Metalurgia no Alto Algarve Oriental, uma aproximação integrada”, mas também as distinções a investigadores em inicio de carreira, como Patrícia Aleixo e André Texugo, dois dos candidatos a quem foram atribuídas bolsas Portugal 2023 (para 2024) do Instituto Arqueológico Alemão, em colaboração com o Património Cultural, I.P. ou a menção honrosa dos Prémios Científicos Universidade de Lisboa / Caixa Geral de Depósitos 2024, entregue a Ana Margarida Arruda. E é também como reconhecimento da qualidade do trajecto feito que vemos a nomeação de Ana Catarina Sousa para um cargo de direcção da Arqueologia nacional.
Foi também aprovada uma nova COST Innovators Grant onde participam os investigadores/as da UNIARQ, Francisco Gomes e Catarina Costeira dando continuidade a um projecto de máximo impacto em torno das indústrias têxteis e do seu papel social. E porque o papel social da Arqueologia se constrói também através da divulgação, a Caminhada Comemorativa na Gruta da Marmota, animada por Daniel van Calker e Ana Catarina Sousa, levou inúmeros visitantes às paisagens funerárias da Pré-história, do concelho de Alcanena.
E em Julho, como tem acontecido nos últimos anos, com a participação dos estudantes da Licenciatura, Mestrado e Doutoramento em Arqueologia da Faculdade de Letras, concentra-se muito do trabalho de campo desenvolvido pelos Investigadores da UNIARQ. Do conjunto vasto de sítios, das distintas cronologias e tipologias em que trabalham as equipas da UNIARQ, Alexandre Varanda faz, neste número, o relato dos trabalhos desenvolvidos no Abrigo da Senhora das Lapas (Tomar).
Quase fechar, refira-se ainda a presença da Investigadora visitante da Universidade de Salamanca, Carmen Martinez e o contributo de Susana Estrela, na Peça do mês.
Sobre a Andrea, escrevo abaixo, com um problema de expressão. As palavras não são suficientes e não parecem adequadas. O modo ultrapassa o das “relações profissionais” e da objectividade que não procuro ter. Aqui, quero em nome da UNIARQ, agradecer de forma sentida a todos aqueles que, em nome próprio ou das suas instituições, nos fizeram chegar as suas mensagens, partilhando a tristeza imensa que sentimos.
IN MEMORIAM
Andrea Martins (1979-2024)
Andrea Martins (1979-2024)
É que hoje perdi um amigo. E coisa mais triste no mundo não há.
Andrea Martins - 1979-2024
As datas são estas.
Este foi o tempo de Andrea Martins que, vitima de uma doença voraz, nos deixou no dia 22 de Junho, no fim de uma tarde do principio do Verão. As datas e o Tempo são, como sabemos nós praticantes de uma ciência cronológica, decisivos e aqui porque o Tempo foi excessivamente breve deixa, com esta partida, o sabor ácido de um caminho cortado ao meio, mais ácido porque acaba de chegar uma personagem principal à história da Andrea.
Escrevo por isso um In Memoriam que não precisava de ser convencional, porque não é convencional este fim. Escrevo quando sinto, ao lado de uma tristeza imensa que partilho com o César e com toda a família e a rede de aço dos amigos da Andrea, uma sensação de irrealidade sobre o facto que continua a parecer um equívoco.
Mas deve, nestas circunstâncias, invocar-se o percurso da vida académica e da vida profissional dos que partiram. Conhecemos bem os textos das lápides funerárias e cito a Andrea para descrever factualmente o que foi o seu trajecto:
“Concluiu o Doutoramento em Arqueologia em 2014/09/22 pela Universidade do Algarve - Faculdade de Ciências Humanas e Sociais. Publicou 63 artigos em revistas especializadas. Possui 43 capítulos de livros e 1 livro. Coordena as publicações da Associação dos Arqueólogos Portugueses, nomeadamente da revista "Arqueologia & História" e das "Monografias AAP".
Organizou 49 eventos, destacando-se diversos congressos/workshops/sessões de arte rupestre, bem como os quatro congressos da AAP, evento que reúne dezenas de arqueólogos. Participou em 73 eventos, sendo convidada como keynote em vários congressos de arte rupestre, bem como membro de Comissões Científicas. Faz parte de comissões científicas editoriais, como da Revista Portuguesa de Arqueologia. Foi convidada como avaliadora de diversas revistas de arqueologia, bem como do Plano Nacional de Trabalhos Arqueológicos promovido pela tutela. Encontra-se a coorientar 2 teses de doutoramento e 3 dissertações de mestrado. Coorientou 3 trabalhos de conclusão de curso de licenciatura. Recebeu 2 prémios, um dos quais relativo à tese de doutoramento. Participou como Bolseira de Doutoramento e Bolseira de Pós-Doutoramento em diversos projectos, colaborando com várias instituições. Investigador em 11 projetos e Investigador responsável em 6 projetos. Atua na área de Humanidades com ênfase em Arqueologia, Arte Pré-Histórica e História de Arte, realizando também inúmeras acções no âmbito da Arqueologia Pública e Arqueologia Experimental. Nas suas atividades profissionais interagiu com numerosos colaboradores em coautorias de trabalhos científicos, tendo durante diversos anos trabalhado em arqueologia preventiva e empresarial” in https://www.cienciavitae.pt/1417-5E3B-5753
Acrescento, a UNIARQ e a Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa perdem uma Investigadora de excelência de cujo dinamismo e audácia ainda esperávamos muito nos domínios da Arte Pré-histórica, da interpelação às silenciosas personagens pintadas nos abrigos e representadas nos objectos, nos domínios da investigação sobre as sociedades do 4º e 3º milénio AC, formalizada nestes últimos anos no projecto VNSP3000, de que já não assistirá ao lançamento das Actas do Encontro Vila Nova de São Pedro 1971-2021, nos domínios da Arqueologia Pública e da Arqueologia Experimental, defensora incansável da partilha de conhecimento e do papel fundamental da recriação na discussão dos gestos e dos cenários do passado, nos domínios da ciência multidisciplinar, marcada no seu trajecto pelas parcerias com colegas de outros campos do conhecimento. A comunidade arqueológica nacional perde também um dos seus membros mais activos com uma energia e capacidade de mobilização única – vejam-se os Congressos da Associação dos Arqueólogos Portugueses de que foi uma impulsionadora decisiva. Por tudo isto, a nossa paisagem fica mais pobre, rasga-se, com a morte da Andrea, o lugar onde estava. E é por isso, e não pela listagem ou números dos seus feitos, mesmo que estes sejam impressionantes, que choramos.
Como se atribui a um poeta japonês que riscou as letras da palavra Perda gravadas numa pedra, sobre esta não é possível escrever, mas apenas sentir…
As datas são estas.
Este foi o tempo de Andrea Martins que, vitima de uma doença voraz, nos deixou no dia 22 de Junho, no fim de uma tarde do principio do Verão. As datas e o Tempo são, como sabemos nós praticantes de uma ciência cronológica, decisivos e aqui porque o Tempo foi excessivamente breve deixa, com esta partida, o sabor ácido de um caminho cortado ao meio, mais ácido porque acaba de chegar uma personagem principal à história da Andrea.
Escrevo por isso um In Memoriam que não precisava de ser convencional, porque não é convencional este fim. Escrevo quando sinto, ao lado de uma tristeza imensa que partilho com o César e com toda a família e a rede de aço dos amigos da Andrea, uma sensação de irrealidade sobre o facto que continua a parecer um equívoco.
Mas deve, nestas circunstâncias, invocar-se o percurso da vida académica e da vida profissional dos que partiram. Conhecemos bem os textos das lápides funerárias e cito a Andrea para descrever factualmente o que foi o seu trajecto:
“Concluiu o Doutoramento em Arqueologia em 2014/09/22 pela Universidade do Algarve - Faculdade de Ciências Humanas e Sociais. Publicou 63 artigos em revistas especializadas. Possui 43 capítulos de livros e 1 livro. Coordena as publicações da Associação dos Arqueólogos Portugueses, nomeadamente da revista "Arqueologia & História" e das "Monografias AAP".
Organizou 49 eventos, destacando-se diversos congressos/workshops/sessões de arte rupestre, bem como os quatro congressos da AAP, evento que reúne dezenas de arqueólogos. Participou em 73 eventos, sendo convidada como keynote em vários congressos de arte rupestre, bem como membro de Comissões Científicas. Faz parte de comissões científicas editoriais, como da Revista Portuguesa de Arqueologia. Foi convidada como avaliadora de diversas revistas de arqueologia, bem como do Plano Nacional de Trabalhos Arqueológicos promovido pela tutela. Encontra-se a coorientar 2 teses de doutoramento e 3 dissertações de mestrado. Coorientou 3 trabalhos de conclusão de curso de licenciatura. Recebeu 2 prémios, um dos quais relativo à tese de doutoramento. Participou como Bolseira de Doutoramento e Bolseira de Pós-Doutoramento em diversos projectos, colaborando com várias instituições. Investigador em 11 projetos e Investigador responsável em 6 projetos. Atua na área de Humanidades com ênfase em Arqueologia, Arte Pré-Histórica e História de Arte, realizando também inúmeras acções no âmbito da Arqueologia Pública e Arqueologia Experimental. Nas suas atividades profissionais interagiu com numerosos colaboradores em coautorias de trabalhos científicos, tendo durante diversos anos trabalhado em arqueologia preventiva e empresarial” in https://www.cienciavitae.pt/1417-5E3B-5753
Acrescento, a UNIARQ e a Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa perdem uma Investigadora de excelência de cujo dinamismo e audácia ainda esperávamos muito nos domínios da Arte Pré-histórica, da interpelação às silenciosas personagens pintadas nos abrigos e representadas nos objectos, nos domínios da investigação sobre as sociedades do 4º e 3º milénio AC, formalizada nestes últimos anos no projecto VNSP3000, de que já não assistirá ao lançamento das Actas do Encontro Vila Nova de São Pedro 1971-2021, nos domínios da Arqueologia Pública e da Arqueologia Experimental, defensora incansável da partilha de conhecimento e do papel fundamental da recriação na discussão dos gestos e dos cenários do passado, nos domínios da ciência multidisciplinar, marcada no seu trajecto pelas parcerias com colegas de outros campos do conhecimento. A comunidade arqueológica nacional perde também um dos seus membros mais activos com uma energia e capacidade de mobilização única – vejam-se os Congressos da Associação dos Arqueólogos Portugueses de que foi uma impulsionadora decisiva. Por tudo isto, a nossa paisagem fica mais pobre, rasga-se, com a morte da Andrea, o lugar onde estava. E é por isso, e não pela listagem ou números dos seus feitos, mesmo que estes sejam impressionantes, que choramos.
Como se atribui a um poeta japonês que riscou as letras da palavra Perda gravadas numa pedra, sobre esta não é possível escrever, mas apenas sentir…
Mariana Diniz
NOTÍCIAS
Workshop de Geoarqueologia “Archaeology rocks: do afloramento ao sítio”
Nos dias 20 e 21 de Junho teve lugar o workshop de geoarqueologia Archaeology rocks! Do afloramento ao sítio, organizado pela UNIARQ, em colaboração com o Centro de Geologia da Faculdade de Ciências da Universidade. Com o objectivo de apresentar, discutir e divulgar a investigação geoarqueológica em proveniência de matérias-primas líticas reuniu, pela primeira vez em Portugal, investigadores e profissionais que têm contribuído para o desenvolvimento da disciplina, numa perspectiva de enunciar as principais questões da investigação, o estado da arte, as novas metodologias, apresentando o contributo da Petroarqueologia para entender as mudanças socioculturais e a mobilidade humana.
O primeiro dia incluiu, da parte da manhã, sessões teóricas com os formadores Patrícia Jordão (UNIARQ-FLUL) e Nuno Pimentel (Centro de Geologia - FCUL), em que foram definidos métodos e aplicações da geoarqueologia em arqueologia, abordados os principais minerais e rochas utilizados pelas comunidades humanas e ainda enunciados os fundamentos principais da Petroarqueologia. Da parte da tarde, na Faculdade de Ciências, os formandos tiveram oportunidade de observar amostras de rochas sedimentares em várias escalas, com auxílio de lupa binocular e microscópio petrográfico.
O dia seguinte foi preenchido por comunicações orais, intercaladas com períodos de discussão, com destaque para a comunicação de abertura sobre o estado da arte e perspectivas em Petroarqueologia, proferida por Paul Fernandes. Os principais temas versaram os avanços metodológicos e os novos dados no estudo dos silicitos na Pré-história recente (Patrícia Jordão e Nuno Pimentel), o ponto de situação do estudo das fontes de matéria-prima siliciosa de Rio Maior e sua relação com os sítios do Paleolítico superior (Paul Thacker), mas também sobre as dificuldades, avanços e recuos dos estudos de proveniência em geral (Telmo Pereira). A exploração de quartzitos e quartzos no Paleolítico médio da Península Ibérica foi também alvo de atenção (Ana Abrunhosa), terminando com a gestão e produção de dados de rochas siliciosas (Christophe Tufféry) e sua organização em litotecas (Patrícia Jordão, Nuno Pimentel, Sofia Soares e Teresa Pena da Silva).
Para além dos temas focados de grande interesse científico para os estudos de proveniência em geral, e em particular para a petroarqueologia de silicitos, este evento conseguiu promover o encontro e o debate entre investigadores, profissionais de arqueologia, profissionais de museus, e estudantes de arqueologia e de geologia, contribuindo para preencher a necessidade de partilha e confronto interdisciplinar, realidade que é ainda pouco praticada na agenda arqueológica nacional. Desejamos que este workshop seja o primeiro de muitos. Archaeology rocks!
Para além dos temas focados de grande interesse científico para os estudos de proveniência em geral, e em particular para a petroarqueologia de silicitos, este evento conseguiu promover o encontro e o debate entre investigadores, profissionais de arqueologia, profissionais de museus, e estudantes de arqueologia e de geologia, contribuindo para preencher a necessidade de partilha e confronto interdisciplinar, realidade que é ainda pouco praticada na agenda arqueológica nacional. Desejamos que este workshop seja o primeiro de muitos. Archaeology rocks!
Patrícia Jordão e Inês Gonçalves
Fotos de Patrícia Jordão, Inês Gonçalves e Rafael Lima
Fotos de Patrícia Jordão, Inês Gonçalves e Rafael Lima
UNIARQ em missão científica na Colômbia
Embora um pouco tarde, não queria perder a oportunidade de partilhar que no passado mês de maio, no âmbito do Congresso Arqueológico Colombiano, investigadores da UNIARQ, do Centro de Alta Computação da Universidade de Leiden (LIACS) e do Centro de Evoluções de Redes Urbanas da Universidade de Aarhus (URBNET) organizaram o encontro Computational Approaches to Latin American Archaeology. A sessão contou com a participação de 11 oradores de universidades de todo o mundo, incluindo Cambridge, a Universidade do Texas e a Universidade Autónoma de Barcelona, e de um vasto público interessado nestes temas.
O encontro serviu como oportunidade para consolidar redes de colaboração científica entre investigadores interessados em articular investigação arqueológica, abordagens computacionais e cultura material no continente americano, através da apresentação do recém-criado capítulo da organização de métodos quantitativos e aplicações computacionais CAA para a América Latina e Caribe (https://caa-international.org/national-chapters/).
É importante mencionar a novidade que este tipo de proposta representa no contexto da investigação no continente americano e a importância da participação da UNIARQ neste tipo de iniciativa como ator chave, juntamente com outros centros académicos de referência mundial.
O encontro serviu como oportunidade para consolidar redes de colaboração científica entre investigadores interessados em articular investigação arqueológica, abordagens computacionais e cultura material no continente americano, através da apresentação do recém-criado capítulo da organização de métodos quantitativos e aplicações computacionais CAA para a América Latina e Caribe (https://caa-international.org/national-chapters/).
É importante mencionar a novidade que este tipo de proposta representa no contexto da investigação no continente americano e a importância da participação da UNIARQ neste tipo de iniciativa como ator chave, juntamente com outros centros académicos de referência mundial.
A visita foi também aproveitada para consultar diferentes museus arqueológicos em diferentes cidades da Colômbia a fim de alargar a base de referência sobre os objectos de adorno pessoal mineral e as questões arqueológicas relacionadas com eles no continente americano. Os resultados preliminares são muito interessantes devido à grande quantidade de materiais disponíveis que abrem vias de investigação que permitem colocar questões transculturais em escalas crono-espaciais alargadas.
Daniel Sánchez-Gómez
UNIARQ no Encontro de Zooarqueologia Ibérica
A terceira edição do Encontro de Zooarqueologia Ibérica decorreu entre os dias 17 e 19 de junho de 2024 em Barcelona, no Museu de Ciências Naturais de Barcelona e na Faculdade de Geografia e História da Universidade de Barcelona.
Reuniram-se cerca de 80 investigadores que apresentaram diversas palestras sobre o estudo das faunas de sítios arqueológicos de Espanha e Portugal. Os conjuntos analisados abrangeram desde sítios do Paleolítico até cronologias mais recentes dos períodos Medieval e Moderno. Outros temas especializados também foram abordados, como a tafonomia e a análise ictioarqueológica. Uma sessão foi dedicada à paleogenética e osteometria. Os membros integrados e colaboradores da UNIARQ participaram e contribuíram com algumas apresentações. Cleia Detry e Nelson Almeida apresentaram os primeiros dados do projeto Zoochanges, com resultados sobre as mudanças osteométricas ao longo do tempo em Portugal. Maria João Valente apresentou os resultados da sua investigação sobre o projeto de Idanha-a-Velha, e Silvia Valenzuela apresentou um estudo multi-isotópico dos equídeos do sítio da Idade do Ferro de Can Roqueta. |
Cleia Detry
Reunião do Comité Internacional do ICAZ será realizada na FLUL em 2025
Entre os dias 30 de junho e 4 de julho de 2025, a Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (FLUL) receberá a reunião do Comité Internacional do ICAZ (International Committee for Archaeozoology). Organizado pela UNIARQ (Centro de Arqueologia da Universidade de Lisboa), o evento reunirá cerca de 40 zooarqueólogos de várias partes do mundo, todos colaboradores ativos no funcionamento do ICAZ.
O ICAZ é uma organização internacional dedicada à promoção da Zooarqueologia, um campo que estuda os restos animais encontrados em contextos arqueológicos para entender a relação entre humanos e animais ao longo da história. Esta entidade apoia diversos grupos de trabalho especializados nas várias subdisciplinas da Zooarqueologia e realiza uma conferência geral a cada quatro anos.
A última reunião do Comité Internacional do ICAZ ocorreu em 2022 em Estocolmo, onde foram discutidas e decididas várias questões importantes para a organização. A expectativa é que a reunião de 2025 continue esse trabalho, fortalecendo a cooperação internacional e ajudando a avançar na investigação e práticas dentro do campo da Zooarqueologia.
Além das reuniões do comité, o evento em Lisboa contará com algumas conferências abertas ao público, apresentadas por alguns dos melhores zooarqueólogos do mundo. Estas conferências proporcionarão uma oportunidade para estudantes, investigadores e entusiastas da arqueologia e zoologia aprofundarem seus conhecimentos e atualizarem com as últimas descobertas e tendências na área.
O ICAZ é uma organização internacional dedicada à promoção da Zooarqueologia, um campo que estuda os restos animais encontrados em contextos arqueológicos para entender a relação entre humanos e animais ao longo da história. Esta entidade apoia diversos grupos de trabalho especializados nas várias subdisciplinas da Zooarqueologia e realiza uma conferência geral a cada quatro anos.
A última reunião do Comité Internacional do ICAZ ocorreu em 2022 em Estocolmo, onde foram discutidas e decididas várias questões importantes para a organização. A expectativa é que a reunião de 2025 continue esse trabalho, fortalecendo a cooperação internacional e ajudando a avançar na investigação e práticas dentro do campo da Zooarqueologia.
Além das reuniões do comité, o evento em Lisboa contará com algumas conferências abertas ao público, apresentadas por alguns dos melhores zooarqueólogos do mundo. Estas conferências proporcionarão uma oportunidade para estudantes, investigadores e entusiastas da arqueologia e zoologia aprofundarem seus conhecimentos e atualizarem com as últimas descobertas e tendências na área.
Cleia Detry
Câmara Municipal de Loulé homenageia Victor S. Gonçalves
O Museu Municipal / Câmara Municipal de Loulé apresentou no dia 18 de Maio, a obra “Fogo e Morte. Sobre o extremo Sul no 3º milénio a.n.e. Estudos oferecidos a Victor S. Gonçalves nos 30 anos da edição de Megalitismo e Metalurgia no Alto Algarve Oriental, uma aproximação integrada”. Integrado na comemoração do Dia Internacional de Museus, o lançamento contou com a participação de diversos representantes institucionais, bem como de vários autores, antigos alunos e de amigos que se associaram à homenagem a Victor S. Gonçalves, evocando o seu trabalho pioneiro na Serra Algarvia e no 3º milénio a.n.e.
Em 2019, a Câmara Municipal de Loulé organizou um colóquio internacional de homenagem a Victor S. Gonçalves por ocasião dos 30 anos da edição da sua tese de doutoramento e também da incorporação no Museu Municipal do espólio recolhido no Cerro do Castelo de Corte João Marques (1977-1979). A obra agora publicada reuniu os contributos dos vários investigadores de Portugal, Espanha, França e Alemanha que participaram no referido Colóquio. A obra Fogo e Morte. Sobre o extremo Sul no 3º milénio a.n.e. encontra-se organizada em três partes. Na parte 1 (Abertura), inserem-se textos de apresentação de âmbito institucional e científico, incluindo um prefácio de Jean Guilaine, professor do College de France, doutor Honoris Causa pela Universidade de Lisboa e orientador do doutoramento de Victor S. Gonçalves. A parte 2 (Olhando para trás e em frente) integra 10 capítulos que posicionam a obra Megalitismo e Metalurgia no Alto Algarve Oriental numa perspectiva de investigação actual constituindo uma verdadeira síntese do Algarve no 3º milénio a.n.e.: história das pesquisas; sagrado e as placas de xisto gravadas; a cerâmica e o faseamento do Calcolítico; Alcalar e os novos dados para o Algarve; as fortificações calcolíticas; o Megalitismo; a tecelagem; a metalurgia do cobre; as industrias macrolíticas e a circulação de matérias exóticas. Finalmente a parte 3 (Algumas imagens de um Alto Algarve Oriental perdido) apresenta um álbum de 49 fotografias da autoria de Victor S. Gonçalves que retratam a Arqueologia, a Paisagem e as Gentes de Corte João Marques e o Ameixial entre 1977 e 1979. Constituindo o volume 01 da colecção Terra & Tempo – Estudos do Museu Municipal de Loulé, esta extensa obra abre novas perspectivas científicas e de memória, reflectindo a importância do legado científico de Victor S. Gonçalves. |
Ana Catarina Sousa
UNIARQ no LAC’24 – Landscape Archaeology Congress
Durante o mês de Junho de 2024, entre os dias 10 e 14, decorreu em Alcalá de Henares (Madrid, Espanha) o congresso LAC’24 – Landscape Archaeology Congress, onde investigadores da UNIARQ organizaram uma sessão e apresentaram diversas comunicações.
Na sessão #2: “Surveying through changing landscapes”, que decorreu no dia 12 de Junho, organizada por Miguel Almeida e Thierry Aubry, 8 comunicações oriundas de 5 países europeus contribuíram para uma profícua discussão acerca da problemática da prospecção arqueológica no quadro das nossas paisagens actuais, em rápida transformação, nem sempre controlada, por efeito do crescente impacto antrópico e das alterações climáticas. Para além da discussão directa acerca do tema proposto, durante a qual esteve em destaque, entre outros, o projecto de Arqueologia em curso no Vale do Côa, com a participação empenhada de vários investigadores da UNIARQ, esta sessão foi particularmente relevante pela discussão científica gerada, da qual resultaram também diversas novas pistas de investigação e potenciais colaborações internacionais. Porém, a participação da UNIARQ no LAC’24 esteve longe de restringir-se à organização desta sessão. No total, a equipa UNIARQ, representada por Mónica Corga, Miguel Almeida, Thierry Aubry e Luís Luís, apresentou ou participou em quatro comunicações neste LAC’24: |
- Em “’They came bearing gifts’: the ‘exotic’ objects from Horta do João da Moura's tholoi tombs (Ferreira do Alentejo, Portugal)” (Mónica Corga, Miguel Almeida, Thierry Aubry e Sílvia Aires), a investigadora bolseira de doutoramento Mónica Corga partiu dos resultados da sua tese de mestrado (“Os Vivos depois da Morte: uma abordagem à gestão mortuária dos Tholoi 1 e 2 da Horta do João da Moura 1 (Ferreira do Alentejo)”) para reflectir acerca da estrutura das sociedades do 3º milénio a.C., discutindo as questões da relação dos vivos com os mortos, através da análise espacial e contextual dos tholoi da Horta do João da Moura, no perímetro do povoado do Porto Torrão, mas talvez até sobretudo das relações dos vivos com os outros vivos, nomeadamente através dos indícios de uma análise detalhada dos materiais alóctones (sílex, conchas, ouro e cinábrio) para compreender as relações extra-regionais no quadro de um território dominado por outros “mega-sites” correlativos do Porto Torrão;
- Em “Archaeological surveying isn’t skin deep” (Miguel Almeida, Thierry Aubry, Luís Luís, Marcelo Silvestre, André Ferreira e Nuno Ramos), a equipa de investigação do Vale do Côa, dirigida por Thierry Aubry, investigador integrado da UNIARQ, usa a vasta experiência de investigação regional no território entre os rios Côa e Águeda e o caso exemplar do novo sítio de Picões dos Grilos 4 (Figueira de Castelo Rodrigo, Guarda) para questionar as condições de eficácia das actuais metodologias de prospecção arqueológica para detectar sítios de época paleolítica, que não produzem qualquer expressão topográfica e podem encontrar-se enterrados a metros de profundidade e, por vezes, sem vestígios de superfície;
- Em “Archaeological surveying isn’t skin deep” (Miguel Almeida, Thierry Aubry, Luís Luís, Marcelo Silvestre, André Ferreira e Nuno Ramos), a equipa de investigação do Vale do Côa, dirigida por Thierry Aubry, investigador integrado da UNIARQ, usa a vasta experiência de investigação regional no território entre os rios Côa e Águeda e o caso exemplar do novo sítio de Picões dos Grilos 4 (Figueira de Castelo Rodrigo, Guarda) para questionar as condições de eficácia das actuais metodologias de prospecção arqueológica para detectar sítios de época paleolítica, que não produzem qualquer expressão topográfica e podem encontrar-se enterrados a metros de profundidade e, por vezes, sem vestígios de superfície;
- A comunicação “A Roman spa under time: archaeological research on topographical changes, reoccupation and the increasing anthropization around a mineral spring (Termas de São Vicente, Penafiel, Portugal)” (Silvia González Soutelo, André Ferreira, Nuno Ramos, Teresa Soeiro, Manuel Sá e Miguel Almeida) apresentou um exemplo do potencial informativo das novas tecnologias de detecção remota para a investigação arqueológica, através de um caso de estudo nas Termas romanas de São Vicente (Penafiel) que combinou de forma inovadora técnicas de modelização digital 3d e prospecção geofísica por georradar para produzir informação acerca da estratificação subjacente e estruturas enterradas sob a fracção conhecida daquele edifício romano; e
- Na comunicação “Origins of siliceous rocks exploited at Peña Capón (central Spain) and its relevance for understanding large social networks in Southwest Europe during the Solutrean”, uma vasta equipa de investigação (Manuel Alcaraz-Castaño, Marta Sánchez de la Torre, Xavier Mangado, Samuel Castillo-Jiménez, Thierry Aubry, Luis Luque, Felipe Cuartero, Richard Hewitt, Miguel Almeida, Javier Alcolea-González, Bernard Gratuze), em que se incluem os investigadores UNIARQ Thierry Aubry e Miguel Almeida, apresentou os mais recentes resultados de um projecto seminal de investigação acerca da ocupação paleolítica do sítio arqueológico de Peña Capón que documenta a importância da presença dos grupos humanos no centro da Meseta Ibérica durante o Último Máximo Glaciar e revela provas objectivas da existência de redes sociais a longa distância, incluindo o transporte / troca de matérias-primas siliciosas provenientes do território actualmente francês, para lá dos Pirenéus.
- Na comunicação “Origins of siliceous rocks exploited at Peña Capón (central Spain) and its relevance for understanding large social networks in Southwest Europe during the Solutrean”, uma vasta equipa de investigação (Manuel Alcaraz-Castaño, Marta Sánchez de la Torre, Xavier Mangado, Samuel Castillo-Jiménez, Thierry Aubry, Luis Luque, Felipe Cuartero, Richard Hewitt, Miguel Almeida, Javier Alcolea-González, Bernard Gratuze), em que se incluem os investigadores UNIARQ Thierry Aubry e Miguel Almeida, apresentou os mais recentes resultados de um projecto seminal de investigação acerca da ocupação paleolítica do sítio arqueológico de Peña Capón que documenta a importância da presença dos grupos humanos no centro da Meseta Ibérica durante o Último Máximo Glaciar e revela provas objectivas da existência de redes sociais a longa distância, incluindo o transporte / troca de matérias-primas siliciosas provenientes do território actualmente francês, para lá dos Pirenéus.
Mónica Corga
Aprovada nova COST Innovators Grant com participação de investigadores/as da UNIARQ
Foram anunciados em Junho os resultados da convocatória da edição de 2024 das COST Innovators Grant (CIG). Estas bolsas, atribuídas pela COST – European Cooperation in Science and Technology, estão reservadas a equipas saídas de Ações COST bem-sucedidas próximas do seu término, e destinam-se a apoiar projetos orientados para o desenvolvimento de aplicações práticas do conhecimento gerado por essas Ações, maximizando o seu impacto económico e/ou social.
Nesse contexto, a Ação COST EuroWeb – Europe through Textiles (CA19131) submeteu uma candidatura orientada para a constituição do HERITEX-HUB, um hub de conhecimento destinado a colocar o conhecimento acumulado através do estudo do Património Têxtil nas suas múltiplas vertentes ao serviço da transição verde na indústria dos têxteis e da moda. Pretende-se criar uma estrutura capaz de representar a comunidade que se dedica ao estudo desse Património junto de outros agentes, económicos, mas também políticos, criar ferramentas para o desenvolvimento de investigação aplicada e para a transferência do conhecimento, e implementar um serviço de mentoria a assessoria para criativos e empreendedores interessados em explorar a inspiração do Passado na reinvenção destes sectores económicos críticos.
Esta proposta foi agora aprovada, o que permitirá previsivelmente que o início das atividades deste novo projeto venha a ter lugar a partir do próximo mês de novembro. A CIG, que manterá a sede da Ação COST prévia, na Universidade de Varsóvia, será desta feita liderada por Francisco B. Gomes, investigador da UNIARQ, coadjuvado pela vice-líder Paula Nabais (LAQV-Requimte; Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa). A representação portuguesa nesta CIG contará ainda com a também investigadora da UNIARQ, Catarina Costeira, bem como com Joana Sequeira (Lab2PT; Universidade do Minho). A estes/as investigadores/as nacionais somam-se 17 outros membros de outros onze países, que durante um ano desenvolverão um exigente plano de trabalhos com vista à planificação desta nova entidade de referência europeia na investigação sobre o Património Têxtil.
Nesse contexto, a Ação COST EuroWeb – Europe through Textiles (CA19131) submeteu uma candidatura orientada para a constituição do HERITEX-HUB, um hub de conhecimento destinado a colocar o conhecimento acumulado através do estudo do Património Têxtil nas suas múltiplas vertentes ao serviço da transição verde na indústria dos têxteis e da moda. Pretende-se criar uma estrutura capaz de representar a comunidade que se dedica ao estudo desse Património junto de outros agentes, económicos, mas também políticos, criar ferramentas para o desenvolvimento de investigação aplicada e para a transferência do conhecimento, e implementar um serviço de mentoria a assessoria para criativos e empreendedores interessados em explorar a inspiração do Passado na reinvenção destes sectores económicos críticos.
Esta proposta foi agora aprovada, o que permitirá previsivelmente que o início das atividades deste novo projeto venha a ter lugar a partir do próximo mês de novembro. A CIG, que manterá a sede da Ação COST prévia, na Universidade de Varsóvia, será desta feita liderada por Francisco B. Gomes, investigador da UNIARQ, coadjuvado pela vice-líder Paula Nabais (LAQV-Requimte; Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa). A representação portuguesa nesta CIG contará ainda com a também investigadora da UNIARQ, Catarina Costeira, bem como com Joana Sequeira (Lab2PT; Universidade do Minho). A estes/as investigadores/as nacionais somam-se 17 outros membros de outros onze países, que durante um ano desenvolverão um exigente plano de trabalhos com vista à planificação desta nova entidade de referência europeia na investigação sobre o Património Têxtil.
Francisco B. Gomes
Ana Catarina Sousa nomeada vice-presidente do Conselho Directivo do Património Cultural, I.P.
No dia 5 de Junho, foi nomeada Ana Catarina Sousa, Vice-Presidente do Conselho Directivo do Património Cultural, IP. Esta investigadora da UNIARQ e Professora da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa assume de novo um cargo dirigente na Arqueologia portuguesa, depois de ter exercido entre 2012 e 2013, funções como Subdirectora-Geral da Direcção-Geral do Património Cultural. Com uma obra sobejamente conhecida, no plano autárquico e académico, Ana Catarina Sousa assume funções num momento em que a reestruturação profunda de que a actividade arqueológica foi recentemente objecto está ainda em consolidação. O desafio é imenso, porque o papel do Património e da Arqueologia no mundo contemporâneo exige reflexão e medidas urgentes para que efectivamente estes contribuam para a construção das sociedades do conhecimento que ambicionamos, mas a competência e a entrega que marcam o trabalho de Ana Catarina Sousa parecem o garante de uma missão bem desempenhada. A UNIARQ, como já expressámos noutra ocasião, deixa aqui os seus votos dos maiores sucessos a Ana Catarina Sousa.
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Mariana Diniz
Nova Menção Honrosa atribuída a Ana Margarida Arruda nos Prémios Científicos UL/CGD
No passado dia 25 de Junho, realizou-se a Cerimónia de Entrega dos Prémios Científicos Universidade de Lisboa / Caixa Geral de Depósitos 2024.
Esta prestigiada iniciativa, que teve a sua primeira edição em 2016, visa reconhecer e celebrar a excelência na investigação científica que é realizada por docentes e investigadores da Universidade de Lisboa, abrangendo diversas áreas do conhecimento. Valoriza, de forma particular, publicações em revistas e livros de elevado impacto no meio científico e académico.
Na edição deste ano, Ana Margarida Arruda foi distinguida, pela quinta vez, com a Menção Honrosa na Área Científica de História e Filosofia (incluindo História e Filosofia das Ciências). Este reconhecimento destaca a significativa contribuição desta investigadora da UNIARQ para o avanço do conhecimento e reforça a importância da sua obra no panorama científico e académico, quer a nível nacional, quer internacional.
Esta prestigiada iniciativa, que teve a sua primeira edição em 2016, visa reconhecer e celebrar a excelência na investigação científica que é realizada por docentes e investigadores da Universidade de Lisboa, abrangendo diversas áreas do conhecimento. Valoriza, de forma particular, publicações em revistas e livros de elevado impacto no meio científico e académico.
Na edição deste ano, Ana Margarida Arruda foi distinguida, pela quinta vez, com a Menção Honrosa na Área Científica de História e Filosofia (incluindo História e Filosofia das Ciências). Este reconhecimento destaca a significativa contribuição desta investigadora da UNIARQ para o avanço do conhecimento e reforça a importância da sua obra no panorama científico e académico, quer a nível nacional, quer internacional.
Elisa de Sousa
Bolsas Portugal 2023 do IAA / PC, IP
Os investigadores da UNIARQ e bolseiros de doutoramento da Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) Patrícia Aleixo e André Texugo foram dois dos candidatos a quem foram atribuídas duas das três bolsas Portugal 2023 (para 2024) do Instituto Arqueológico Alemão, em colaboração com o Património Cultural, I.P.
Patrícia Aleixo concorreu com o tema: “O consumo e a gestão dos recursos animais durante o período romano: uma perspetiva segundo as fontes clássicas.” No âmbito desta bolsa, a doutoranda fará uma estadia durante o mês de Setembro no Departamento de Madrid do Instituto Arqueológico Alemão, onde irá realizar um levantamento bibliográfico exaustivo da informação existente nos textos clássicos relativa às práticas de criação e manejo dos animais, nomeadamente sobre a sua alimentação, reprodução e cuidados veterinários, assim como sobre a seleção de raças e o cruzamento seletivo para melhorar características desejáveis nos animais, e a importância económica destes, não só para consumo próprio, mas também para fins comerciais. A partir deste estudo será elaborada uma síntese sobre o tema que constituirá uma componente de maior relevo para o projeto de investigação doutoral em desenvolvimento. Este centra-se no consumo e na gestão dos recursos animais no território de Conimbriga entre a Idade do Ferro e a Antiguidade Tardia (séculos II a.C. a VIII d.C.). André Texugo encontra-se na fase final da sua dissertação de doutoramento, cujo acolhimento é repartido pela UNIARQ/FLUL e pelo CEG/IGOT, subordinada ao tema "Detecção remota na prospecção arqueológica: os sítios fortificados do 3º milénio a.C. na região Oeste (Estremadura, Portugal)", que pretende, através d recurso às geotecnologias, nomeadamente a drones, tecnologia LiDAR e a câmaras multiespectrais, ultrapassar as contingências do terreno, com o potencial de incrementar substancialmente o conhecimento do 3º milénio a.C. da Estremadura portuguesa. |
Patrícia Aleixo e André Pereira
Caminhada comemorativa na Gruta da Marmota (Alcanena)
Decorreu, no passado dia 2 de Junho, uma actividade de divulgação evocativa da comemoração dos 50 anos desde as primeiras campanhas arqueológicas realizadas na Gruta da Marmota (Alcanena, Santarém) dirigidas por Victor S. Gonçalves, entre 1973 e 1974. A iniciativa, enquadrada na semana verde do município de Alcanena, contou com a participação de cerca de 50 pessoas e consistiu numa caminhada interpretativa, num percurso com aproximadamente 6 km, que ligou duas grutas naturais utilizadas como necrópole durante o 4º e o 3º milénios a.n.e. – a Lapa da Galinha e a Gruta da Marmota. O convite para a realização de um enquadramento arqueológico in loco foi estendido na sequência do pedido de colaboração que o município estendeu já em 2023 a Victor S. Gonçalves, com o intuito de valorizar o importante passado pré-histórico daquele território e assinalar a efeméride que foram aqueles trabalhos de escavação realizados por uma equipa do então Instituto de Arqueologia da Faculdade de Letras de Lisboa. Esta relação tem-se demonstrado particularmente profícua, contribuindo para o estudo das realidades e evidências então intervencionadas e em que têm colaborado activamente outros investigadores da UNIARQ: Ana Catarina Sousa e Daniel van Calker, cujo projecto de doutoramento tem como caso de estudo as grutas-necrópole situadas no território de Alcanena.
Em ambos os extremos desta caminhada foram apresentados alguns dados mais significativos da investigação que tem tratado dois dos contextos arqueológicos mais relevantes para a realidade funerária neolítica e calcolítica da bordadura oriental do Maciço Calcário Estremenho, focando-se essencialmente em aspetos relacionados com a cronologia, o espólio votivo e, evidentemente, as práticas funerárias destas comunidades pré-históricas. No caso da gruta da Marmota, verificou-se também a possibilidade de tecer algumas considerações relativamente à importante ocupação do Bronze Final, aliás já destacada aquando da primeira publicação dedicada ao sítio (Gonçalves, 1973).
A presença tão considerável da comunidade local provou-se, então, mutuamente benéfica, garantindo uma aproximação entre os projetos científicos atualmente em curso e a população que de alguma forma se revê e demonstra interesse neste património e herança cultural que pretende conhecer melhor. |
Referências:
Gonçalves, V. S. (1973). “Uma nova necrópole de Idade do Bronze: A Gruta da Marmota”. O Arqueólogo Português, 6 (3ª Série), pp. 213-218.
Gonçalves, V. S. (1973). “Uma nova necrópole de Idade do Bronze: A Gruta da Marmota”. O Arqueólogo Português, 6 (3ª Série), pp. 213-218.
Daniel van Calker e Ana Catarina Sousa
INVESTIGAÇÃO NA UNIARQ
ESPECIAL CAMPANHAS DE VERÃO 2024
Iniciaram-se, em Maio, as campanhas de investigação de campo e de laboratório dos investigadores da UNIARQ, que se prolongarão até ao mês de Setembro.
CAMPO:
1. Orca da Lapa do Lobo (Nelas). Neolítico. Projecto NeoMEGA3: Antigas Sociedades Camponesas e Megalitismo na Plataforma do Mondego: Investigação, Recuperação, Integração e Valorização Patrimonial. José Quintã Ventura e Luís Laceiras
2. Orca 1 de Troviscos (Carregal do Sal). Neolítico Final e Bronze Antigo. Projecto NeoMEGA3: Antigas Sociedades Camponesas e Megalitismo na Plataforma do Mondego: Investigação, Recuperação, Integração e Valorização Patrimonial. José Quintã Ventura e Telma O. Ribeiro
3. Monumento da Víbora (Carregal do Sal). Bronze Final. Projecto NeoMEGA3: Antigas Sociedades Camponesas e Megalitismo na Plataforma do Mondego: Investigação, Recuperação, Integração e Valorização Patrimonial. José Quintã Ventura e Telma O. Ribeiro
4. Abrigo da Gruta da Buraca da Moira (Leiria). Neolítico Médio - Calcolítico Médio Necrópole; Paleolítico Superior. Projecto EcoPLis - Ecónonos Plistocénicos na Bacia do Rio Lis. Telmo Pereira
5. Abrigo da Senhora das Lapas (Tomar). Projecto ARQEVO2. Alexandre Varanda, Luis Gomes, João Zilhão e Filipa Rodrigues
6. Gruta do Caldeirão (Tomar). Paleolítico Médio/Superior. Projecto ARQEVO: Arqueologia e Evolução dos Primeiros Humanos na Fachada Atlântica da Península Ibérica. Luis Gomes, João Zilhão e Alexandre Varanda
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7. Gruta do Aderno (Torres Novas). Paleolítico Inferior. Projecto Arqueologia e evolução dos primeiros humanos na fachada atlântica da Península Ibérica (ARQEVO 2). Henrique Matias e João Zilhão
8. Villa Cardílio (Torres Novas). Romano (I-V d.C.). Projecto Villa Cardílio: a romanização da bacia hidrográfica do Almonda. Victor Filipe
9. Concheiro - Fortim do Baleal 1 (Peniche). Mesolítico / Neolítico. Projecto Espaço e Tempo. Paleoambiente e Povoamento do 6º ao 3º milénio a.n.e na região de Peniche. Luis Rendeiro
10. Vila Nova de São Pedro (Azambuja). Calcolítico. Projecto Vila Nova de São Pedro (VNSP3000). Mariana Diniz, Andrea Martins e César Neves
11. Cidade Romana de Ammaia (Marvão). Romano. Projecto Anfiteatro da cidade Romana de Ammaia. Carlos Fabião e Amílcar Guerra
12. Tapada de Mafra. Vários. Projecto PATM: Paisagens Antigas da Tapada de Mafra. Ana Catarina Sousa e Marta Miranda
15. Castelo Velho de Safara (Moura). Romano Republicano, Idade do Ferro, Calcolítico. Projecto FOMEGA II. Mariana Nabais e Rui Monge Soares
LABORATÓRIO:
1. Orca da Lapa do Lobo (Nelas). Neolítico. Projecto NeoMEGA3: Antigas Sociedades Camponesas e Megalitismo na Plataforma do Mondego: Investigação, Recuperação, Integração e Valorização Patrimonial. José Quintã Ventura e Luís Laceiras
2. Orca 1 de Troviscos (Carregal do Sal). Neolítico Final e Bronze Antigo. Projecto NeoMEGA3: Antigas Sociedades Camponesas e Megalitismo na Plataforma do Mondego: Investigação, Recuperação, Integração e Valorização Patrimonial. José Quintã Ventura e Telma O. Ribeiro
3. Monumento da Víbora (Carregal do Sal). Bronze Final. Projecto NeoMEGA3: Antigas Sociedades Camponesas e Megalitismo na Plataforma do Mondego: Investigação, Recuperação, Integração e Valorização Patrimonial. José Quintã Ventura e Telma O. Ribeiro
5. Abrigo da Senhora das Lapas (Tomar). Projecto ARQEVO2. Alexandre Varanda, Luis Gomes, João Zilhão e Filipa Rodrigues
4. Abrigo da Gruta da Buraca da Moira (Leiria). Neolítico Médio - Calcolítico Médio Necrópole; Paleolítico Superior. Projecto EcoPLis - Ecónonos Plistocénicos na Bacia do Rio Lis. Telmo Pereira
7. Gruta do Aderno (Torres Novas). Paleolítico Inferior. Projecto Arqueologia e evolução dos primeiros humanos na fachada atlântica da Península Ibérica (ARQEVO 2). Henrique Matias e João Zilhão
8. Villa Cardílio (Torres Novas). Romano (I-V d.C.). Projecto Villa Cardílio: a romanização da bacia hidrográfica do Almonda. Victor Filipe
9. Concheiro - Fortim do Baleal 1 (Peniche). Mesolítico / Neolítico. Projecto Espaço e Tempo. Paleoambiente e Povoamento do 6º ao 3º milénio a.n.e na região de Peniche. Luis Rendeiro
11. Cidade Romana de Ammaia (Marvão). Romano. Projecto Anfiteatro da cidade Romana de Ammaia. Carlos Fabião e Amílcar Guerra
13. Laboratório das Colecções da Arqueologia Colonial Portuguesa / FLUL. Paleolítico. Projecto Colecções da Arqueologia Colonial Portuguesa. João Pedro Cunha-Ribeiro e Paula Nascimento;
14. Práticas de laboratório em Arqueologia - Idade do Ferro e período romano: estudo de materiais faunísticos e cerâmicos / FLUL. Idade do Ferro e Período Romano. Elisa de Sousa, Cleia Detry e Francisco B. Gomes
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Abrigo da Senhora das Lapas (Tomar)
Em Junho do presente ano continuaram os trabalhos no Abrigo da Senhora das Lapas, localizado no vale do Rio Nabão, a poucas centenas de metros da capela da Senhora das Lapas, na União de Freguesias de Além da Ribeira e Pedreira, concelho de Tomar. Trata-se de um abrigo sob rocha com ocupações pré-históricas já reconhecidas do fim do Paleolítico Superior (Magdalenense e Solutrense).
A identificação do sítio ocorreu em Outubro de 2021, por membros da equipa do projecto ARQEVO, à data a desenvolver trabalhos na Gruta do Caldeirão (CNS 1315), situada ~1.5 km a jusante. No talude da estrada de acesso ao complexo a equipa identificou materiais líticos e pequenos fragmentos de fauna associados a um depósito de abrigo parcialmente exposto pelos trabalhos de alargamento de um estradão de terra batida. No Verão de 2022 iniciaram-se os primeiros trabalhos de escavação no sítio, consistindo numa sondagem que confirmou a existência de níveis arqueológicos com uma abundante indústria lítica associada a restos de fauna, assim como alguns elementos de adorno. Desde então, alargou-se para sul a área de escavação, tendo aumentado muito a amostra de materiais arqueológicos. Nesta última campanha, atingiu-se a cota dos níveis da sondagem de 2022 em toda a área intervencionada. Em próximas campanhas pretende-se aprofundar a área de escavação, com o objectivo de reconhecer a sequência estratigráfica completa do abrigo. Os trabalhos arqueológicos no Abrigo da Senhora das Lapas contaram com a participação dos alunos da Licenciatura em Arqueologia da Faculdade de Letras de Lisboa, no âmbito da cadeira Trabalho de Campo e Laboratório, e de membros da associação PaleoAlmonda. A escavação foi apoiada pela UNIARQ e pela Associação PaleoAlmonda. |
Alexandre Varanda
INVESTIGADOR VISITANTE NA UNIARQ
Carmen Martínez (Universidade de Salamanca)
Esteve connosco, no mês de Junho, Carmen Martinez, Professora Auxiliar do Departamento de Pré-história, História Antiga e Arqueologia da Universidade de Salamanca. A sua estadia teve como objetivo o estudo de amostras dos níveis do Paleolítico Superior da Gruta do Caldeirão. Este estudo, coordenado por João João Zilhão e Luís Gomes, conta também com a colaboração de Ernestina Badal, da Universidade de Valência, e tem como objectivo recuperar restos arquebotânicos usados na reconstituição da paisagem em torno da gruta e na identificação das estratégias usadas pelos grupos de caçadores-recolectores na exploração dos recursos vegetais.
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PEÇA DO MÊS
Tampa (MC231)
Proveniência: Povoado fortificado de Mesas do Castelinho (Almodôvar)
Cronologia: século II a.C.
Direção dos trabalhos: Carlos Fabião e Amílcar Guerra (campanha 6/1994)
Descrição: Tampa ao torno, de perfil troncocónico com 23 cm de altura. Pega saliente/esvasada e lábio marcado, com 10 cm de diâmetro externo. Base com lábio simples e ligeiramente reentrante, com 39 cm de diâmetro externo . Pasta de tons vermelhos médios, semi-compacta, com frequentes elementos não plásticos de média dimensão. Superfície interna rugosa, superfície externa do corpo brunida, superfície externa da pega alisada. Cozedura oxidante. Alguns fragmentos apresentam na superfície interna sinais de fogo/fuligem.
Comentário: O contexto de identificação desta tampa assinala o reaproveitamento de materiais cerâmicos, situação frequente no registo arqueológico de Mesas do Castelinho. Quebrada e inutilizada para o seu fim primário, os seus fragmentos vão servir de base de uma lareira do Ambiente XII, no chamado Complexo de Construções do Século I a.C. (Sector A1), que se sobrepôs às ocupações do povoado fortificado da Idade do Ferro. Este contexto pode ser datado de entre os finais do século II a.C. e os meados do século seguinte, de acordo com os materiais recolhidos no piso associado.
A primeira referência à peça descreve a circunstância feliz da sua reconstituição total e a sua adscrição morfológica enquanto ampla bacia com pequeno pé, sem paralelo conhecido.
Existem, todavia, bons paralelos, no chamado mundo ibérico, que a definem enquanto tampa: Tipo P16 nos estudos da necrópole de El Cigarralejo (Múrcia), do século IV a.C.; variantes A e B do Grupo Formal 14 da seriação cerâmica da bacia do vale do Guadalquivir, em contextos funerários dos séculos IV e III a.C.
São igualmente evidentes as semelhanças formais com as grandes tampas do povoado de Cerro de la Cruz (Córdova), num conjunto datado do século II a.C., ou com a tampa recuperada de um contexto do 1º quartel do século II a.C. da cidade de Kelin (Valência).
Deve ainda referir-se, pela cronologia coeva de Mesas do Castelino, o povoado de Castrejón de Capote (Badajoz), de onde é conhecido um fragmento de tampa, manual, e com matriz impressa, da última ocupação da Zona A, dos meados do século II a.C.
A fisionomia troncocónica e as dimensões generosas da tampa de Mesas do Castelinho indiciam diferentes possibilidades funcionais: aposta num recipiente de armazenagem ou de cozinha - neste caso, de que os denominados tajines serão herdeiros, ou usada sobre uma superfície plana (mesa, tábua ou bancada), para proteger alimentos sólidos, ao estilo de uma redoma.
Para aferição da primeira funcionalidade, conta-se com a tampa com aplicação coroplástica associada à chamada urna de orelhetas perfuradas do depósito secundário de Garvão (Ourique), presente num conjunto de materiais depositado entre os finais do século III a.C. e a 1ª metade do século seguinte; com outra associação similar, numa urna da necrópole do Galeado (Odemira), datável da II Idade do Ferro, ou com as tampas que parcialmente definem o Grupo Formal 3 da seriação da cerâmica ibérica do Guadalquivir, em particular a variante 3-A-II, conhecida através de exemplares datáveis do século V - meados do século IV a.C.
Já as duas outras possíveis funcionalidades, aplicáveis a contextos habitacionais, parecem ser de mais difícil verificação no registo arqueológico, mas aqui se deixa a hipótese.
Local de depósito: Museu Arqueológico e Etnográfico Manuel Vicente Guerreiro (Santa Clara-a-Nova, Almodôvar)
Cronologia: século II a.C.
Direção dos trabalhos: Carlos Fabião e Amílcar Guerra (campanha 6/1994)
Descrição: Tampa ao torno, de perfil troncocónico com 23 cm de altura. Pega saliente/esvasada e lábio marcado, com 10 cm de diâmetro externo. Base com lábio simples e ligeiramente reentrante, com 39 cm de diâmetro externo . Pasta de tons vermelhos médios, semi-compacta, com frequentes elementos não plásticos de média dimensão. Superfície interna rugosa, superfície externa do corpo brunida, superfície externa da pega alisada. Cozedura oxidante. Alguns fragmentos apresentam na superfície interna sinais de fogo/fuligem.
Comentário: O contexto de identificação desta tampa assinala o reaproveitamento de materiais cerâmicos, situação frequente no registo arqueológico de Mesas do Castelinho. Quebrada e inutilizada para o seu fim primário, os seus fragmentos vão servir de base de uma lareira do Ambiente XII, no chamado Complexo de Construções do Século I a.C. (Sector A1), que se sobrepôs às ocupações do povoado fortificado da Idade do Ferro. Este contexto pode ser datado de entre os finais do século II a.C. e os meados do século seguinte, de acordo com os materiais recolhidos no piso associado.
A primeira referência à peça descreve a circunstância feliz da sua reconstituição total e a sua adscrição morfológica enquanto ampla bacia com pequeno pé, sem paralelo conhecido.
Existem, todavia, bons paralelos, no chamado mundo ibérico, que a definem enquanto tampa: Tipo P16 nos estudos da necrópole de El Cigarralejo (Múrcia), do século IV a.C.; variantes A e B do Grupo Formal 14 da seriação cerâmica da bacia do vale do Guadalquivir, em contextos funerários dos séculos IV e III a.C.
São igualmente evidentes as semelhanças formais com as grandes tampas do povoado de Cerro de la Cruz (Córdova), num conjunto datado do século II a.C., ou com a tampa recuperada de um contexto do 1º quartel do século II a.C. da cidade de Kelin (Valência).
Deve ainda referir-se, pela cronologia coeva de Mesas do Castelino, o povoado de Castrejón de Capote (Badajoz), de onde é conhecido um fragmento de tampa, manual, e com matriz impressa, da última ocupação da Zona A, dos meados do século II a.C.
A fisionomia troncocónica e as dimensões generosas da tampa de Mesas do Castelinho indiciam diferentes possibilidades funcionais: aposta num recipiente de armazenagem ou de cozinha - neste caso, de que os denominados tajines serão herdeiros, ou usada sobre uma superfície plana (mesa, tábua ou bancada), para proteger alimentos sólidos, ao estilo de uma redoma.
Para aferição da primeira funcionalidade, conta-se com a tampa com aplicação coroplástica associada à chamada urna de orelhetas perfuradas do depósito secundário de Garvão (Ourique), presente num conjunto de materiais depositado entre os finais do século III a.C. e a 1ª metade do século seguinte; com outra associação similar, numa urna da necrópole do Galeado (Odemira), datável da II Idade do Ferro, ou com as tampas que parcialmente definem o Grupo Formal 3 da seriação da cerâmica ibérica do Guadalquivir, em particular a variante 3-A-II, conhecida através de exemplares datáveis do século V - meados do século IV a.C.
Já as duas outras possíveis funcionalidades, aplicáveis a contextos habitacionais, parecem ser de mais difícil verificação no registo arqueológico, mas aqui se deixa a hipótese.
Local de depósito: Museu Arqueológico e Etnográfico Manuel Vicente Guerreiro (Santa Clara-a-Nova, Almodôvar)
Bibliografia:
BERROCAL-RANGEL, L. (1994) - El Altar Prerromano de Castrejón de Capote. Ensayo Etno-arqueológico de un Ritual Céltico en el Suroeste Peninsular. Madrid: Universidad Autónoma de Madrid.
CUADRADO DÍAZ, E; QUESADA SANZ, F. (1989) - La cerámica ibérica fina de “El Cigarralejo” (Murcia). Estudio de cronología. Verdolay. Murcia. 1, pp. 49-115.
FABIÃO, C. (1998) - O Mundo Indígena e a sua Romanização na Área Céltica do Território Hoje Português. Dissertação de Doutoramento. Lisboa: Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. 3 Vols. [http://hdl.handle.net/10451/44209].
GOMES, F. B. (2012) - Aspectos do Sagrado na Colonização Fenícia. Contextos de Culto de Influência Oriental na Idade do Ferro do Sul de Portugal (séculos VIII-III a.n.e.). Lisboa. (Cadernos da UNIARQ 8).
GOMES, F. B. (2019) - El mundo funerario prerromano en el Sur de Portugal (siglos V/IV – II a.n.e.): (pocos) datos y (algunos) problemas. Archivo Español de Arqueología. Madrid. 92, pp. 43-62.
MANSO, E; RODERO, A; MADRIGAL, A. (2000) - Materiales cerâmicos procedentes de una necrópolis ibérica de Mengíbar (Jaén). Boletín del Museo Arqueológico Nacional. Madrid. XVIII: 1 e 2; pp. 97- 144.
MATA PARREÑO, C. (2019): De Kelin a Los Villares (Caudete de las Fuentes, Valencia). Nacimiento y Decadencia de una Ciudad Íbera. Valencia (Serie de Trabajos Varios 122).
PEREIRA SIESO, J. (1988) - La cerámica ibérica de la Cuenca del Guadalquivir. I. Propuesta de clasificación. Trabajos de Prehistoria. Madrid. 45, pp.143-173.
VAQUERIZO GIL, D; QUESADA SANZ, F; MURILLO REDONDO, J. F. (1992) - La cerámica ibérica del “Cerro de la Cruz” (Almedinilla, Córdoba). Departamentos O, P, Ñ. Anales de Arqueología Cordobesa. Córdoba, 3, p. 51-112.
BERROCAL-RANGEL, L. (1994) - El Altar Prerromano de Castrejón de Capote. Ensayo Etno-arqueológico de un Ritual Céltico en el Suroeste Peninsular. Madrid: Universidad Autónoma de Madrid.
CUADRADO DÍAZ, E; QUESADA SANZ, F. (1989) - La cerámica ibérica fina de “El Cigarralejo” (Murcia). Estudio de cronología. Verdolay. Murcia. 1, pp. 49-115.
FABIÃO, C. (1998) - O Mundo Indígena e a sua Romanização na Área Céltica do Território Hoje Português. Dissertação de Doutoramento. Lisboa: Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. 3 Vols. [http://hdl.handle.net/10451/44209].
GOMES, F. B. (2012) - Aspectos do Sagrado na Colonização Fenícia. Contextos de Culto de Influência Oriental na Idade do Ferro do Sul de Portugal (séculos VIII-III a.n.e.). Lisboa. (Cadernos da UNIARQ 8).
GOMES, F. B. (2019) - El mundo funerario prerromano en el Sur de Portugal (siglos V/IV – II a.n.e.): (pocos) datos y (algunos) problemas. Archivo Español de Arqueología. Madrid. 92, pp. 43-62.
MANSO, E; RODERO, A; MADRIGAL, A. (2000) - Materiales cerâmicos procedentes de una necrópolis ibérica de Mengíbar (Jaén). Boletín del Museo Arqueológico Nacional. Madrid. XVIII: 1 e 2; pp. 97- 144.
MATA PARREÑO, C. (2019): De Kelin a Los Villares (Caudete de las Fuentes, Valencia). Nacimiento y Decadencia de una Ciudad Íbera. Valencia (Serie de Trabajos Varios 122).
PEREIRA SIESO, J. (1988) - La cerámica ibérica de la Cuenca del Guadalquivir. I. Propuesta de clasificación. Trabajos de Prehistoria. Madrid. 45, pp.143-173.
VAQUERIZO GIL, D; QUESADA SANZ, F; MURILLO REDONDO, J. F. (1992) - La cerámica ibérica del “Cerro de la Cruz” (Almedinilla, Córdoba). Departamentos O, P, Ñ. Anales de Arqueología Cordobesa. Córdoba, 3, p. 51-112.
Susana Estrela
AGENDA
Participações em Congressos, Colóquios e Conferências
Inauguração da exposição "Ossos do nosso ofício, animais da nossa história. O Lagar Velho contado pelos seus bichos"
As paisagens pré-históricas do Vale do Lapedo Conversa com Ana Cristina Araújo, Ana Maria Costa, Joan Daura e Montserrat Sanz 1 de Junho | Leiria XXe Congrès International d'Archéologie Classique "Archéologie des Espaces Vécus"
Participação de Alexandre Gonçalves, Catarina Costeira, Francisco B. Gomes, Jesús Acero Pérez e Macarena Bustamante Álvarez 3 a 9 de Junho | Paris (França) "Migration and the Making of the Ancient Greek World" (MIGMAG)
«Resilience, Adaptation, and Transformation in Western Europe during the Late Bronze Age and Early Iron Age: the case study of the Tagus Estuary» Comunicação de Elisa de Sousa 6 a 8 de Junho | Viena (Áustria) |
"LAC 2024: Landscape Archaeology Conference"
Participação de Luis Luis, Miguel Almeida, Mónica Corga e Thierry Aubry 10 a 14 de Junho | Alcalá de Henares (Espanha) "EZI 2024: Iberian Zooarchaeology Meeting"
Participação de Cleia Detry, Maria João Valente, Nelson J. Almeida e Silvia Valenzuela 17 a 19 de Junho | Barcelona (Espanha) "ARCHAEOLOGY ROCKS! Workshop de Geoarqueologia - do afloramento ao sítio"
Participação de Patrícia Jordão, Telmo Pereira e Thierry Aubry 21 e 22 de Junho | Faculdade de Letras de Lisboa |
Publicações em Acesso Aberto no Repositório da UL
Fabião, C. (2023). QSR, marca sobre ânfora romana do tipo Dressel 14 lusitana encontrada em Belém (território de Felicitas Iulia Olisipo). In Amílcar Guerra, Hermenegildo Fernandes, Nuno Simões Rodrigues, & Martim Aires Horta (Eds.), Os meus olhos viram todas estas coisas: livro de homenagem a José Augusto Ramos. Tomo I (pp. 733-748). Lisboa: Centro de História da Universidade de Lisboa.
hdl.handle.net/10451/64939 |
Fabião, C., Viegas, C., Almeida, R. R. d., & Pinto, I. V. (2024). Rios da Lusitânia Meridional como meios de difusão de importações cerâmicas. In J.C. Sáenz Preciado, M.ª C. Aguarod Otal, & C. Heras Martínez (Eds.), Los cursos fluviales en Hispania, vías de comercio cerámico. Actas del VI Congreso Internacional de la SECAH - EX OFFICINA HISPANA (Pátio de la Infanta - Zaragoza, del 30 de marzo al 2 de abril de 2022) (pp. 165-192). Saragoça: Universidad de Zaragoza.
hdl.handle.net/10451/64940 |
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