Editorial
Mariana Diniz, Directora da UNIARQ
Desfilam os cortejos de Carnaval, no dia em que na Europa se anunciou uma (nova) corrida ao armamento no que, de forma ardente, se espera seja só a aplicação da desafortunada máxima latina Si vis pacem, para bellum.
No mês de Março, que começa cheio de figuras carnavalescas, celebra-se também, no próximo dia 8, o Dia Internacional da Mulher, dia que a UNIARQ tem assinalado nas suas redes, lembrando o papel das mulheres, do Presente e do Passado, na construção da História em todas as suas dimensões. Que relação pode haver entre um estado de pré-guerra e o Dia Internacional da Mulher? Aparentemente nenhuma, mas a considerar utopias retrospectivas de alguns pensadores de Oitocentos, com impacto imenso no que virá a ser o século XX, a relação seria total e a guerra o resultado da afirmação das sociedades patriarcais. Como dirá Gordon Childe, referindo-se ao pensamento de Engels que por sua vez se refere ao pensamento de Bachofen, as mais antigas sociedades, de tipo matriarcal, vivendo numa etapa de absoluto comunismo primitivo, desconheciam entre outros males, o da guerra.
Como outras utopias, esta, mesmo que retrospectiva, é de difícil demonstração e o Dia da Mulher que de deve assinalar em todos os ambientes, não é, no entanto, uma afirmação cândida de que tivesse o poder permanecido (?) nas mãos das mulheres, e o mundo seria ao invés um lugar de harmonia e equilíbrio. O Dia da Mulher deve ser destacado nos Centros de Investigação, enquanto parte integrante de uma Ciência que se faz numa perspectiva humanista, a única que pode ser hoje defendida e que foi enfaticamente invocada pelos membros do Instituto Arqueológico Alemão, a cujo 71º aniversário, a UNIARQ e a Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa se juntaram numa homenagem a Theodor Hauschild, realizada por Carlos Fabião. São os valores humanistas que nos fazem acreditar numa Europa de futuras gerações mais qualificadas e o dinamismo dos jovens estudantes da Doutoramento da UNIARQ – FLUL, aqui apresentado sob a forma de participação em ciclos de conferências como o Arqueologia em Construção, de provas intermédias e de prémios recebidos, são estes valores que presidem às redes que se estabelecem entre distintas instituições, materializados em protocolos de cooperação, e em encontros que lidam com os desafios das humanidades digitais e dos patrimónios em risco. A Ciência não é sempre, mas é em muitas circunstâncias Humanista. É desse legado que as mulheres, diria antes, que todos os humanos, se devem reclamar.
Feliz Dia da Mulher.
No mês de Março, que começa cheio de figuras carnavalescas, celebra-se também, no próximo dia 8, o Dia Internacional da Mulher, dia que a UNIARQ tem assinalado nas suas redes, lembrando o papel das mulheres, do Presente e do Passado, na construção da História em todas as suas dimensões. Que relação pode haver entre um estado de pré-guerra e o Dia Internacional da Mulher? Aparentemente nenhuma, mas a considerar utopias retrospectivas de alguns pensadores de Oitocentos, com impacto imenso no que virá a ser o século XX, a relação seria total e a guerra o resultado da afirmação das sociedades patriarcais. Como dirá Gordon Childe, referindo-se ao pensamento de Engels que por sua vez se refere ao pensamento de Bachofen, as mais antigas sociedades, de tipo matriarcal, vivendo numa etapa de absoluto comunismo primitivo, desconheciam entre outros males, o da guerra.
Como outras utopias, esta, mesmo que retrospectiva, é de difícil demonstração e o Dia da Mulher que de deve assinalar em todos os ambientes, não é, no entanto, uma afirmação cândida de que tivesse o poder permanecido (?) nas mãos das mulheres, e o mundo seria ao invés um lugar de harmonia e equilíbrio. O Dia da Mulher deve ser destacado nos Centros de Investigação, enquanto parte integrante de uma Ciência que se faz numa perspectiva humanista, a única que pode ser hoje defendida e que foi enfaticamente invocada pelos membros do Instituto Arqueológico Alemão, a cujo 71º aniversário, a UNIARQ e a Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa se juntaram numa homenagem a Theodor Hauschild, realizada por Carlos Fabião. São os valores humanistas que nos fazem acreditar numa Europa de futuras gerações mais qualificadas e o dinamismo dos jovens estudantes da Doutoramento da UNIARQ – FLUL, aqui apresentado sob a forma de participação em ciclos de conferências como o Arqueologia em Construção, de provas intermédias e de prémios recebidos, são estes valores que presidem às redes que se estabelecem entre distintas instituições, materializados em protocolos de cooperação, e em encontros que lidam com os desafios das humanidades digitais e dos patrimónios em risco. A Ciência não é sempre, mas é em muitas circunstâncias Humanista. É desse legado que as mulheres, diria antes, que todos os humanos, se devem reclamar.
Feliz Dia da Mulher.
NOTÍCIAS
I Jornadas de Humanidades Digitais na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa

No âmbito das I Jornadas de Humanidades Digitais na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, que decorreram entre os dias 5 e 7 de fevereiro, dois investigadores da UNIARQ, Daniel Carvalho e Matilde Seca, participaram com comunicações com os títulos “Do Passado ao Futuro: Aplicações de Aprendizagem Automática em Arqueologia” e “Organização e Representação da Informação em Centros de Investigação: O Centro de Arqueologia da Universidade de Lisboa (UNIARQ)”, respetivamente.
A primeira apresentação versou sobre os temas da Aprendizagem Automática, um ramo da Inteligência Artificial, e como esta pode ser utilizada para a resolução de problemas arqueológicos. Desde classificar a prever tipologias de artefactos, a agrupar imagens de sítios, temas ou elementos visuais de investigações distintas, a versatilidade destas metodologias foi explicada, sempre numa lógica didática, no âmbito do que as Humanidades Digitais podem oferecer à Arqueologia e vice-versa. O debate que se seguiu tomou vários contornos, nomeadamente no que diz respeito às necessidades educativas que sustentam estas Aplicações de Aprendizagem automática, tal como as suas potencialidades e consequências, especialmente a nível ético.
A primeira apresentação versou sobre os temas da Aprendizagem Automática, um ramo da Inteligência Artificial, e como esta pode ser utilizada para a resolução de problemas arqueológicos. Desde classificar a prever tipologias de artefactos, a agrupar imagens de sítios, temas ou elementos visuais de investigações distintas, a versatilidade destas metodologias foi explicada, sempre numa lógica didática, no âmbito do que as Humanidades Digitais podem oferecer à Arqueologia e vice-versa. O debate que se seguiu tomou vários contornos, nomeadamente no que diz respeito às necessidades educativas que sustentam estas Aplicações de Aprendizagem automática, tal como as suas potencialidades e consequências, especialmente a nível ético.

A segunda apresentação teve como objetivo dar a conhecer a relação que a Arqueologia pode ter com a Ciência da Informação, mais especificamente a arquivística, mas também a relação destas duas disciplinas com as Humanidades Digitais, que têm vindo a ser cada vez mais valiosas no sentido de dinamizar o modo como a informação é representada digitalmente. Para além disso, teve também como propósito demonstrar o trabalho que tem sido realizado na UNIARQ no âmbito da organização física e digital do arquivo de documentação proveniente dos projetos arqueológicos desenvolvidos pelo próprio Centro. Neste sentido, pretende-se que o sistema de organização de informação digital que está a ser preparado seja desenvolvido incorporando ferramentas que são utilizadas nas Humanidades Digitais.
Daniel Carvalho e Matilde Seca
Isto é Arqueologia! 2024-2025

Como é habitual nesta época, os projectos de investigação em curso na UNIARQ foram alvo de uma apresentação, aos estudantes dos diferentes ciclos de Arqueologia da Faculdade de Letras de Lisboa (FLUL), mas aberta a todos os públicos, no passado dia 7 de Fevereiro.
Num anfiteatro composto, o evento iniciou-se com a abertura de Mariana Diniz, Directora da UNIARQ, e Catarina Viegas, responsável pelo 1.º ciclo de estudos de Arqueologia da FLUL.
De seguida, João Pedro Cunha-Ribeiro e Carlos Ferreira apresentaram o seu projecto relacionado com o Acheulense em Portugal, antes de Daniela de Matos e Paula Nascimento falarem sobre a catalogação e inventariação das colecções de arqueologia colonial portuguesa, tema a que se dedicam.
A arqueologia plistocénica do Vale do Nabão foi o assunto da comunicação de Luis Gomes e Alexandre Varanda, investigadores do Projecto ARQEVO2.
Patrícia Jordão, bolseira pós-doc da UNIARQ e responsável pelo projecto MOBlades, abordou, juntamente com César Neves, Sofia Soares, António Morgado-Rodríguez e António Valera, o tema da mobilidade humana na Pré-história recente do sudoeste da Península Ibérica apresentando, também o projecto ARQUEOLit, litoteca em construção na UNIARQ.
Após uma pausa, a equipa do projecto VNSP3000 (Mariana Diniz, César Neves e José Morais Arnaud), falaram sobre o seu projecto, seguindo-se José Manuel Ventura, que fez o ponto da situação do Megalitismo e do Bronze Antigo na plataforma do Médio Mondego, antes de um período de debate.
Num anfiteatro composto, o evento iniciou-se com a abertura de Mariana Diniz, Directora da UNIARQ, e Catarina Viegas, responsável pelo 1.º ciclo de estudos de Arqueologia da FLUL.
De seguida, João Pedro Cunha-Ribeiro e Carlos Ferreira apresentaram o seu projecto relacionado com o Acheulense em Portugal, antes de Daniela de Matos e Paula Nascimento falarem sobre a catalogação e inventariação das colecções de arqueologia colonial portuguesa, tema a que se dedicam.
A arqueologia plistocénica do Vale do Nabão foi o assunto da comunicação de Luis Gomes e Alexandre Varanda, investigadores do Projecto ARQEVO2.
Patrícia Jordão, bolseira pós-doc da UNIARQ e responsável pelo projecto MOBlades, abordou, juntamente com César Neves, Sofia Soares, António Morgado-Rodríguez e António Valera, o tema da mobilidade humana na Pré-história recente do sudoeste da Península Ibérica apresentando, também o projecto ARQUEOLit, litoteca em construção na UNIARQ.
Após uma pausa, a equipa do projecto VNSP3000 (Mariana Diniz, César Neves e José Morais Arnaud), falaram sobre o seu projecto, seguindo-se José Manuel Ventura, que fez o ponto da situação do Megalitismo e do Bronze Antigo na plataforma do Médio Mondego, antes de um período de debate.

Da parte da tarde, os trabalhos iniciaram-se com a intervenção de Carlos Fabião sobre o Anfiteatro de Ammaia, precedendo Catarina Viegas e Rui Roberto de Almeida, que se debruçaram sobre a cerâmica comum de Loulé Velho.
Antes de nova pausa, ainda houve tempo para ouvir a equipa do projecto PATM (Paisagens Antigas da Tapada de Mafra), com participação de Ana Catarina Sousa, Marta Miranda, Leandro Borges, Carlos Costa, Maria da Conceição Freitas e Ana Costa, sobre a Carta Arqueológica daquele espaço, bem como Cleia Detry e Nelson J. Almeida, investigadores responsáveis do projecto Zoochanges, acerca dos trabalhos envolvendo osteometria e análise de isótopos no Calcolítico Final do Sudoeste Ibérico.
O último bloco da jornada incluiu as apresentações, por Francisco B. Gomes e Catarina Costeira, das novidades na investigação sobre Arqueologia e Património Têxteis, no âmbito dos projectos em curso TransTexTec e HERITEX-HUB; do andamento dos trabalhos em Villa Cardílio por parte de Victor Filipe; de Javier Herrera Rando, acerca de La Cabañeta, em Zaragoza, projecto em que participa; e de Rui Gomes Coelho sobre o projecto ECOFREEDOM, que dirige.
Ainda antes do debate final e encerramento dos trabalhos, houve a oportunidade de ouvir Cristina Gameiro, Sérgio Gomes e Daniel Carvalho, sobre o projecto 50layers e a Arqueologia Pré-histórica depois de Abril de 1974.
A edição de 2024-2025 do Isto é Arqueologia!, jornada que se revela, anualmente, de extrema importância na divulgação dos projectos em curso e seu desenvolvimento, foi essencial não só para os alunos dos diferentes ciclos ensino de Arqueologia da FLUL, mas também, quer para os investigadores da UNIARQ, quer para todos os interessados.
Prevemos, no primeiro trimestre de 2026, regressar com a iniciativa, apresentando, desta forma, actualização da investigação que vamos fazendo ao longo de 2025.
Antes de nova pausa, ainda houve tempo para ouvir a equipa do projecto PATM (Paisagens Antigas da Tapada de Mafra), com participação de Ana Catarina Sousa, Marta Miranda, Leandro Borges, Carlos Costa, Maria da Conceição Freitas e Ana Costa, sobre a Carta Arqueológica daquele espaço, bem como Cleia Detry e Nelson J. Almeida, investigadores responsáveis do projecto Zoochanges, acerca dos trabalhos envolvendo osteometria e análise de isótopos no Calcolítico Final do Sudoeste Ibérico.
O último bloco da jornada incluiu as apresentações, por Francisco B. Gomes e Catarina Costeira, das novidades na investigação sobre Arqueologia e Património Têxteis, no âmbito dos projectos em curso TransTexTec e HERITEX-HUB; do andamento dos trabalhos em Villa Cardílio por parte de Victor Filipe; de Javier Herrera Rando, acerca de La Cabañeta, em Zaragoza, projecto em que participa; e de Rui Gomes Coelho sobre o projecto ECOFREEDOM, que dirige.
Ainda antes do debate final e encerramento dos trabalhos, houve a oportunidade de ouvir Cristina Gameiro, Sérgio Gomes e Daniel Carvalho, sobre o projecto 50layers e a Arqueologia Pré-histórica depois de Abril de 1974.
A edição de 2024-2025 do Isto é Arqueologia!, jornada que se revela, anualmente, de extrema importância na divulgação dos projectos em curso e seu desenvolvimento, foi essencial não só para os alunos dos diferentes ciclos ensino de Arqueologia da FLUL, mas também, quer para os investigadores da UNIARQ, quer para todos os interessados.
Prevemos, no primeiro trimestre de 2026, regressar com a iniciativa, apresentando, desta forma, actualização da investigação que vamos fazendo ao longo de 2025.
André Pereira
Arranque da 10.ª Edição de "Arqueologia em Construção"
Fevereiro foi o mês de arranque de mais uma edição do ciclo de conferências "Arqueologia em Construção", o décimo.
No dia 27, Carlos Ferreira, bolseiro FCT/UNIARQ, apresentou o desenvolvimento do seu projecto de doutoramento "O tecno-complexo Acheulense no ocidente europeu: caracterização e variabilidade das indústrias acheulenses da vertente atlântica da Península Ibérica", a uma audiência composta por alunos e investigadores de arqueologia. É objectivo destes encontros divulgar a investigação que é desenvolvida pelos membros da UNIARQ, nas diferentes cronologias e temáticas, fomentando o debate em torno de dados, metodologias e quadros interpretativos, em construção. |
O ciclo será retomado em Março e Maio (depois em Outubro) de 2025.
Já no próximo dia 27 de Março, será a vez de Matilde Seca, bolseira de Doutoramento UNIARQ, falar sobre a organização e representação da informação no Centro de Arqueologia, e Ana Rosa, bolseira de Doutoramento FCT/UNIARQ, apresentar o seu projecto sobre os tipos, formas e usos dos instrumentos de pedra polida do povoado calcolítico de Vila Nova de São Pedro. Mais informação sobre este ciclo em www.uniarq.net/arqueologiaconstrucao10.html. |
André Pereira
Provas Intermédias e de Qualificação dos Trabalhos de Doutoramento em Arqueologia e Pré-História
O percurso dos doutorandos da UNIARQ na Faculdade de Letras de Lisboa inclui, desde há cerca de ano e meio, a realização de uma prova intermédia de qualificação, essencial para a avaliação do progresso dos trabalhos de doutoramento em curso.
Fevereiro foi o mês em que Íris Dias (dia 6), Sara Simões (dia 12) e Daniel van Calker (dia 14) prestaram provas sobre os seus trabalhos, no âmbito dos seus projectos de doutoramento, respectivamente sobre o "Quotidiano e Comensalidade em Época Romana: A Cerâmica Comum de Monte Molião (Lagos, Portugal)", sobre "Topographies Of The Slave Trade Along The Cacheu River, Guinea-Bissau, 16th - 19th Centuries", e sobre "As práticas funerárias neolíticas e calcolíticas em grutas naturais da Estremadura portuguesa".
Os três candidatos, que são igualmente bolseiros de doutoramento FCT, obtiveram reacções bastante positivas ao trabalho já desenvolvido, tendo também recolhido, por parte do jurí, avaliações e sugestões que certamente serão bastante úteis para a recta final do percurso do seu doutoramento.
Fevereiro foi o mês em que Íris Dias (dia 6), Sara Simões (dia 12) e Daniel van Calker (dia 14) prestaram provas sobre os seus trabalhos, no âmbito dos seus projectos de doutoramento, respectivamente sobre o "Quotidiano e Comensalidade em Época Romana: A Cerâmica Comum de Monte Molião (Lagos, Portugal)", sobre "Topographies Of The Slave Trade Along The Cacheu River, Guinea-Bissau, 16th - 19th Centuries", e sobre "As práticas funerárias neolíticas e calcolíticas em grutas naturais da Estremadura portuguesa".
Os três candidatos, que são igualmente bolseiros de doutoramento FCT, obtiveram reacções bastante positivas ao trabalho já desenvolvido, tendo também recolhido, por parte do jurí, avaliações e sugestões que certamente serão bastante úteis para a recta final do percurso do seu doutoramento.
André Pereira
Celebração em Lisboa do septuagésimo primeiro aniversário da Delegação do Deutsches Archaeologisches Institut para a Península Ibérica na Faculdade de Letras de Lisboa
A Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa foi o palco escolhido pela direcção de Madrid do Instituto Arqueológico Alemão para a celebração do seu septuagésimo primeiro aniversário, no passado dia 24 de Fevereiro, numa iniciativa que incluiu o envolvimento do Património Cultural, I.P., organismo da administração central que tutela o património e actividade arqueológica.
Para além da recepção dos novos membros correspondentes do Instituto, o acto serviu também para evocar e celebrar a figura de Theodor Hauschild que dirigiu a Delegação portuguesa do Instituto entre 1980 e 1994, tendo marcantes intervenções em diversos monumentos portugueses, como o edifício de culto de Milreu, o teatro romano de Lisboa e o templo romano de Évora. |
Carlos Fabião
O MNA "volta" a casa
António Carvalho, Director do Museu Nacional de Arqueologia (Museus e Monumentos de Portugal, E. P. E.) e um dos investigadores mais antigos da UNIARQ apresentou, no dia 13 de Fevereiro, no Anfiteatro III da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, a primeira conferência de um ciclo denominado «O MNA "volta" a casa», subordinada ao tema "O Museu Nacional de Arqueologia a caminho da obra do PRR".
O processo de renovação deste Museu, parceiro estratégico da UNIARQ, de importância fulcral para a Arqueologia Portuguesa, foi o assunto central de uma conferência que contou, ainda, com a participação de Mariana Diniz, Directora da UNIARQ e Clara Moura Soares, Sub-directora do ARTIS-Insituto de História da Arte. |
André Pereira
Colóquio Internacional: Arquitectura Romana entre passado e presente (Mérida)

No dia 11 de fevereiro decorreu em Mérida o Colóquio Internacional. Arquitectura Romana entre passado e presente. Reuniu investigadores de diferentes especialidades, arqueólogos e arquitectos, expondo e debatendo questões relacionadas com o estudo das arquitecturas antigas da Lusitânia, na sua diversidade, mas também sobre a sua conservação, apresentação e musealização. Uma visão de conjunto esteve a cargo de Thomas Schattner, autor do mais recente volume publicado na série Studia Lusitana (vol. 10), Arquitectura romana en Lusitania. Breve esbozo de edifícios sacros y públicos, que foi apresentado no âmbito do Colóquio.
Carlos Fabião, investigador da UNIARQ apresentou a comunicação Una vision de conjunto de la arquitectura romana en Lusitania: Modelos, Personas y Materiales.
Carlos Fabião, investigador da UNIARQ apresentou a comunicação Una vision de conjunto de la arquitectura romana en Lusitania: Modelos, Personas y Materiales.
Carlos Fabião
A Cidade de Ammaia escolhida como tema na IV série do ciclo “Grandes Descubrimientos en Arqueología” do Museo Nacional de Arte Romano (Mérida)
Uma palestra sobre passado, presente e futuro da cidade romana de Ammaia, Marvão, foi apresentada no âmbito da IV série do ciclo “Grandes Descubrimientos en Arqueologia", uma iniciativa do Museo Nacional de Arte Romano, de Mérida.
Nesse âmbito, houve oportunidade de apresentar uma perspectiva geral desta cidade romana de há muito conhecida e identificada, por José Leite de Vasconcelos, mas somente verdadeiramente investigada nas últimas décadas, primeiro por equipas da Universidade de Évora e por um Consórcio Internacional (RadioPast Project). As fortes analogias entre a urbe marvanense e a Capital da Lusitânia justificam os trabalhos conjuntos de investigação desenvolvidos pelo Centro de Arqueologia da Universidade de Lisboa (UNIARQ) e Museo Nacional de Arte Romano com a Fundação Cidade de Ammaia, entidade que gere este sítio arqueológico. |
Carlos Fabião
Workshop bilateral (Portugal-Noruega) sobre património arqueológico costeiro em risco
Com o objectivo de trocar experiências entre especialistas dos dois países e de chamar a atenção para a fragilidade do património arqueológico costeiro, mas também de reflectir sobre os termos de referência para os instrumentos de gestão territorial e de avaliação de impacto ambiental, realizou-se no Auditório do Centro Nacional de Arqueologia Náutica e Subaquática (CNANS), no passado dia 19, um workshop bilateral Portugal-Noruega.
O encontro teve a participação de vários investigadores dos dois países, entre os quais alguns membros da UNIARQ: Ana Catarina Sousa como moderadora da primeira sessão; Pedro Barros, em co-autoria com Miguel Martins e José Bettencourt, com "Climate change and underwater cultural heritage: the Portuguese case"; Ana Cristina Araújo, com "Coastal and estuarine shell middens: threatened pasts"; Luis Rendeiro, Ana Ramos Pereira e Ana Catarina Sousa, com "Sea level rise as driver for the destruction of archaeological remains: Peniche as a case study"; Joaquina Soares, com "The prehistoric site of Ponta da Passadeira (Tagus estuary) and the problem of safeguarding coastal archaeological heritage"; Ana Maria Costa, em co-autoria com Miguel Inácio e Maria da Conceição Freitas, com "Estuaries, human occupation and climate change: the past, the present and projections for the future in the Sado Estuary"; e Catarina Viegas e Rui Roberto de Almeida, com "Loulé Velho. Biography of an “almost” disappeared Roman site". Esta jornada foi fundamental para discutir um conjunto de princípios orientadores que visarão a sustentabilidade do património cultural em zonas costeiras. |
André Pereira
Reabertura da Biblioteca de Arqueologia da Ajuda
A Biblioteca de Arqueologia da Ajuda, resultante de um contrato de comodato do acervo da Delegação Portuguesa do Instituto Arqueológico Alemão (DAI) foi solenemente reaberta ao público na presença da Senhora Embaixadora da República Federal da Alemanha, Julia Monar, do Director do Instituto Arqueológico Alemão para a Península Ibérica, Paul Sheding, e do Presidente e Vice-Presidente do Património Cultural IP, entidade que tutela a Biblioteca.
No acto inaugural, Thomas Schattner, o último Director da Delegação de Lisboa do DAI proferiu uma breve, mas densa, intervenção, evocando o Humboltiano conceito de Bildung e explicando como este conceito, que traduz a ideia de uma auto-formação do indivíduo, em múltiplas dimensões, tem tudo a ver com as Bibliotecas e como estas constituem um elemento central do estudo e investigação. A maior e mais especializada biblioteca de Arqueologia existente em Portugal está de novo aberta ao público, uma excelente notícia para estudantes e investigadores. Saibamos, pois, dela tirar bom partido. |
Carlos Fabião
INVESTIGAÇÃO NA UNIARQ
Pedra sobre pedra IV
Através das rubricas “Pedra sobre Pedra” da Uniarq Digital, iniciadas em Outubro de 2023 (https://www.uniarq.net/uniarqdigital81.html), temos vindo a dar conhecimento do processo de construção da ARQUEOLit, a litoteca da UNIARQ. Desde a fase inicial da chegada das amostras ao espaço da UNIARQ até à disponibilização de uma parte para consulta on line no sítio web Cartosilex, é agora com grande entusiasmo que se comunica que a ARQUEOLit está fisicamente aberta ao público, na sala A111 ("Gabinete Verde") da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.
Alojadas em gavetas de fácil acesso (Figura 1), 132 amostras de silicitos previamente caracterizadas a três escalas (macro-, meso- e microscópica), encontram-se agora disponíveis para consulta. São amostras de sílex do Mesozóico e do Paleogénico, em posição primária e secundária, bem como silcretos do Paleogénico, igualmente em posição primária e secundária, oriundas de sete áreas-fonte: A. Ourém; B. Nazaré; C. Maciço Calcário Estremenho; D. Planalto das Cesaredas; E. Margem direita da Bacia do Baixo Tejo; F. Torres Vedras e G. Pero-Pinheiro-Carenque-Lisboa. Este conjunto constitui uma importante colecção de comparação, fundamental em estudos de proveniência e mobilidade, principalmente a nível local e regional, na Estremadura e Sul de Portugal. Uma base de dados em Access contém a informação das amostras, em duas fichas - Ficha de Descrição Macroscópica e Ficha de Descrição Microscópica - e também do respectivo contexto de proveniência (afloramento), na Ficha de descrição de área-fonte (Figura 2), em actualização. A base de dados está inserida num computador de acesso livre na UNIARQ. No caso de consulta de qualquer amostra de mão e/ou respectiva lâmina delgada, é obrigatório preenchimento de formulário próprio (https://www.uniarq.net/arqueolit-litoteca.html), sendo sugerido contacto prévio com Patrícia Jordão ([email protected]) |
Patrícia Jordão
PROTOCOLOS E PARCERIAS
Memorando de Entendimento LNEG-FLUL assinado
No dia 11 de Fevereiro de 2025 foi assinado um memorando de entendimento entre o Laboratório Nacional de Energia e Geologia (LNEG), representado pela Presidente do Conselho Directivo, Teresa Ponce de Leão, e a Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (FLUL), representada pelo seu Director, Hermenegildo Fernandes, através do Centro de Arqueologia (UNIARQ), representado pela sua Directora, Mariana Diniz.
O processo de cooperação e intercâmbio entre ambas as instituições, iniciado em Dezembro de 2023, conforme noticiado no nº 83 da UNIARQ digital (https://www.uniarq.net/uniarqdigital83.html), encontra-se assim formalizado para a construção de uma colecção de referência de matérias-primas líticas aplicada à arqueologia.
O processo de cooperação e intercâmbio entre ambas as instituições, iniciado em Dezembro de 2023, conforme noticiado no nº 83 da UNIARQ digital (https://www.uniarq.net/uniarqdigital83.html), encontra-se assim formalizado para a construção de uma colecção de referência de matérias-primas líticas aplicada à arqueologia.
Especializada em silicitos sedimentares, a ARQUEOLit da UNIARQ dispõe de uma colecção regional, no contexto da Bacia Lusitânica (Mesocenozóico) e da Bacia do Baixo Tejo (Cenozóico), e conta actualmente com 132 amostras disponíveis para consulta presencial.
A Litoteca do LNEG em Alfragide, de carácter mais abrangente, contém arquivados centenas de testemunhos de sondagens relativas à prospecção de hidrocarbonetos, de recursos minerais metálicos e não metálicos, das Orlas Mesocenozoicas e do Alto Alentejo, e de hidrogeologia (Alto Alentejo). Em Alfragide, encontram-se ainda diversas colecções de amostras de países africanos de expressão portuguesa, incluindo as oriundas do extinto Instituto de Investigação Científica Tropical, e também colecções de fósseis, rochas e minerais, pertencentes ao espólio do Museu dos Serviços Geológicos.
Os objectivos gerais do memorando de entendimento entre ambas as instituições centram-se na permuta de informação científica e técnica, através de uma colaboração activa em acções de pesquisa geológica e arqueológica, e em actividades de investigação.
Para a construção de uma colecção partilhada de matérias-primas líticas aplicadas à arqueologia, destaca-se o propósito de realização de missões conjuntas, de carácter geo-arqueológico, com vista à recolha, selecção e caracterização de amostras de rochas, cuja informação será disponibilizada em plataforma digital.
Os resultados dos trabalhos conjuntos serão alvo de publicação e disseminação em eventos científicos, organizados para o efeito.
A Litoteca do LNEG em Alfragide, de carácter mais abrangente, contém arquivados centenas de testemunhos de sondagens relativas à prospecção de hidrocarbonetos, de recursos minerais metálicos e não metálicos, das Orlas Mesocenozoicas e do Alto Alentejo, e de hidrogeologia (Alto Alentejo). Em Alfragide, encontram-se ainda diversas colecções de amostras de países africanos de expressão portuguesa, incluindo as oriundas do extinto Instituto de Investigação Científica Tropical, e também colecções de fósseis, rochas e minerais, pertencentes ao espólio do Museu dos Serviços Geológicos.
Os objectivos gerais do memorando de entendimento entre ambas as instituições centram-se na permuta de informação científica e técnica, através de uma colaboração activa em acções de pesquisa geológica e arqueológica, e em actividades de investigação.
Para a construção de uma colecção partilhada de matérias-primas líticas aplicadas à arqueologia, destaca-se o propósito de realização de missões conjuntas, de carácter geo-arqueológico, com vista à recolha, selecção e caracterização de amostras de rochas, cuja informação será disponibilizada em plataforma digital.
Os resultados dos trabalhos conjuntos serão alvo de publicação e disseminação em eventos científicos, organizados para o efeito.
Patrícia Jordão
Acordo de Cooperação e Colaboração com a Câmara Municipal de Lisboa
No passado mês de Fevereiro, foi assinada uma Adenda ao Acordo de Cooperação e Colaboração entre a Câmara Municipal de Lisboa (CML) e a Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (FLUL), em vigor desde 2022.
Esta Adenda visa fortalecer a cooperação e colaboração entre estas instituições, materializando-se no apoio à edição da obra da autoria de José Cardim Ribeiro, intitulada Da Civitas de Felicitas Ivlia e o seu ager e da prática epigráfica. Esta monografia será publicada na coleção Estudos & Memórias (n.º 27), da UNIARQ – Centro de Arqueologia da Universidade de Lisboa, prevendo-se o seu lançamento ainda durante o primeiro semestre deste ano. |
Elisa de Sousa
PEÇA DO MÊS
Fragmentos de pote/panela decorado

Proveniência: Castelo da Feira (Santa Maria da Feira, Portugal)
Cronologia: Alta Idade Média (séculos X-XII)
Direção dos trabalhos: Pedro Sobral de Carvalho – EON Indústrias Criativas, Lda.
Descrição: Conjunto de cinco fragmentos que correspondem ao bojo de um pote/panela. Tem 0,45 cm de espessura mínima e 1,20 cm de espessura máxima. Uma vez que não se conservou o bordo do recipiente, não é possível determinar o diâmetro do bocal ou o diâmetro máximo da peça. Este pote/panela foi feito a torno e cozido em ambiente redutor-oxidante, exibindo uma pasta com núcleo de cor cinzenta clara e com superfícies com colorações que variam entre o laranja clara e o castanho. Em termos tecnológicos, a peça produziu-se a partir de uma argila com grande concentração de micas e inclusões de quartzo de pequena dimensão. Encontra-se decorada através de um cordão plástico digitado e de linhas horizontais paralelas.
Cronologia: Alta Idade Média (séculos X-XII)
Direção dos trabalhos: Pedro Sobral de Carvalho – EON Indústrias Criativas, Lda.
Descrição: Conjunto de cinco fragmentos que correspondem ao bojo de um pote/panela. Tem 0,45 cm de espessura mínima e 1,20 cm de espessura máxima. Uma vez que não se conservou o bordo do recipiente, não é possível determinar o diâmetro do bocal ou o diâmetro máximo da peça. Este pote/panela foi feito a torno e cozido em ambiente redutor-oxidante, exibindo uma pasta com núcleo de cor cinzenta clara e com superfícies com colorações que variam entre o laranja clara e o castanho. Em termos tecnológicos, a peça produziu-se a partir de uma argila com grande concentração de micas e inclusões de quartzo de pequena dimensão. Encontra-se decorada através de um cordão plástico digitado e de linhas horizontais paralelas.

Comentário: Os fragmentos deste pote/panela foram recolhidos no decurso de uma intervenção arqueológica no Castelo da Feira, em sedimentos carbonosos que correspondem a um nível de incêndio – UE [019] da Sondagem 2 (Setor 1) –, o qual levou à destruição e abandono de um espaço doméstico adjacente à Torre-Alcáçova. A presença de uma grande abundância de fragmentos cerâmicos, muitos dos quais pertencentes à mesma peça, indicia que o evento que levou à colmatação daquele espaço foi repentino e que o nível de carvões preservou o ambiente ali presente. O estudo do conjunto cerâmico desta unidade estratigráfica comprova a funcionalidade doméstica daquele contexto. Os materiais arqueológicos recolhidos integram uma cronologia entre os séculos X e XII, o que coincidirá com os primeiros momentos de uso da Torre-Alcáçova.
A peça a que pertencem os fragmentos em análise é um pote/panela, uma designação genérica atribuída a um tipo de peças fechadas cuja função é de difícil distinção dada a semelhança morfológica entre as duas formas. A presença de marcas de fogo é o elemento diferenciador, uma vez que as panelas estão destinadas à confeção de alimentos ao lume e os potes ao seu armazenamento/conservação. Ambas as formas têm tamanhos variáveis, mas normalmente são recipientes fechados, de perfil em “S”, colo estrangulado e fundo plano, pelo que o diâmetro da pança é sempre superior ao diâmetro da boca. Podem ter uma ou duas asas e encaixes para tampas.
A peça concilia várias técnicas decorativas: a aplicação cordões plásticos digitados é um elemento decorativo muito comum na cerâmica comum alto-medieval do centro e norte de Portugal, nomeadamente na região do Alto Mondego (Tente 2010), não se restringindo aos potes/panelas. Por outro lado, as faixas de linhas horizontais paralelas, feitas com um instrumento semelhante a um pente e produzindo um motivo estriado, surgem em peças análogas no norte e noroeste peninsular em contextos arqueológicos datados entre os séculos X e XII, nomeadamente em León (Bohigas Roldan e García Camino 1991; Gutiérrez González e Miguel Hernández 2009). Esta constatação sugere algumas hipóteses de interpretação: 1) a existência de redes comerciais de longa distância durante a Alta Idade Média; 2) a influência cultural ou artística exercida pelo reino asturo-leonês em territórios mais meridionais que se mantinham sob a sua égide, como Santa Maria da Feira; 3) a circulação de bens e pessoas.
O Castelo da Feira desempenharia, naquela época, importantes funções geoestratégicas na defesa e estruturação do território da Civitas de Santa Maria, sobretudo porque a sua localização, junto a uma zona de fronteira entre cristãos e muçulmanos, assegurava o domínio dos territórios conquistados na margem sul do Douro. Embora a sua fundação seja anterior – visto que as primeiras referências escritas à Civitas de Santa Maria surgem no ano de 977 (Barroca 1990-1991: 92) –, o castelo surge documentalmente mencionado na Chronica Gothorum, datada dos séculos XII-XIII, dando conta da vitória de Bermudo III de Leão sobre um general muçulmano em villa Cesari, in território Castelli Sancta Marie na décima primeira centúria, pelo que data desse período a construção de um recinto fortificado, de planta quadrangular, dotado de torreões nos ângulos: a Torre-Alcáçova.
Local de depósito: Museu Convento dos Lóios (Santa Maria da Feira)
A peça a que pertencem os fragmentos em análise é um pote/panela, uma designação genérica atribuída a um tipo de peças fechadas cuja função é de difícil distinção dada a semelhança morfológica entre as duas formas. A presença de marcas de fogo é o elemento diferenciador, uma vez que as panelas estão destinadas à confeção de alimentos ao lume e os potes ao seu armazenamento/conservação. Ambas as formas têm tamanhos variáveis, mas normalmente são recipientes fechados, de perfil em “S”, colo estrangulado e fundo plano, pelo que o diâmetro da pança é sempre superior ao diâmetro da boca. Podem ter uma ou duas asas e encaixes para tampas.
A peça concilia várias técnicas decorativas: a aplicação cordões plásticos digitados é um elemento decorativo muito comum na cerâmica comum alto-medieval do centro e norte de Portugal, nomeadamente na região do Alto Mondego (Tente 2010), não se restringindo aos potes/panelas. Por outro lado, as faixas de linhas horizontais paralelas, feitas com um instrumento semelhante a um pente e produzindo um motivo estriado, surgem em peças análogas no norte e noroeste peninsular em contextos arqueológicos datados entre os séculos X e XII, nomeadamente em León (Bohigas Roldan e García Camino 1991; Gutiérrez González e Miguel Hernández 2009). Esta constatação sugere algumas hipóteses de interpretação: 1) a existência de redes comerciais de longa distância durante a Alta Idade Média; 2) a influência cultural ou artística exercida pelo reino asturo-leonês em territórios mais meridionais que se mantinham sob a sua égide, como Santa Maria da Feira; 3) a circulação de bens e pessoas.
O Castelo da Feira desempenharia, naquela época, importantes funções geoestratégicas na defesa e estruturação do território da Civitas de Santa Maria, sobretudo porque a sua localização, junto a uma zona de fronteira entre cristãos e muçulmanos, assegurava o domínio dos territórios conquistados na margem sul do Douro. Embora a sua fundação seja anterior – visto que as primeiras referências escritas à Civitas de Santa Maria surgem no ano de 977 (Barroca 1990-1991: 92) –, o castelo surge documentalmente mencionado na Chronica Gothorum, datada dos séculos XII-XIII, dando conta da vitória de Bermudo III de Leão sobre um general muçulmano em villa Cesari, in território Castelli Sancta Marie na décima primeira centúria, pelo que data desse período a construção de um recinto fortificado, de planta quadrangular, dotado de torreões nos ângulos: a Torre-Alcáçova.
Local de depósito: Museu Convento dos Lóios (Santa Maria da Feira)

Bibliografia:
Barroca, M. J. (1990-1991) - Do castelo da reconquista ao castelo românico (Séc. IX a XII). Revista Portugalia. N.º 11-12 (Nova Série). Porto: Departamento de Ciências do Património da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, pp. 89-136.
Bohigas Roldan, R. e García Camino, I. (1991) – Las cerámicas medievales del norte y noroeste de la Península Ibérica. Rasgos comunes y diferencias regionales. In Silva, L. A. e Mateus, R. (coords.) - A cerâmica medieval no Mediterrâneo ocidental. Mértola: Campo Arqueológico de Mértola, pp. 69-86.
Gutiérrez González, J. A. e Miguel Hernández, F. (2009) - La cerámica altomedieval en León: producciones locales y andalusíes de Puerta Obispo. In Zozaya, J.; Retuerce, M.; Hervás, M. Á. e Juan, A. de (eds.) - Actas del VIII Congreso Internacional de Cerámica Medieval en el Mediterráneo. Ciudad Real: Asociación Española de Arqueología Medieval, pp. 443-462.
Mattoso, J.; Krus, L. e ANDRADE, A. (1989) – O Castelo e a Feira. A Terra de Santa Maria nos séculos XI a XIII. Lisboa: Editorial Estampa.
Teixeira, R.; Fonseca, J.; Barbosa, L. e Moreira, Á. (2017) - Castelo de Santa Maria da Feira. Estudos arqueológicos. Santa Maria da Feira: Câmara Municipal de Santa Maria da Feira.
Tente, C. (2010) - Arqueologia Medieval Cristã no Alto Mondego. Ocupação e exploração do território nos séculos V a XI. Tese de Doutoramento apresentada à NOVA-FCSH. Texto policopiado.
Barroca, M. J. (1990-1991) - Do castelo da reconquista ao castelo românico (Séc. IX a XII). Revista Portugalia. N.º 11-12 (Nova Série). Porto: Departamento de Ciências do Património da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, pp. 89-136.
Bohigas Roldan, R. e García Camino, I. (1991) – Las cerámicas medievales del norte y noroeste de la Península Ibérica. Rasgos comunes y diferencias regionales. In Silva, L. A. e Mateus, R. (coords.) - A cerâmica medieval no Mediterrâneo ocidental. Mértola: Campo Arqueológico de Mértola, pp. 69-86.
Gutiérrez González, J. A. e Miguel Hernández, F. (2009) - La cerámica altomedieval en León: producciones locales y andalusíes de Puerta Obispo. In Zozaya, J.; Retuerce, M.; Hervás, M. Á. e Juan, A. de (eds.) - Actas del VIII Congreso Internacional de Cerámica Medieval en el Mediterráneo. Ciudad Real: Asociación Española de Arqueología Medieval, pp. 443-462.
Mattoso, J.; Krus, L. e ANDRADE, A. (1989) – O Castelo e a Feira. A Terra de Santa Maria nos séculos XI a XIII. Lisboa: Editorial Estampa.
Teixeira, R.; Fonseca, J.; Barbosa, L. e Moreira, Á. (2017) - Castelo de Santa Maria da Feira. Estudos arqueológicos. Santa Maria da Feira: Câmara Municipal de Santa Maria da Feira.
Tente, C. (2010) - Arqueologia Medieval Cristã no Alto Mondego. Ocupação e exploração do território nos séculos V a XI. Tese de Doutoramento apresentada à NOVA-FCSH. Texto policopiado.
Catarina Meira
AGENDA
Workshop
«Educação, Arqueologia, Democracia» 7 de Março | Anfiteatro Nobre da Faculdade de Letras da Universidade do Porto |
Lançamento 5.º volume
Mulheres na Ciência 8 de Março | 16h-18h30 Pavilhão do Conhecimento Mais informação AQUI |
Mesa Redonda
Mulheres no passado, no presente e no futuro 9 de Março Museu Interativo do Megalitismo de Mora |
Lançamento de Livro
«De Gibraltar aos Pirenéus...» (estudos&memórias, vol. 25) 12 de Março | 17h30 Anfiteatro 2 (Sala C130) Faculdade de Letras de Lisboa |
Congresso Internacional
Templos Romanos na Lusitânia 13 a 15 de Março Museu do Design, Lisboa Programa AQUI |
Aula Aberta/Conferência
«La tecnologia lítica especializada del sur de Iberia (IV-III mil. a.C.)...» por Antonio Morgado-Rodríguez 20 de Março | 9h30-11h Faculdade de Letras de Lisboa |
Colóquio
Recintos Ibéricos e Campaniforme: contextos, variabilidades, desempenhos e ausências 22 e 23 de Março | Reguengos de Monsaraz Programa AQUI |
European Social Science History Conference 2025
26 a 29 de Março Leiden (Países Baixos) Mais informação AQUI |
Arqueologia em Construção 10 (2025): Sessão 2
27 de Março | Faculdade de Letras de Lisboa Mais informação AQUI |
PZAF 2026
Junho de 2026 Faculdade de Letras de Lisboa CALL FOR ABSTRACTS ATÉ 30 de OUTUBRO Mais informação AQUI |
Participações em Congressos, Colóquios e Conferências
I Jornadas "Humanidades Digitais na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa"
Participação de Daniel Carvalho e Matilde Seca 5 a 7 de Fevereiro | Faculdade de Letras de Lisboa e Online (Zoom) «O Chão que Ela Pisa (The Ground Beneath Her Feet) ou a dinâmica portuária de Lisboa: o caso de estudo da Praça D. Luiz I»
Conferência de Alexandre Sarrazola 6 de Fevereiro | Sociedade de Geografia de Lisboa Isto é Arqueologia 2024/2025
Participação de Alexandre Varanda, Ana Catarina Sousa, Ana Costa, Ana Margarida Arruda, Carlos Fabião, Carlos Ferreira, Catarina Costeira, Catarina Viegas, César Neves, Cleia Detry, Cristina Gameiro, Daniel Carvalho, Daniela de Matos, Elisa de Sousa, Francisco Gomes, Javier Herrera Rando, João Pedro Cunha-Ribeiro, José Manuel Ventura, Luis Gomes, Mariana Diniz, Nelson J. Almeida, Patrícia Jordão, Paula Nascimento, Rui Gomes Coelho, Rui Roberto de Almeida e Victor Filipe. 7 de Fevereiro | Faculdade de Letras de Lisboa Colóquio Internacional "Arquitectura Romana en Lusitania: entre pasado y presente"
«Arquitectura urbana en ciudades lusitanas: una visión de conjunto» Comunicação de Carlos Fabião 11 de Fevereiro | Mérida, Espanha «O MNA "volta" a casa: O Museu Nacional de Arqueologia a caminho da obra do PRR»
Conferência de António Carvalho 13 de Fevereiro | Faculdade de Letras de Lisboa Ciclo "Grandes descubrimientos en arqueología IV"
«Pasado, Presente y Futuro de la Ciudad de Ammaia» Conferência de Carlos Fabião 13 de Fevereiro | Mérida, Espanha |
¿Existe una ciudad oriental en Europa? Modelos urbanos entre la Antigüedad tardía y la Edad Media (Bizancio, al-Andalus y reinos cristianos)
Participação de Macarena Bustamante-Álvarez e Manuel Fialho Silva 13 e 14 de Fevereiro | Granada, Espanha Workshop bilateral (Portugal-Noruega): Salvaguarda do Património Arqueológico Costeiro em Risco
Participação de Ana Catarina Sousa, Ana Cristina Araújo, Ana Maria Costa, Catarina Viegas, Joaquina Soares, Luis Rendeiro, Pedro Barros e Rui Roberto de Almeida 19 de Fevereiro | Auditório do CNANS «Variabilidade vs. homogeneidade no tecno-complexo Acheulense e a importância do suporte: uma abordagem baseada nos Large Cutting Tools do território português»
Conferência de Carlos Ferreira 19 de Fevereiro | Museu Arqueológico do Carmo Conferências Online SECAH
«O fácies de destruição de Monte dos Castelinhos. Um contexto ímpar para o século I a. C.» por João Pimenta 20 de Fevereiro | Online (Zoom) 71º Aniversário do Instituto Arqueológico Alemão
«A Delegação de Lisboa do Deutsches Archäologisches Institut, um notável espaço de encontro, estudo e formação (com particular menção a Theodor Hauschild)» Conferência de Carlos Fabião 24 de Fevereiro | Faculdade de Letras de Lisboa Arqueologia em Construção 10 (2025): Sessão 1
Participação de Carlos Ferreira 27 de Fevereiro | Faculdade de Letras de Lisboa |
Provas Académicas
Tese de Doutoramento "Não há colonialismo sem tekoába: Uma arqueologia das relações e da materialidade entre os Tupiniquim e Portugueses na Capitania de São Vicente, Brasil (1502-1700)"
por Francisco Silva Noelli
10 de Março | 14h30 | Online (Zoom)
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