Editorial
Mariana Diniz, Directora da UNIARQ
Concluiu-se no passado dia 14 de Janeiro, a fase primeira do processo longo, iniciado em Dezembro de 2023, de avaliação da UNIARQ, enquanto Unidade de Investigação da Fundação para a Ciência e a Tecnologia. Neste caminho de várias etapas, os Centros devem, em simultâneo, prestar contas das actividades realizadas e do destino dado às verbas recebidas, definir linhas de acção estratégica para o futuro próximo – um horizonte de cinco anos – e inventariar as necessidades financeiras para a concretização desse programa.
Fosse este um excerto a comentar num exame de uma unidade curricular de Gestão Cientifica, que tópico escolheria eu como assunto fundamental a desenvolver?
Manda a sensatez que o tópico financeiro, mesmo que árido e distante do processo de investigação que nos move, seja decisivo. As ideias, por excelentes que sejam, não se materializam sem o insubstituível suporte dado pelo financiamento. Porque é, precisamente, o financiamento, ainda que sejam depois fundamentais outras variáveis, que separa questões e intuições mais ou menos geniais de projectos de investigação com resultados efectivos, e se as necessidades de cada área cientifica não são semelhantes, a Arqueologia é, no campo das Ciências Sociais e Humanas seguramente a mais, ou uma das mais dispendiosas disciplinas, como tem sido tantas vezes referido. O questionário desenvolvido na UNIARQ exige, do trabalho de campo, ao laboratório, à publicação e divulgação dos resultados, um orçamento robusto e por ele lutámos, neste processo de avaliação.
Justifica-se o investimento? É óbvia a resposta. Lidamos com tópicos fundamentais da dinâmica das sociedades humanas cujo conhecimento e compreensão da sua efectiva complexidade, em parte preservada no registo arqueológico, é, e avança o que pode parecer um lugar comum, mas não é, hoje, mais do que nunca, fundamental. Na UNIARQ trabalha-se, usando como elementos decisivo as paisagens, os sítios e as materialidades, lidas na perspectiva única do Tempo Longo que só é possível aos Arqueológos. Trabalha-se sobre migrações, encontros e choques de culturas, alterações climáticas e respostas culturais, formação e dissolução de impérios, difusão de línguas, miscigenação e apagamentos culturais, criação e aceleração das desigualdades sociais, hierarquias e os seus objectos e espaços de legitimação, primeiras sociedades de consumo e o impacto deste sobre os recursos, fenómenos de resistência identitária e social, técnicas e produtos trans-regionais e fenómenos intrinsecamente locais, mas também sobre os que pensam o Passado e as condições sociais em que o fazem, mas também sobre tecnologias de ponta que permitam, numa leitura transdisciplinar, a única capaz de reconstruir as múltiplas dimensões do Passado, dos seus legados no Presente e do seu papel na construção de melhores Futuros. Transformar lascas e lâminas de sílex ou quartzito, cinzas e carvões na terra, imagens numa parede de rocha, esqueletos humanos, colocados em fossa simples ou em estruturas monumentais, paredes derrubadas, fragmentos de cerâmica, formas e decorações de recipientes, contas de vidro, e de pedra, e de concha, ossos de animais, restos de plantas, objectos de metal, letras sobre pedra, objectos copiados, objectos de cobiça, objectos banais, restos de lixo, em História de lugares, de pessoas, de grupos que agem e inter-agem e reagem, é a nossa missão. O valor do Conhecimento que produzimos é, sob diferentes perspectivas, imenso. Compete-nos demonstrá-lo. Compete também ao sistema cientifico nacional financiá-lo.
Como sempre dão-se conta nesta newsletter das diferentes acções em que estão envolvidos os Investigadores da UNIARQ, numa apresentação de contas que é também um dos propósitos da comunicação interna e externa da UNIARQ de que faz parte este canal.
É também aqui que nos despedimos do nosso estudante de mestrado, Sebastião Vieira. À tristeza que acompanha todas as partidas, junta-se a desolação de um fim acontecido tão antes do tempo. Que as mãos que o rodeavam, à volta dele permaneçam.
Fosse este um excerto a comentar num exame de uma unidade curricular de Gestão Cientifica, que tópico escolheria eu como assunto fundamental a desenvolver?
Manda a sensatez que o tópico financeiro, mesmo que árido e distante do processo de investigação que nos move, seja decisivo. As ideias, por excelentes que sejam, não se materializam sem o insubstituível suporte dado pelo financiamento. Porque é, precisamente, o financiamento, ainda que sejam depois fundamentais outras variáveis, que separa questões e intuições mais ou menos geniais de projectos de investigação com resultados efectivos, e se as necessidades de cada área cientifica não são semelhantes, a Arqueologia é, no campo das Ciências Sociais e Humanas seguramente a mais, ou uma das mais dispendiosas disciplinas, como tem sido tantas vezes referido. O questionário desenvolvido na UNIARQ exige, do trabalho de campo, ao laboratório, à publicação e divulgação dos resultados, um orçamento robusto e por ele lutámos, neste processo de avaliação.
Justifica-se o investimento? É óbvia a resposta. Lidamos com tópicos fundamentais da dinâmica das sociedades humanas cujo conhecimento e compreensão da sua efectiva complexidade, em parte preservada no registo arqueológico, é, e avança o que pode parecer um lugar comum, mas não é, hoje, mais do que nunca, fundamental. Na UNIARQ trabalha-se, usando como elementos decisivo as paisagens, os sítios e as materialidades, lidas na perspectiva única do Tempo Longo que só é possível aos Arqueológos. Trabalha-se sobre migrações, encontros e choques de culturas, alterações climáticas e respostas culturais, formação e dissolução de impérios, difusão de línguas, miscigenação e apagamentos culturais, criação e aceleração das desigualdades sociais, hierarquias e os seus objectos e espaços de legitimação, primeiras sociedades de consumo e o impacto deste sobre os recursos, fenómenos de resistência identitária e social, técnicas e produtos trans-regionais e fenómenos intrinsecamente locais, mas também sobre os que pensam o Passado e as condições sociais em que o fazem, mas também sobre tecnologias de ponta que permitam, numa leitura transdisciplinar, a única capaz de reconstruir as múltiplas dimensões do Passado, dos seus legados no Presente e do seu papel na construção de melhores Futuros. Transformar lascas e lâminas de sílex ou quartzito, cinzas e carvões na terra, imagens numa parede de rocha, esqueletos humanos, colocados em fossa simples ou em estruturas monumentais, paredes derrubadas, fragmentos de cerâmica, formas e decorações de recipientes, contas de vidro, e de pedra, e de concha, ossos de animais, restos de plantas, objectos de metal, letras sobre pedra, objectos copiados, objectos de cobiça, objectos banais, restos de lixo, em História de lugares, de pessoas, de grupos que agem e inter-agem e reagem, é a nossa missão. O valor do Conhecimento que produzimos é, sob diferentes perspectivas, imenso. Compete-nos demonstrá-lo. Compete também ao sistema cientifico nacional financiá-lo.
Como sempre dão-se conta nesta newsletter das diferentes acções em que estão envolvidos os Investigadores da UNIARQ, numa apresentação de contas que é também um dos propósitos da comunicação interna e externa da UNIARQ de que faz parte este canal.
É também aqui que nos despedimos do nosso estudante de mestrado, Sebastião Vieira. À tristeza que acompanha todas as partidas, junta-se a desolação de um fim acontecido tão antes do tempo. Que as mãos que o rodeavam, à volta dele permaneçam.
Sebastião Vieira (2002-2025)

Lembro-me do Sebastião chegar à Faculdade no outono de 2020. Contou-me que tinha hesitado antes de ingressar no curso de Arqueologia. Escolheu a Arqueologia e a Faculdade de Letras de Lisboa, e assim pudemos ter o privilégio de o conhecer.
Depressa ficou claro que o Sebastião sabia bem o que queria. Definitivamente, era a Arqueologia. Procurou explorar diversos caminhos dentro da disciplina, na busca daquele que faria sentido para si.
Mesmo antes de entrar na FLUL, no verão de 2020, teve o primeiro contacto com o projeto do sítio pré-histórico da Ota. No ano seguinte, em 2021, participou nas escavações dirigidas pelo André Texugo e pela Ana Catarina Basílio. Junto da equipa do ARQEVO, com o Alexandre Varanda, o Luís Gomes e o João Zilhão, envolveu-se na investigação sobre o Paleolítico, tanto no sítio da Fonte Santa (2021) como na Gruta do Caldeirão (2022). Foi também voluntário no projeto, colaborando na crivagem e no levantamento 3D de materiais arqueológicos. Procurava sempre explorar novas vias, novos desafios e contextos, fossem eles emersos ou submersos.
As Ciências da Terra sempre o interessaram, e foi nesse espírito que escolheu, para o Seminário, um tema transdisciplinar: Mapeamento e modelação de estruturas muradas através de deteção remota com drone (Covão do Teixo, Serra da Estrela). Tive o privilégio de orientar o seu excelente trabalho juntamente com o Carlos Pereira. Era evidente que queria trilhar um caminho próprio, explorando a arqueologia de montanha, um tema fascinante e ainda pouco estudado em Portugal. Não hesitava perante projetos desafiantes e, mais tarde, no Seminário de Arqueologia do Território do Mestrado em Arqueologia, voltou a aventurar-se, colaborando comigo no projeto Paisagens Antigas da Tapada de Mafra, onde ensaiou uma abordagem inovadora ao estudo da rede hidráulica do Palácio através de LiDAR. O seu desejo de ir mais além levou-o também a interessar-se pela Arqueologia Subaquática, outro domínio que explorava com entusiasmo.
No Mestrado, desde cedo demonstrou que queria contacto com a Arqueologia no terreno, a Arqueologia do mundo real. Assim, começou a trabalhar com a Clay no dia 26 de fevereiro de 2024, no sítio Santa Marinha de Melides, com a Ana Penisga e a Joana Carvalho. Conciliar o Mestrado com o trabalho não era fácil – falámos sobre isso tantas vezes no último ano –, mas o entusiasmo do Sebastião com a escavação, com a equipa e com a experiência era evidente. Manteve-se na equipa de Melides até 22 de janeiro, praticamente até ao dia em que nos deixou, a 24 de janeiro.
O Sebastião deixou-nos cedo de mais. Toda a Arqueologia da FLUL /UNIARQ, professores, investigadores, os colegas e amigos sentirão a sua falta. Aos pais e amigos, deixamos um abraço amigo e a certeza de que não esqueceremos a delicadeza, inteligência, educação e o humor especial do Sebastião.
Depressa ficou claro que o Sebastião sabia bem o que queria. Definitivamente, era a Arqueologia. Procurou explorar diversos caminhos dentro da disciplina, na busca daquele que faria sentido para si.
Mesmo antes de entrar na FLUL, no verão de 2020, teve o primeiro contacto com o projeto do sítio pré-histórico da Ota. No ano seguinte, em 2021, participou nas escavações dirigidas pelo André Texugo e pela Ana Catarina Basílio. Junto da equipa do ARQEVO, com o Alexandre Varanda, o Luís Gomes e o João Zilhão, envolveu-se na investigação sobre o Paleolítico, tanto no sítio da Fonte Santa (2021) como na Gruta do Caldeirão (2022). Foi também voluntário no projeto, colaborando na crivagem e no levantamento 3D de materiais arqueológicos. Procurava sempre explorar novas vias, novos desafios e contextos, fossem eles emersos ou submersos.
As Ciências da Terra sempre o interessaram, e foi nesse espírito que escolheu, para o Seminário, um tema transdisciplinar: Mapeamento e modelação de estruturas muradas através de deteção remota com drone (Covão do Teixo, Serra da Estrela). Tive o privilégio de orientar o seu excelente trabalho juntamente com o Carlos Pereira. Era evidente que queria trilhar um caminho próprio, explorando a arqueologia de montanha, um tema fascinante e ainda pouco estudado em Portugal. Não hesitava perante projetos desafiantes e, mais tarde, no Seminário de Arqueologia do Território do Mestrado em Arqueologia, voltou a aventurar-se, colaborando comigo no projeto Paisagens Antigas da Tapada de Mafra, onde ensaiou uma abordagem inovadora ao estudo da rede hidráulica do Palácio através de LiDAR. O seu desejo de ir mais além levou-o também a interessar-se pela Arqueologia Subaquática, outro domínio que explorava com entusiasmo.
No Mestrado, desde cedo demonstrou que queria contacto com a Arqueologia no terreno, a Arqueologia do mundo real. Assim, começou a trabalhar com a Clay no dia 26 de fevereiro de 2024, no sítio Santa Marinha de Melides, com a Ana Penisga e a Joana Carvalho. Conciliar o Mestrado com o trabalho não era fácil – falámos sobre isso tantas vezes no último ano –, mas o entusiasmo do Sebastião com a escavação, com a equipa e com a experiência era evidente. Manteve-se na equipa de Melides até 22 de janeiro, praticamente até ao dia em que nos deixou, a 24 de janeiro.
O Sebastião deixou-nos cedo de mais. Toda a Arqueologia da FLUL /UNIARQ, professores, investigadores, os colegas e amigos sentirão a sua falta. Aos pais e amigos, deixamos um abraço amigo e a certeza de que não esqueceremos a delicadeza, inteligência, educação e o humor especial do Sebastião.
Ana Catarina Sousa
NOTÍCIAS
Demonstração de técnicas utilizadas em Arte Pré-Histórica

No âmbito da Unidade Curricular Arte Pré-Histórica (plano curricular da Licenciatura em História da Arte e opcional para outras licenciaturas da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa) decorreu, dia 8 de janeiro, uma demonstração de Arqueologia Experimental dedicada à reprodução de técnicas utilizadas em Arte Pré-Histórica.
A sessão foi realizada por Pedro Cura (Prehistoric Skills), que nos últimos anos desenvolveu a aprendizagem das técnicas e métodos utilizados na Pré-História, e tem levado a cabo diversas iniciativas de arqueologia experimental, não só com o intuito de responder a questões científicas, mas, também direcionadas para outros públicos. As condições meteorológicas adversas obrigaram a transferir para uma sala de aula a iniciativa inicialmente prevista para o Pátio Grego da FLUL.
O formato de aula aberta permitiu a presença de cerca de 35 pessoas, incluindo não só os alunos da Faculdade de Letras, mas também das Faculdades de Belas-Artes e de Arquitetura. A divulgação do evento nas redes sociais explica o alcance e o sucesso do evento.
Para finalizar um semestre teórico, que para muitos alunos constituiu o primeiro contacto com a Arte Pré-Histórica, a realização desta atividade presencial, permitiu observar in loco os gestos e compreender como se fabricam os diferentes tipos de pigmentos e como se executam diferentes técnicas de pintura (pincel, digitação, tamponado, sopro etc) e gravura (filiforme e picotagem por ex.).
A sessão foi realizada por Pedro Cura (Prehistoric Skills), que nos últimos anos desenvolveu a aprendizagem das técnicas e métodos utilizados na Pré-História, e tem levado a cabo diversas iniciativas de arqueologia experimental, não só com o intuito de responder a questões científicas, mas, também direcionadas para outros públicos. As condições meteorológicas adversas obrigaram a transferir para uma sala de aula a iniciativa inicialmente prevista para o Pátio Grego da FLUL.
O formato de aula aberta permitiu a presença de cerca de 35 pessoas, incluindo não só os alunos da Faculdade de Letras, mas também das Faculdades de Belas-Artes e de Arquitetura. A divulgação do evento nas redes sociais explica o alcance e o sucesso do evento.
Para finalizar um semestre teórico, que para muitos alunos constituiu o primeiro contacto com a Arte Pré-Histórica, a realização desta atividade presencial, permitiu observar in loco os gestos e compreender como se fabricam os diferentes tipos de pigmentos e como se executam diferentes técnicas de pintura (pincel, digitação, tamponado, sopro etc) e gravura (filiforme e picotagem por ex.).
Por último, um agradecimento ao Pedro Cura por mais uma colaboração desta natureza, com a certeza de que esta sessão terá sido particularmente proveitosa para os alunos que assistiram.
Cristina Gameiro
Participação na SHA 2025 Conference on Historical and Underwater Archaeology – “Landscapes in Transition: Looking to the Past to Adapt to the Future"
Os pesquisadores da UNIARQ, Marianne Sallum (Universidade Federal de São Paulo) e Francisco S. Noelli (Universidade de Lisboa), participaram da Conference on Historical and Underwater Archaeology (New Orleans, Estados Unidos), no simpósio "Landscapes in Dispute, Territorial Futures: Restitution and Reparation in the Face of Enclosure, Industrialization, and Extractivism", onde apresentaram o paper "Archaeology, Food Sovereignty, and Networks of Solidarity among Indigenous, Afrodescendent Communities, and Beyond in Brazil and Ecuador". M. Sallum também foi debatedora da mesa "Landscapes of Black and Indigenous Legacies of Resistance, Human Rights, and Archaeology in Latin America".
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Marianne Sallum
Loulé, o Algarve e a Arqueologia Islâmica. Colóquio de Homenagem a Helena Catarino
Por iniciativa da Câmara Municipal de Loulé a que se associou a Universidade de Coimbra, decorreu na cidade algarvia um Colóquio de justa e merecida Homenagem a Helena Catarino, Professora aposentada da Universidade de Coimbra e uma das pioneiras do estudo da presença islâmica no sul de Portugal através dos seus registos materiais.
Helena Catarino iniciou os seus estudos sobre a presença islâmica no Algarve oriental no âmbito dos trabalhos da Carta Arqueológica do Algarve, dirigidos por Victor S. Gonçalves, um dos projectos matriciais do Centro de Arqueologia da Universidade de Lisboa (UNIARQ), e desde então foi sempre estreita e frutuosa a colaboração entre os investigadores do Centro e a homenageada, razão pela qual não podíamos deixar de participar nesta iniciativa. O Colóquio constituiu boa ocasião para um balanço dos progressos da investigação de arqueologia islâmica no Algarve, sem esquecer outros territórios que Helena Catarino tem percorrido. |
Carlos Fabião
Visita a Leicester
Aconteceu, no passado dia 22, uma visita da doutoranda Ana Rosa aos laboratórios da Advanced Microanalysis Laboratory, guiada pelo Prof. Oliver Harris da School of Archaeology and Ancient History, da Universidade de Leicester.
Estas instalações encontram-se equipadas por tecnologia de ponta - microscópio electrónico de varredura, Tornado M4, microscópios metalográficos - que permitem, de forma não invasiva, a realização de análises e identificação de materiais orgânicos e inorgânicos a nível atómico e molecular. A observação mais detalhada aos traços de uso e micro- estigmas presentes, abrange todos o tipo de artefactos, cujo recente interesse se tem debruçado mais especificamente sobre a macro indústria lítica. |
Ana Rosa
INVESTIGAÇÃO NA UNIARQ
Mara Beatriz Agosto - Bolseira de Doutoramento FCT (UI/BD/154340/2023)
Pensar a Terra: uma investigação Filosófica sobre a ideia de Paisagem em Arqueologia

A Paisagem é um ponto de encontro entre disciplinas, investigadores, questionários e entre o grande público e a academia. Por outro lado, a condição intersticial e mesológica caracteriza a Paisagem enquanto «categoria sintética», enleando Estética, Ética, Natureza, Arquitectura e Humano. Configurando-se o Natural na sua relação entre o domínio do não-feito (Bereich des Nicht-gemacht) e a acção humana (zutun), a Filosofia da Paisagem torna-se um espaço privilegiado de reflexão entre o devir (pré-)histórico e as suas materialidades – sendo forçado, pela sua ontologia, a vislumbrar um conjunto/todo (Ganzes).
Nascida enquanto conceito da cisão entre a cidade e o mundo agrícola, a Paisagem tem, todavia, uma grande potencialidade de ser infundida com o peso da longue durée e reconceptualizar as bases teóricas da mais profunda diacronia.
Desta feita, as reflexões da Arqueologia da Paisagem e da Filosofia da Paisagem mobilizam um conjunto distinto de mundividências. O cruzamento entre mundos – como o já feito para o megalitismo britânico no geral, Bretanha, ou para o Sudoeste do País de Gales – em muito já demonstrou a fecundidade desta dialéctica.
Urge, por isso, pensar a Paisagem, em Arqueologia, com outro olhar: o da Filosofia. E se a tradição da arqueologia da paisagem remonta aos meados do século, a paisagem enquanto entidade e conceito filosófico é promanada nos inícios do século XX.
Procurando-se enlear contundentemente a Filosofia e a Arqueologia – sempre sob o signo da Paisagem – pretende-se neste projecto interdisciplinar entre Humanidades reflectir sobre este conceito, infundido tanto a Arqueologia com o pensar filosófico como a Filosofia com a lealdade para com as coisas típica da Arqueologia.
Este projecto exordiará com uma reflexão sobre as bases epistemológicas a tomar, que é o arqueológico, e uma breve historiografia do conceito de paisagem; posteriormente, analisar-se-á o peso do conceito de paisagem nos grandes pensadores da Arqueologia Europeia, abrindo, todavia, via para a interrogação das divisões estabelecidas para o pensamento arqueológico do último século. Posteriormente, far-se-á uma sistematização filosófica do pensamento de dois influentes filósofos da paisagem, para depois colocar a tese e a antítese em confronto: rumo a uma síntese dialéctica.
Nascida enquanto conceito da cisão entre a cidade e o mundo agrícola, a Paisagem tem, todavia, uma grande potencialidade de ser infundida com o peso da longue durée e reconceptualizar as bases teóricas da mais profunda diacronia.
Desta feita, as reflexões da Arqueologia da Paisagem e da Filosofia da Paisagem mobilizam um conjunto distinto de mundividências. O cruzamento entre mundos – como o já feito para o megalitismo britânico no geral, Bretanha, ou para o Sudoeste do País de Gales – em muito já demonstrou a fecundidade desta dialéctica.
Urge, por isso, pensar a Paisagem, em Arqueologia, com outro olhar: o da Filosofia. E se a tradição da arqueologia da paisagem remonta aos meados do século, a paisagem enquanto entidade e conceito filosófico é promanada nos inícios do século XX.
Procurando-se enlear contundentemente a Filosofia e a Arqueologia – sempre sob o signo da Paisagem – pretende-se neste projecto interdisciplinar entre Humanidades reflectir sobre este conceito, infundido tanto a Arqueologia com o pensar filosófico como a Filosofia com a lealdade para com as coisas típica da Arqueologia.
Este projecto exordiará com uma reflexão sobre as bases epistemológicas a tomar, que é o arqueológico, e uma breve historiografia do conceito de paisagem; posteriormente, analisar-se-á o peso do conceito de paisagem nos grandes pensadores da Arqueologia Europeia, abrindo, todavia, via para a interrogação das divisões estabelecidas para o pensamento arqueológico do último século. Posteriormente, far-se-á uma sistematização filosófica do pensamento de dois influentes filósofos da paisagem, para depois colocar a tese e a antítese em confronto: rumo a uma síntese dialéctica.
PEÇA DO MÊS
Machado plano em bronze de “Tipo Bujões”
Proveniência: Granja de Alpriate (Vila Franca de Xira, Portugal)
Cronologia: Idade do Bronze (cerca de 1500-1250 a.C.) Direcção dos trabalhos: Elisabete Barradas – Ozecarus, Serviços Arqueológicos, Lda Descrição: O machado de Granja de Alpriate aproxima-se tipologicamente dos machados planos de gume largo e muito aberto, feitos em bronze, de que o conjunto tipo provém do depósito de Bujões (Vila Real) que lhes dá o nome. As suas dimensões são: comprimento máximo 11,5 cm, largura máxima (no gume) 7,0 cm, largura do talão 2,9 cm e espessura máxima (secção longitudinal) 0,6 cm. Tem 174 g de peso. Comentário: Os machados de gume muito aberto, de tipo Bujões/Barcelos, parecem atestar, um primeiro momento de expansão dos artefactos em bronze binário ao longo da fachada atlântica peninsular. Nestes termos, o machado de Alpriate integra-se naturalmente na problemática dos primeiros bronzes no Ocidente Peninsular a Sul do Maciço Central. Não obstante a sua semelhança geral com o tipo acima referido, o exemplar de Alpriate apresenta algumas características próprias que o diferenciam. Assim a abertura do gume é bastante mais acentuada do que no tipo Bujões com um índice de abertura do gume muito inferior aos verificados nas peças do sítio epónimo ou do depósito de Escaroupim, este aspeto aproxima esta peça de alguns dos machados argáricos. |

A peça foi incorporada no Museu Municipal de Vila Franca de Xira em 2007, na sequência do depósito legal, por parte da Empresa Ozecarus, Serviços Arqueológicos, Lda. Tendo-lhe sido atribuído o N.º de Inventário MVFX 04457.
O local da descoberta encontra-se na zona sul do concelho de Vila Franca de Xira, na freguesia de Vialonga nas imediações da povoação de Granja de Alpriate. Corresponde a uma zona de vertente suave, sobranceira ao fértil vale de Vialonga sobre a margem esquerda da ribeira de Alpriate. No âmbito da realização da Carta Arqueológica de Vila Franca de Xira foi possível detetar a existência, à superfície do terreno, de fragmentos de bojo de cerâmica manual a par de elementos de sílex denticulados conhecidos na literatura científica como “dentes de foice”, peças atribuíveis a um largo espectro cronológico que se estende ao longo da Idade do Bronze Peninsular e vulgares, nomeadamente, nos chamados povoados agrícolas do Bronze Final da região de Lisboa.
Local de depósito: Centro de Estudos Arqueológicos de Vila Franca de Xira - CEAX
O local da descoberta encontra-se na zona sul do concelho de Vila Franca de Xira, na freguesia de Vialonga nas imediações da povoação de Granja de Alpriate. Corresponde a uma zona de vertente suave, sobranceira ao fértil vale de Vialonga sobre a margem esquerda da ribeira de Alpriate. No âmbito da realização da Carta Arqueológica de Vila Franca de Xira foi possível detetar a existência, à superfície do terreno, de fragmentos de bojo de cerâmica manual a par de elementos de sílex denticulados conhecidos na literatura científica como “dentes de foice”, peças atribuíveis a um largo espectro cronológico que se estende ao longo da Idade do Bronze Peninsular e vulgares, nomeadamente, nos chamados povoados agrícolas do Bronze Final da região de Lisboa.
Local de depósito: Centro de Estudos Arqueológicos de Vila Franca de Xira - CEAX
Bibliografia
BARRADAS, E. (2006) – Relatório final do acompanhamento arqueológico do projecto EN 115-5/Ligação do MARL ao IC2. Ozecarus, Serviços arqueológicos, Lda. Abrantes. Policopiado.
PIMENTA, J.; MENDES, H. (2016) – Carta Arqueológica de Vila Franca de Xira. Câmara Municipal de Vila Franca de Xira. Centro de Estudos Arqueológicos de Vila Franca de Xira (CEAX).
SENNA-MARTINEZ, J.C. (2007) – Aspectos e problemas das origens e desenvolvimento da metalurgia do bronze na fachada atlântica Peninsular. Estudos Arqueológicos de Oeiras. Oeiras. Câmara Municipal de Oeiras. 15, p. 119-134.
SENNA-MARTINEZ, J.C.; LUÍS, E.; REPREZAS, J.; LOPES, F.; FIGUEIREDO, E.; ARAÚJO, M.F. e SILVA, R.J. (2013) – Os Machados Bujões/Barcelos e as Origens da Metalurgia do Bronze na Fachada Atlântica Peninsular. In ARNAUD, J. M., MARTINS, A., NEVES, C. (Coord.), Arqueologia em Portugal, 150 Anos. Lisboa: Associação dos Arqueólogos Portugueses, p. 591-600.
SENNA‑MARTINEZ, J. C.; LUÍS, E.; PIMENTA, J., FIGUEIREDO, E.; LOPES, F.; ARAÚJO, M. F. e SILVA, R.J.C. (2013) – Nota sobre um machado plano em bronze de “Tipo Bujões” de Vila Franca de Xira. CIRA Arqueologia. 2, p. 95-102.
BARRADAS, E. (2006) – Relatório final do acompanhamento arqueológico do projecto EN 115-5/Ligação do MARL ao IC2. Ozecarus, Serviços arqueológicos, Lda. Abrantes. Policopiado.
PIMENTA, J.; MENDES, H. (2016) – Carta Arqueológica de Vila Franca de Xira. Câmara Municipal de Vila Franca de Xira. Centro de Estudos Arqueológicos de Vila Franca de Xira (CEAX).
SENNA-MARTINEZ, J.C. (2007) – Aspectos e problemas das origens e desenvolvimento da metalurgia do bronze na fachada atlântica Peninsular. Estudos Arqueológicos de Oeiras. Oeiras. Câmara Municipal de Oeiras. 15, p. 119-134.
SENNA-MARTINEZ, J.C.; LUÍS, E.; REPREZAS, J.; LOPES, F.; FIGUEIREDO, E.; ARAÚJO, M.F. e SILVA, R.J. (2013) – Os Machados Bujões/Barcelos e as Origens da Metalurgia do Bronze na Fachada Atlântica Peninsular. In ARNAUD, J. M., MARTINS, A., NEVES, C. (Coord.), Arqueologia em Portugal, 150 Anos. Lisboa: Associação dos Arqueólogos Portugueses, p. 591-600.
SENNA‑MARTINEZ, J. C.; LUÍS, E.; PIMENTA, J., FIGUEIREDO, E.; LOPES, F.; ARAÚJO, M. F. e SILVA, R.J.C. (2013) – Nota sobre um machado plano em bronze de “Tipo Bujões” de Vila Franca de Xira. CIRA Arqueologia. 2, p. 95-102.
João Pimenta
AGENDA
Conferência
«O Chão que Ela Pisa (The Ground Beneath Her Feet) ou a dinâmica portuária de Lisboa: o caso de estudo da Praça D. Luiz I» por Alexandre Sarrazola 6 de Fevereiro | 10h30 Sociedade de Geografia de Lisboa |
Isto é Arqueologia 2024/2025
7 de Fevereiro Anfiteatro 2 | Faculdade de Letras de Lisboa Mais informação AQUI |
Colóquio Internacional
Arquitectura Romana en Lusitania: entre pasado y presente 11 de Fevereiro Centro Cultural "Santo Domingo", Mérida, Espanha Mais informação AQUI |
O MNA "VOLTA" A CASA
«O Museu Nacional de Arqueologia a caminho da obra do PRR» por António Carvalho 13 de Fevereiro | 14h-17h Anfiteatro 3 | Faculdade de Letras de Lisboa |
Conferência no âmbito do Ciclo "Grandes descubrimientos en arqueología IV"
«Pasado, Presente y Futuro de la Ciudad de Ammaia» por Carlos Fabião 13 de Fevereiro | 18h30 (Espanha) Mais informação AQUI |
¿Existe una ciudad oriental en Europa? Modelos urbanos entre la Antigüedad tardía y la Edad Media (Bizancio, al-Andalus y reinos cristianos)
13 e 14 de Fevereiro Granada, Espanha Mais informação AQUI |
Conferência
«Variabilidade vs. homogeneidade no tecno-complexo Acheulense e a importância do suporte: uma abordagem baseada nos Large Cutting Tools do território português» por Carlos Ferreira 19 de Fevereiro | 17h00 Museu Arqueológico do Carmo Online: Teams |
Conferência Online SECAH
"O fácies de destruição de Monte dos Castelinhos. Um contexto ímpar para o século I a. C." por João Pimenta 20 de Fevereiro | 18h de Portugal Online (Zoom) |
71º Aniversário do Instituto Arqueológico Alemão: Ato em honra do Sr. Dr. Dr. h.c.
Theodor Hauschild 24 de Fevereiro | 18h Anfiteatro 3 | Faculdade de Letras de Lisboa |
Arqueologia em Construção 10 (2025): Sessão 1
27 de Fevereiro | Faculdade de Letras de Lisboa Mais informação AQUI |
PZAF 2026
Junho de 2026 Faculdade de Letras de Lisboa CALL FOR ABSTRACTS ATÉ 30 de OUTUBRO Mais informação AQUI |
Participações em Congressos, Colóquios e Conferências
SHA 2025 Conference on Historical and Underwater Archaeology
"Landscapes in Transition: Looking to the Past to Adapt to the Future" Participação de Francisco Noelli e Marianne Sallum 8 a 11 de Janeiro | New Orleans (EUA) "Loulé, o Algarve e a Arqueologia Islâmica": Colóquio de Homenagem a Helena Catarino
Participação de Amílcar Guerra, Carlos Fabião e Rui Roberto de Almeida 17 e 18 de Janeiro | Loulé Exposição de Geologia
«A exploração de recursos geológicos da região de Sintra-Cascais desde a Pré-história ao Período Romano» Palestra de Patrícia Jordão 18 de Janeiro | Cascais Associação dos Arqueólogos Portugueses - Secção de Pré-História
«Os Vivos depois da Morte: uma abordagem à gestão mortuária dos Tholoi 1 e 2 da Horta do João Moura 1 (Ferreira do Alentejo) durante o 3º milénio AC» Conferência de Mónica Corga 22 de Janeiro | Lisboa Workshop OLEARII EX HISPANIAE: Novedades sobre las almazaras hispanorromanas
«La Provincia Lusitania» Conferência de Catarina Viegas e Macarena Bustamante-Álvarez 23 e 24 de Janeiro | Granada (Espanha) |
HEIRS - Opening Symposium: Promoting research synthesis in human evolution
«Towards a comprehensive characterisation of the Acheulean in the westernmost part of Europe: overview and preliminary results» Comunicação de Carlos Filipe Ferreira 28 e 29 de Janeiro | Faro ADECAP
«Do voo de pássaro ao olho de lince: a construção das paisagens mortuárias no 3.º milénio AC no Baixo Alentejo» Palestra de Mónica Corga 29 de Janeiro | Zoom 12.º Congresso Ibérico de Estudos Africanos: "Respostas africanas ao dilema decolonial"
Participação de Fernando Mouta e Nireide Tavares 29 a 31 de Janeiro | Barcelona (Espanha) "Escuta Externa: Quantas ideias cabem no novo museu?"
Participação de António Carvalho e João Pimenta 30 de Janeiro | Lisboa |
Provas Académicas
Provas Intermédias e de Qualificação dos Trabalhos no Doutoramento em Arqueologia e Pré-história "Quotidiano e Comensalidade em Época Romana: A Cerâmica Comum de Monte Molião (Lagos, Portugal)"
por Íris Maria de Melo Fernandes da Costa Dias
6 de Fevereiro | 10h00 | Online (Zoom)
por Íris Maria de Melo Fernandes da Costa Dias
6 de Fevereiro | 10h00 | Online (Zoom)
Provas Intermédias e de Qualificação dos Trabalhos no Doutoramento em Arqueologia e Pré-história "Topographies Of The Slave Trade Along The Cacheu River, Guinea-Bissau, 16th - 19th Centuries"
por Sara Teixeira Simões
12 de Fevereiro | 13h00 | Online (Zoom)
por Sara Teixeira Simões
12 de Fevereiro | 13h00 | Online (Zoom)
Provas Intermédias e de Qualificação dos Trabalhos no Doutoramento em Arqueologia e Pré-história "As práticas funerárias neolíticas e calcolíticas em grutas naturais da Estremadura portuguesa"
por Daniel Sacramento van Calker
14 de Fevereiro | 10h00 | Online (Zoom)
por Daniel Sacramento van Calker
14 de Fevereiro | 10h00 | Online (Zoom)
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