Editorial
Mariana Diniz, Directora da UNIARQ
O número da UNIARQ digital que agora se apresenta está seguramente entre os números mais extensos desta publicação mensal que relata alguns dos aspectos nucleares da vida da UNIARQ. A extensão deste Boletim deve-se ao grande número de eventos que organizam, colaboram e participam os Investigadores e Colaboradores da UNIARQ enquanto elementos decisivos da comunidade arqueológica.
No mês de Setembro que este número sintetiza, reúnem-se algumas das actividades fundamentais que marcam a prática arqueológica: os trabalhos de campo, em curso desde Maio e que fecham agora, no essencial, a temporada de 2024 e a apresentação de resultados em encontros científicos, em acções de divulgação, presenciais ou em vídeos, destinadas a todos os públicos ou ainda em exposições em museus. Ao lado destas etapas fundamentais na actividade de um Centro de Investigação, da aquisição de dados à apresentação de resultados, o tópico do financiamento – decisivo – e dos projectos da UNIARQ que receberam apoio neste último quadro de apoio aos Projectos de Investigação Plurianuais em Arqueologia promovido pelo Património Cultural, IP, é também incluído porque a Ciência não tem preço, mas tem custos e a prática arqueológica é, no campo das ciências sociais e humanas, particularmente dispendiosa. A vida de um Centro, a dinâmica dos projectos que este acolhe e dos Investigadores que aí trabalham depende de fundos que permitam transformar inquéritos em práticas cientificas, transformar interrogações sobre as dinâmicas das sociedades do Passado em dados, informação, conhecimento.
Referem-se nestes boletins, com alguma frequência, prémios, medalhas e distinções atribuídos aos Investigadores da UNIARQ. É o caso neste número que abre com a medalha de mérito cultural atribuída a Victor S. Gonçalves, pela Liga dos Amigos de Setúbal e Azeitão, em reconhecimento de uma vida em prol da actividade arqueológica.
Destaquem-se ainda deste número, dois eventos a acontecer em Outubro, o início do Curso de Introdução à Geoarqueologia pelo grupo GEOUNIARQ e o retomar do ciclo Arqueologia em Construção. O cruzamento de disciplinas que o primeiro representa, o espaço de debate aberto aos jovens investigadores da UNIARQ, estudantes de doutoramento, são marcas da Arqueologia da UNIARQ que pretendemos desenvolver.
Mas não seria possível terminar este Editorial sem uma referência ao lugar escolhido pelo activistas do clima para uma das suas últimas manifestações. Sobre uma torre do Castelo de São Jorge é colocada uma tarja, o pano de muralha imediato é “pintado” de encarnado. Sem entrar na discussão sobre as alterações climáticas, não podemos, como arqueólogos, deixar de reflectir neste gesto. Como tantas vezes em momentos de crise, são os símbolos do Passado, as suas materialidades óbvias, o cenário das acções que nos querem fazer pensar o Futuro.
No mês de Setembro que este número sintetiza, reúnem-se algumas das actividades fundamentais que marcam a prática arqueológica: os trabalhos de campo, em curso desde Maio e que fecham agora, no essencial, a temporada de 2024 e a apresentação de resultados em encontros científicos, em acções de divulgação, presenciais ou em vídeos, destinadas a todos os públicos ou ainda em exposições em museus. Ao lado destas etapas fundamentais na actividade de um Centro de Investigação, da aquisição de dados à apresentação de resultados, o tópico do financiamento – decisivo – e dos projectos da UNIARQ que receberam apoio neste último quadro de apoio aos Projectos de Investigação Plurianuais em Arqueologia promovido pelo Património Cultural, IP, é também incluído porque a Ciência não tem preço, mas tem custos e a prática arqueológica é, no campo das ciências sociais e humanas, particularmente dispendiosa. A vida de um Centro, a dinâmica dos projectos que este acolhe e dos Investigadores que aí trabalham depende de fundos que permitam transformar inquéritos em práticas cientificas, transformar interrogações sobre as dinâmicas das sociedades do Passado em dados, informação, conhecimento.
Referem-se nestes boletins, com alguma frequência, prémios, medalhas e distinções atribuídos aos Investigadores da UNIARQ. É o caso neste número que abre com a medalha de mérito cultural atribuída a Victor S. Gonçalves, pela Liga dos Amigos de Setúbal e Azeitão, em reconhecimento de uma vida em prol da actividade arqueológica.
Destaquem-se ainda deste número, dois eventos a acontecer em Outubro, o início do Curso de Introdução à Geoarqueologia pelo grupo GEOUNIARQ e o retomar do ciclo Arqueologia em Construção. O cruzamento de disciplinas que o primeiro representa, o espaço de debate aberto aos jovens investigadores da UNIARQ, estudantes de doutoramento, são marcas da Arqueologia da UNIARQ que pretendemos desenvolver.
Mas não seria possível terminar este Editorial sem uma referência ao lugar escolhido pelo activistas do clima para uma das suas últimas manifestações. Sobre uma torre do Castelo de São Jorge é colocada uma tarja, o pano de muralha imediato é “pintado” de encarnado. Sem entrar na discussão sobre as alterações climáticas, não podemos, como arqueólogos, deixar de reflectir neste gesto. Como tantas vezes em momentos de crise, são os símbolos do Passado, as suas materialidades óbvias, o cenário das acções que nos querem fazer pensar o Futuro.
NOTÍCIAS
Liga dos Amigos de Setúbal e Azeitão homenageia Victor S. Gonçalves
O Homenageado, Victor S. Gonçalves, contando uma das suas muitas histórias repletas de ironia, rodeado pelo Presidente da Câmara Municipal de Setúbal, André Martins, Joaquina Soares e Carlos Tavares da Silva, dirigentes da LASA e Ana Catarina Sousa, Vice-Presidente do Instituto do Património Cultural. (Foto do perfil FB da CMS).
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No passado dia 15 de Setembro, no Salão Nobre da Câmara Municipal de Setúbal, a Liga dos Amigos de Setúbal e Azeitão (LASA) atribuiu medalha de mérito cultural a Victor S. Gonçalves, Professor Catedrático Emérito da Universidade de Lisboa, fundador e o primeiro Director da UNIARQ.
A sessão de homenagem, que teve o Salão Nobre repleto, foi presidida por Joaquina Soares, presidente da Direcção da LASA, e contou também com a presença, entre outros, de André Martins (Presidente da CMS), Luís Matos (Presidente da Junta de Freguesia de S. Sebastião), Fátima Silveirinha (em representação da União de Freguesias de Setúbal), Ana Paula Amendoeira (Vice-Presidente da CCDR do Alentejo), Ana Catarina Sousa (Vice-Presidente do Instituto do Património Cultural), Cristina Pacheco (em representação da CCDR de Lisboa e Vale do Tejo), Hermenegildo Fernandes (Director da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa), João Luís Cardoso (em representação da Academia Portuguesa da História), Mariana Diniz (Directora da UNIARQ), António Carvalho (Director do Museu Nacional de Arqueologia), Jorge Oliveira e Leonor Rocha, Professores da Universidade de Évora. |
André Pereira (adaptado de Soares, Joaquina - Revista da LASA, n.º 23, Verão de 2024)
Colóquio "Alcáçovas do Gharb Al-Andalus"
No passado dia 20 de Setembro, decorreu, no Castelo de S. Jorge de Lisboa, o colóquio internacional “Alcáçovas do Gharb Al-Andalus”, onde se reuniu um grupo de especialistas nacionais e internacionais, arqueólogos e historiadores, com o intuito de debater vários temas relacionados com as fortificações urbanas do ocidente ibérico, tanto estudos de caso particulares, como modelos operativos ou estratégias de implantação, no território do Gharb, ou seja, no território atualmente português e na parte mais ocidental da Extremadura castelhana. O evento foi organizado numa colaboração entre a UNIARQ, o Centro de História da Universidade de Lisboa (CH-ULisboa) e o Gabinete de Estudos Olisiponenses da Câmara Municipal de Lisboa (GEO), sendo a comissão científica e organizadora constituída por Hermenegildo Fernandes, investigador do CH-ULisboa, Catarina Viegas, investigadora da UNIARQ e Manuel Fialho investigador do GEO e do CH-ULisboa, e colaborador da UNIARQ.
Este encontro científico teve uma manifesta adesão por parte do público que compareceu no Castelo de São Jorge em números assinaláveis. A abertura foi realizada pelos representantes das instituições organizadoras, o presidente da Lisboa Cultura, Dr. Pedro Moreira, o Professor Doutor José Horta, Diretor do Centro de História, o Arquiteto Jorge Ramos de Carvalho, Diretor do Departamento de Património Cultural da Câmara Municipal de Lisboa, e a Professora Doutora Mariana Diniz, Diretora da UNIARQ. Em seguida, o encontro prosseguiu com as várias intervenções de investigadores de todo o país, sendo a ordem dos trabalhos aberta com duas comunicações onde foram apresentados os casos das Alcáçovas de Badajoz, pelos arqueólogos Fernando Valdez e Rodrigo Cortez Gomez, o caso de Mérida foi abordado pelo historiador Bruno Franco Moreno. Seguindo uma lógica de Norte para Sul, Mértola e Elvas foram expostas, pela arqueóloga Susana de Gomez Martínez e pelo historiador Fernando Branco Correia, respetivamente. Nas sessões da tarde foram analisadas fortificações menos conhecidas do Alentejo pelo historiador Santiago Macias, em contraste com a revisitação feita à bem conhecida Alcáçova de Palmela pela arqueóloga Isabel Cristina Fernandes. A última sessão concedeu especial destaque às alcáçovas do vale do Tejo, Lisboa, pela arqueóloga Ana Gomes, e Santarém incluída numa apresentação realizada pelos organizadores que abrangeu ambas as cidades e também o território da Valada, encerrando-se assim os trabalhos. Os comentários finais foram realizados pelo historiador Hermenegildo Fernandes que condensou o conteúdo geral do colóquio, sublinhando alguns pontos fulcrais como a diversidade de tipologias de estruturas fortificadas urbanas abordadas nas comunicações, algumas das quais já no limite daquilo que se pode entender como uma alcáçova e também a necessidade premente em se elaborar uma taxonomia do léxico árabe relativo às alcáçovas. Foi também considerada fundamental a interação nem sempre simples, mas invariavelmente proveitosa, entre historiadores e arqueólogos que apresentaram as suas investigações numa perspetiva de cruzamento interdisciplinar que amplifica o estudo da temática abordada.
Este encontro científico teve uma manifesta adesão por parte do público que compareceu no Castelo de São Jorge em números assinaláveis. A abertura foi realizada pelos representantes das instituições organizadoras, o presidente da Lisboa Cultura, Dr. Pedro Moreira, o Professor Doutor José Horta, Diretor do Centro de História, o Arquiteto Jorge Ramos de Carvalho, Diretor do Departamento de Património Cultural da Câmara Municipal de Lisboa, e a Professora Doutora Mariana Diniz, Diretora da UNIARQ. Em seguida, o encontro prosseguiu com as várias intervenções de investigadores de todo o país, sendo a ordem dos trabalhos aberta com duas comunicações onde foram apresentados os casos das Alcáçovas de Badajoz, pelos arqueólogos Fernando Valdez e Rodrigo Cortez Gomez, o caso de Mérida foi abordado pelo historiador Bruno Franco Moreno. Seguindo uma lógica de Norte para Sul, Mértola e Elvas foram expostas, pela arqueóloga Susana de Gomez Martínez e pelo historiador Fernando Branco Correia, respetivamente. Nas sessões da tarde foram analisadas fortificações menos conhecidas do Alentejo pelo historiador Santiago Macias, em contraste com a revisitação feita à bem conhecida Alcáçova de Palmela pela arqueóloga Isabel Cristina Fernandes. A última sessão concedeu especial destaque às alcáçovas do vale do Tejo, Lisboa, pela arqueóloga Ana Gomes, e Santarém incluída numa apresentação realizada pelos organizadores que abrangeu ambas as cidades e também o território da Valada, encerrando-se assim os trabalhos. Os comentários finais foram realizados pelo historiador Hermenegildo Fernandes que condensou o conteúdo geral do colóquio, sublinhando alguns pontos fulcrais como a diversidade de tipologias de estruturas fortificadas urbanas abordadas nas comunicações, algumas das quais já no limite daquilo que se pode entender como uma alcáçova e também a necessidade premente em se elaborar uma taxonomia do léxico árabe relativo às alcáçovas. Foi também considerada fundamental a interação nem sempre simples, mas invariavelmente proveitosa, entre historiadores e arqueólogos que apresentaram as suas investigações numa perspetiva de cruzamento interdisciplinar que amplifica o estudo da temática abordada.
O colóquio foi dedicado à memória da arqueóloga Alexandra Gaspar, cujo nome fazia parte do programa do evento e cuja partida foi uma surpresa para a comunidade de arqueólogos portugueses. A arqueóloga teve um papel central, na investigação e direção das escavações arqueológicas ocorridas nas últimas décadas na Alcáçova de Lisboa e a sua partida constitui uma lacuna maior no panorama da Arqueologia nacional.
Manuel Fialho
A UNIARQ na Noite Europeia dos Investigadores ’24: “Ciência para os Desafios Globais”
No passado dia 27 de Setembro decorreu no Museu Nacional de História Natural e da Ciência mais uma edição da Noite Europeia dos Investigadores (NEI). A UNIARQ marcou mais uma vez presença naquele que é um dos principais eventos de disseminação e divulgação da investigação científica realizada em Portugal. Somando-se ao tema desta edição da NEI, “Ciência para os Desafios Globais”, a UNIARQ apresentou este ano um conjunto de novas atividades pensadas sob o lema “Aprendemos com os erros? O que nos ensina a Arqueologia sobre os desafios do Passado e do Futuro”.
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Estas atividades procuraram transmitir ao público da NEI a ideia de que o Passado é um vasto repositório de experiências ao qual se pode recorrer na busca de soluções para os grandes desafios do presente. Foi assim realçado o potencial da Arqueologia – e especialmente da investigação da UNIARQ – para contribuir não apenas para o conhecimento do Passado, mas também para a construção de um futuro mais sustentável.
As atividades da UNIARQ na NEI foram em grande parte desenvolvidas e asseguradas por um grupo de doutorandos (Ana Beatriz Santos, Cátia Saque Delicado, Margarida Rodrigues, Miguel Rodrigues, Paula Nascimento e Rafael Lima) que têm no Centro a sua instituição de acolhimento, contando ainda com o inestimável apoio de uma equipa de voluntários formada por estudantes do Mestrado de Arqueologia da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (Ana Carolina Ferreira, Francisco Dias e João Monte). A todas e todos, uma palavra de agradecimento pelo trabalho realizado na representação da UNIARQ neste evento chave para a socialização do conhecimento produzido no Centro.
Francisco B. Gomes
Histórias que o rio nos traz
Foi apresentado no Museu de Portimão o Catálogo da Exposição temporária Histórias que o rio nos traz, que contou com a colaboração de investigadores da UNIARQ.
A colaboração com entidades locais em acções de Arqueologia Pública foi sempre uma das acções desenvolvidas pela UNIARQ, por maioria de razões, quando as mesmas se plasmam em publicações. As exposições temporárias são importantes, mas são os catálogos publicados o que fica para memória futura.
Carlos Fabião
ARQUEOLOGIA é um dos NOVOS percursos em Humanidades que a FLUL oferece aos alunos M50
Empenhada na formação ao longo da vida, a FLUL oferece diferentes percursos nas Humanidades, disponíveis para alunos com mais de 50 anos e sem formação superior (https://www.ulisboa.pt/info/m50-formacao-universitaria). Trata-se de um conjunto de percursos relacionados com as principais áreas de saber cultivadas na FLUL permitindo ao aluno seleccionar as disciplinas que deseja frequentarem cada semestre de acordo com o seu interesse. Neste ano lectivo de 2024/25 ARQUEOLOGIA passou a integrar a oferta da Faculdade de Letras. Mais informação: https://www.ulisboa.pt/sites/default/files/inline-files/programa.13_percursos_em_humanidades_24-25.pdf.
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Catarina Viegas
O programa de estudo da cidade romana de Ammaia apresentou-se na capital provincial
No âmbito do Congresso Internacional Los modelos urbanísticos, edilicios y decorativos en Lusitania, que decorreu em Mérida nos dias 27 e 28 de Setembro, foi apresentado o estado da questão sobre o estudo do fórum da cidade romana de Ammaia e da evolução do seu urbanismo, com o estudo de caso de uma das vias da cidade, a que enquadra a entrada poente do forum, por Carlos Fabião, apresentando «Nuevas observaciones sobre el forum y diseño urbano de Ammaia».
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Carlos Fabião
VIII Congresso do Neolítico da Península Ibérica
Decorreu, entre os dias 11 e 13 de Setembro, o VIII Congresso do Neolítico na Península Ibérica (CNP), realizado, desta vez, na Universidade de Alcalá de Henares. Depois da sua primeira edição, na Universidade Autónoma de Barcelona, em 1995, este evento que reúne todos os que trabalham sobre as múltiplas dimensões da trajectória das comunidades neolíticas, tem vindo a ser acolhido por diferentes universidades ibéricas tendo, em 2011, sido organizado pela UNIARQ, na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.
Com a participação dos Investigadores e Colaboradores da UNIARQ, Ana Catarina Sousa, Ana Rosa e Rafael Lima, Catarina Costeira, Linda Melo, Cátia Delicado, Daniel van Calker, Mariana Diniz, Miriam Cubas e Mónica Corga, esta oitava edição do CNP contou com cerca de duas centenas de participantes que abordaram o ambiente, a economia, as redes de circulação e as práticas simbólicas dos grupos neolíticos que a partir de meados do 6º milénio AC estão estabelecidos no espaço peninsular. Estes congressos de amplo espectro e de periodicidade trianual permitem à comunidade que trabalha sobre Neolítico partilhar novos dados, divulgar os resultados de novas metodologias e as alíneas de novos questionários. Ao Comité Organizador, um agradecimento e os parabéns pelo sucesso deste encontro. Até ao IX CNP! |
Mariana Diniz
A UNIARQ participou no 33º Congresso da RCRF em Leiden
Na definição de Ph. Kenrick ‘Rei Cretariae Romanae Fautores’ significa as pessoas que se interessam por cerâmica romana (https://www.fautores.org/). Trata-se da mais antiga associação internacional de investigadores que se dedicam ao estudo da cerâmica romana. O seu principal objetivo é estabelecer conctato entre estudiosos de diferentes países, e o campo de estudo é interpretado no seu sentido mais amplo.
O 33º Congresso da RCRF que se realizou em Leiden entre 15 e 22 de Setembro teve como tema: “(Cultural) Contacts & Ceramic Contexts” (https://www.rcrfleiden2024.nl) e contou com a participação de vários investigadores da UNIARQ que apresentaram o resultado da sua investigação com diversas comunicações e posteres. Comunicações: The Principate dumps of villa Cardílio (Torres Novas, Portugal): local production and ceramic Imports, por Victor Filipe, Carlos Fabião, Catarina Viegas, Romão Ramos, Cleia Detry e Bruna Faria; The thin-walled pottery from Augusta Emerita (Mérida, Spain) - new data from production and consumption contexts, por André Gadanho, Macarena Bustamante-Álvarez e Catarina Viegas; Coarseware from an Early Imperial context of Quinta do Ervedal (Fundão, Portugal), por Raquel Guimarães e André Gadanho, e posteres Weaving with ceramics. The case of the Iberian Peninsula, por Macarena Bustamante-Álvarez; Claudian-Flavian ceramic assemblage from the Roman villa at Tourega (Évora, Portugal): the southeast garbage dump; por Inês Vaz Pinto e Catarina Viegas; e Overview of the imported common wares in Loulé Velho (southern Lusitania-Portugal), Catarina Viegas e Rui Roberto de Almeida. Passados quase 70 anos da sua fundação (1957) o espírito dos fundadores da RCRF, Howard Comfort e Elisabeth Ettlinger, mantém-se vivo com a partilha de conhecimento sobre a cerâmica romana enquanto índice de tendências comerciais e da economia antiga, de mudanças sociais, políticas e culturais, incluindo ainda aspectos como a tecnologia de produção, assim como estudos interdisciplinares e questões teóricas. |
Catarina Viegas
INVESTIGAÇÃO NA UNIARQ
ESPECIAL CAMPANHAS DE VERÃO 2024
Iniciaram-se, em Maio, as campanhas de investigação de campo e de laboratório dos investigadores da UNIARQ, que se prolongaram até ao passado mês de Setembro.
CAMPO:
1. Orca 1 de Troviscos (Carregal do Sal). Neolítico Final e Bronze Antigo. Projecto NeoMEGA3: Antigas Sociedades Camponesas e Megalitismo na Plataforma do Mondego: Investigação, Recuperação, Integração e Valorização Patrimonial. José Quintã Ventura e Telma O. Ribeiro
2. Monumento da Víbora (Carregal do Sal). Bronze Final. Projecto NeoMEGA3: Antigas Sociedades Camponesas e Megalitismo na Plataforma do Mondego: Investigação, Recuperação, Integração e Valorização Patrimonial. José Quintã Ventura e Telma O. Ribeiro
3. Abrigo da Gruta da Buraca da Moira (Leiria). Neolítico Médio - Calcolítico Médio Necrópole; Paleolítico Superior. Projecto EcoPLis - Ecónonos Plistocénicos na Bacia do Rio Lis. Telmo Pereira
4. Abrigo da Senhora das Lapas (Tomar). Projecto ARQEVO2. Alexandre Varanda, Luis Gomes, João Zilhão e Filipa Rodrigues
5. Gruta do Caldeirão (Tomar). Paleolítico Médio/Superior. Projecto ARQEVO: Arqueologia e Evolução dos Primeiros Humanos na Fachada Atlântica da Península Ibérica. Luis Gomes, João Zilhão e Alexandre Varanda
6. Gruta do Aderno (Torres Novas). Paleolítico Inferior. Projecto Arqueologia e evolução dos primeiros humanos na fachada atlântica da Península Ibérica (ARQEVO 2). Henrique Matias, John Willman e João Zilhão
7. Lapa da Bugalheira (Torres Novas). Neolítico Antigo e Médio. Projecto ARQEVO: Arqueologia e Evolução dos Primeiros Humanos na Fachada Atlântica da Península Ibérica. Filipa Rodrigues e João Zilhão
8. Villa Cardílio (Torres Novas). Romano (I-V d.C.). Projecto Villa Cardílio: a romanização da bacia hidrográfica do Almonda. Victor Filipe
9. Concheiro - Fortim do Baleal 1 (Peniche). Mesolítico / Neolítico. Projecto Espaço e Tempo. Paleoambiente e Povoamento do 6º ao 3º milénio a.n.e na região de Peniche. Luis Rendeiro
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10. Cidade Romana de Ammaia (Marvão). Romano. Projecto Anfiteatro da cidade Romana de Ammaia. Carlos Fabião, Amílcar Guerra e Catarina Viegas
11. Tapada de Mafra. Vários. Projecto PATM: Paisagens Antigas da Tapada de Mafra. Ana Catarina Sousa e Marta Miranda
14. Castelo Velho de Safara (Moura). Romano Republicano, Idade do Ferro, Calcolítico. Projecto FOMEGA II. Mariana Nabais e Rui Monge Soares
15. Ciudad de Vascos (Toledo, Espanha). Medieval Islâmico. Jorge de Juan Ares
LABORATÓRIO:
1. Orca 1 de Troviscos (Carregal do Sal). Neolítico Final e Bronze Antigo. Projecto NeoMEGA3: Antigas Sociedades Camponesas e Megalitismo na Plataforma do Mondego: Investigação, Recuperação, Integração e Valorização Patrimonial. José Quintã Ventura e Telma O. Ribeiro
2. Monumento da Víbora (Carregal do Sal). Bronze Final. Projecto NeoMEGA3: Antigas Sociedades Camponesas e Megalitismo na Plataforma do Mondego: Investigação, Recuperação, Integração e Valorização Patrimonial. José Quintã Ventura e Telma O. Ribeiro
3. Abrigo da Gruta da Buraca da Moira (Leiria). Neolítico Médio - Calcolítico Médio Necrópole; Paleolítico Superior. Projecto EcoPLis - Ecónonos Plistocénicos na Bacia do Rio Lis. Telmo Pereira
4. Abrigo da Senhora das Lapas (Tomar). Projecto ARQEVO2. Alexandre Varanda, Luis Gomes, João Zilhão e Filipa Rodrigues
6. Gruta do Aderno (Torres Novas). Paleolítico Inferior. Projecto Arqueologia e evolução dos primeiros humanos na fachada atlântica da Península Ibérica (ARQEVO 2). Henrique Matias, John Willman e João Zilhão
8. Villa Cardílio (Torres Novas). Romano (I-V d.C.). Projecto Villa Cardílio: a romanização da bacia hidrográfica do Almonda. Victor Filipe
9. Concheiro - Fortim do Baleal 1 (Peniche). Mesolítico / Neolítico. Projecto Espaço e Tempo. Paleoambiente e Povoamento do 6º ao 3º milénio a.n.e na região de Peniche. Luis Rendeiro
10. Cidade Romana de Ammaia (Marvão). Romano. Projecto Anfiteatro da cidade Romana de Ammaia. Carlos Fabião, Amílcar Guerra e Catarina Viegas
12. Laboratório das Colecções da Arqueologia Colonial Portuguesa / FLUL. Paleolítico. Projecto Colecções da Arqueologia Colonial Portuguesa. João Pedro Cunha-Ribeiro e Paula Nascimento
13. Práticas de laboratório em Arqueologia - Idade do Ferro e período romano: estudo de materiais faunísticos e cerâmicos / FLUL. Idade do Ferro e Período Romano. Elisa de Sousa, Cleia Detry e Francisco B. Gomes
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Ciudad de Vascos (Toledo, Espanha)
Em Agosto de 2024 decorreu a quinquagésima campanha arqueológica em Ciudad de Vascos, dirigida pelo investigador da UNIARQ Jorge de Juan Ares, numa parceria entre a Universidad Complutense de Madrid (UCM), Universidad de Castilla-La Mancha, Universidad del País Vasco, CSIC, CNRS e a UNIARQ, que contou com a participação de Manuel Fialho y Yasmina Cáceres, investigadores da UNIARQ e Maria Vitória Araújo, estudante do Mestrado de Arqueologia da FLUL, entre uma vasta equipa de investigadores e alunos da Universidad Complutense de Madrid e da Universidad de Castilla-La Mancha. O sítio arqueológico de Ciudad de Vascos é um antigo povoado do Al-Andalus, que teve uma ocupação muito dinâmica entre os séculos IX e XII, tornando-se um ponto de interesse maior para a Arqueologia Medieval, nomeadamente para o período de domínio islâmico na Península Ibérica.
Situada na fronteira entre o al-Andalus e os reinos cristãos do norte peninsular, Ciudad de Vascos constituiu, entre os séculos X e XI d.C., um pequeno aglomerado urbano fortificado pontuado por diversas estruturas características do mundo urbano medieval muçulmano, tais como mesquitas, banhos, cemitérios, tanoarias e habitações organizadas em torno de pátio central. As escavações arqueológicas decorridas ao longos das últimas cinco décadas revelaram ainda vestígios romanos e da Alta Idade Média, cerâmicas, materiais de construção e vestígios epigráficos, bem como um número substancial de moedas romanas tardias datadas entre os séculos IV e V. Muito pouco material pode ser inequivocamente atribuído ao período visigótico ou aos séculos iniciais do domínio muçulmano. Após a conquista cristã de Toledo em 1085 d.C., terá ocorrido uma importante regressão urbana tornando-se um pequeno povoado cristão limitado à Alcáçova, até às primeiras décadas do século XII, momento em que o sítio foi abandonado.
A sequência estratigráfica deste sítio está relativamente preservada a partir de meados do século IX, sendo que a maioria dos vestígios de ocupação datam do século XI. Desde a década de 70 do século passado, têm sido amplamente publicados diversos materiais arqueológicos (metais, cerâmicas, líticos, vidros, etc.), tornando Ciudad de Vascos um arquivo fundamental da cultura material dos séculos X e XI da Península Ibérica central.
Nesta campanha deu-se continuação aos trabalhos efetuados na sondagem 6, iniciada em 2019, onde se escavaram realidades urbanas situadas num bairro situado a Sul da Alcáçova. Além disso, realizaram-se vários trabalhos de registo e de conservação dos vestígios arqueológicos junto da porta Sul da cerca urbana e também na Alcáçova.
Nesta campanha deu-se continuação aos trabalhos efetuados na sondagem 6, iniciada em 2019, onde se escavaram realidades urbanas situadas num bairro situado a Sul da Alcáçova. Além disso, realizaram-se vários trabalhos de registo e de conservação dos vestígios arqueológicos junto da porta Sul da cerca urbana e também na Alcáçova.
Manuel Fialho, Maria Vitória Araújo, Yasmina Cáceres e Jorge de Juan Ares
Abrigo da Buraca da Moira (Leiria)
O Abrigo da Buraca da Moira (Boa Vista, Leiria) está situado num vale encaixado nos calcários da Serra d'Aire e Candeeiros, (que na atualidade se apresenta mais largo devido à extração de pedra e areias ao longo do tempo). Esta extração de pedra cortou a entrada de uma gruta, dando-lhe a aparência de um abrigo; daí o seu nome.
O sítio tem tido trabalhos de escavação arqueológica contínuos desde 2015 no âmbito do projeto EcoPLis - Ecótonos Plistocénicos do Rio Lis, cujo objetivo é compreender a forma como estes vales foram utilizados na Pré-história, principalmente nos momentos de crise climática. O sítio apresenta uma sequência de níveis arqueológicos que resultaram da utilização do sítio como acampamentos por grupos de Homo sapiens caçadores-recoletores do Gravetense, Solutrense e Epipaleolítico. Com a introdução de um modo de vida completamente diferente, baseado na agricultura e na pastorícia, o sítio ganhou novas funções e passou a ser utilizado como necrópole no Neolítico e no Calcolítico. A campanha de 2024 pretendeu alargar a área de escavação para responder a questões sobre os processos de formação dos depósitos, de que forma a gruta se desenvolve para o interior e também ampliar a coleção de artefactos e ecofactos tendo em vista a publicação dos resultados e a elaboração de trabalhos académicos pós-graduados. |
Telmo Pereira
Lapa da Bugalheira (Torres Novas)
No passado mês de agosto, realizou-se a quinta campanha de escavações arqueológicas na Lapa da Bugalheira (Almonda, Torres Novas). Estes trabalhos foram dirigidos por Filipa Rodrigues e têm enquadramento no projeto ARQEVO – Arqueologia e Evolução dos Primeiros Humanos na Fachada Atlântica da Península Ibérica, da responsabilidade científica de João Zilhão.
Nas campanhas anteriores (2019 – 2022), identificou-se, abaixo dos grandes blocos que se desprenderam da parede da cavidade, uma ocupação cronologicamente enquadrada no Neolítico Antigo. Esta ocupação não foi reconhecida nem publicada em datas anteriores a 2019. Em 2024, a campanha incidiu nos quadrados K/13 e 14, que se localizam na sala aescavada por Afonso do Paço. A escavação de 2024 iniciou-se a partir do nível identificado nas campanhas de ’40 como “chão da gruta” (Paço, Zbyszewski, Ferreira, 1971). Como observado anteriormente, este “chão da gruta” corresponde aos blocos de abatimento sobre os quais se formou um espesso manto estalagmítico. Esta unidade é extremamente compacta, o que significa morosidade no trabalho de campo, pois a sua remoção só é possível com recurso a ferramenta pesada (martelo demolidor, diferencial, etc). Por outro lado, a resistência que oferece atesta a integridade do nível arqueológico do Neolítico Antigo identificado em 2019. Apesar da bioturbação inerente a este contexto, está assegurada a inexistência de um palimpsesto, possibilitando o estudo diferenciado das ocupações holocénicas da cavidade, designadamente do Neolítico Antigo e do Neolítico Médio. As datações absolutas obtidas até ao momento estão em consonância, demonstrando a existência de um hiato entre a utilização do espaço de cerca de 1000 anos. Esta campanha contou com o apoio logístico e financeiro da Câmara Municipal de Torres Novas, da STEA (Sociedade Torrejana de Espeleologia e Arqueologia), da PALEOALMONDA, Associação de Estudos Científicos e da Renova - Fábrica de Papel do Almonda, SA. |
Referências bibliográficas
PAÇO, Afonso do, ZBYSZEWSKI, Georges e FERREIRA, Octávio da Veiga (1971) - Resultado das escavações na Lapa da Bugalheira (Torres Novas). In Comunicações dos Serviços Geológicos de Portugal. Lisboa. 55, p. 23-48.
PAÇO, Afonso do, ZBYSZEWSKI, Georges e FERREIRA, Octávio da Veiga (1971) - Resultado das escavações na Lapa da Bugalheira (Torres Novas). In Comunicações dos Serviços Geológicos de Portugal. Lisboa. 55, p. 23-48.
Filipa Rodrigues e João Zilhão
Comunicar Ciência por Vídeo: COMUNIARQ SCIENCE VIDEOS 2024
Iniciada em 2021, pelo quarto ano consecutivo, a UNIARQ promove mais uma campanha de recolha e produção de vídeos promocionais relacionados com as campanhas de verão dos seus projectos de investigação.
Com o intuito de contribuir para promover a imagem das actividades do Centro de Arqueologia da Universidade de Lisboa, da Arqueologia como disciplina científica e do importante papel formador e integrador das campanhas de campo e laboratório para os alunos da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (FLUL), comunidades locais, e outros intervenientes, foram realizadas entrevistas pessoais a responsáveis e participantes, cuja divulgação ocorrerá nas redes sociais onde a UNIARQ marca presença, bem como em feiras expositivas. Em 2024 visitámos o Concheiro do Fortim do Baleal I, em Peniche, sob a batuta de Luis Rendeiro, e o Castelo Velho de Safara, em Moura, tendo como anfitriã Mariana Nabais, não deixando de acompanhar o Laboratório do Instrumental Têxtil do Monte Molião, na Faculdade de Letras, da responsabilidade de Francisco B. Gomes. Estes foram os locais onde decorreram projectos e actividades alvo de destaque pelo COMUNIARQ Science Videos, e onde fomos sempre muito bem recebidos. Em Outubro inicia-se a divulgação dos resultados deste projecto, apoiado pelo Projecto Estratégico do Centro de Arqueologia, financiado por fundos nacionais através da FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia, I.P., no âmbito dos projectos UIDB/00698/2020 e UIDP/00698/2020, através da publicação dos vídeos das entrevistas realizadas nas redes sociais facebook, instagram e x (ex-twitter), e também em playlist da social media YouTube, onde ficarão armazenados. Prevemos ainda, no último trimestre deste ano ou no primeiro trimestre de 2025, visitar mais alguns locais onde decorrem actividades de investigação de campo e laboratório. Estejam atentos! |
Trailer do ciclo COMUNIARQ Science Videos '24 (com som)
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André Pereira
INVESTIGADOR VISITANTE NA UNIARQ
Sergio Martín Jarque (Universidade de Salamanca)
Sergio Martín Jarque, investigador pré-doutoral no Departamento de Pré-história, História Antiga e Arqueologia da Universidade de Salamanca, está a realizar uma estadia de três meses na UNIARQ, na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. A sua investigação centra-se na descrição petrográfica das diferentes matérias-primas líticas utilizadas pelas populações pré-históricas. O objectivo é compreender as estratégias de abastecimento na exploração de recursos líticos. O investigador realizou vários estudos sobre a origem do sílex em sítios arqueológicos da região cantábrica (norte de Espanha) com níveis que remontam ao Paleolítico Superior. Durante a sua visita, irá consultar a litoteca de referência de sílex das formações meso-cenozóicas da Estremadura portuguesa. Esta revisão insere-se numa investigação mais ampla dirigida por Antonio Tarriño, Investigador Permanente de Doutoramento da Universidade do País Basco (UPV/EHU), cujo objectivo é a caracterização dos principais vestígios litológicos – sílex de qualidade para um talhe excepcional – que interligam diferentes territórios da Península Ibérica durante a Pré-História.
FINANCIAMENTO COMPETITIVO
Apoio Financeiro a Projectos de Investigação Plurianual em Arqueologia 2024
ARQEVO 2 - Arqueologia e evolução dos primeiros humanos na fachada atlântica da Península Ibérica (continuação)
(IR: João Zilhão) |
Arq-Arrábida - Arrábida da Pré-História Recente ao Período Romano: Chibanes, Pedrão e Creiro
(IR: Joaquina Soares) |
PEÇA DO MÊS
Cerâmica decorada – decoração simbólica (tatuagens faciais)
Proveniência: Cerro dos Castelos de São Brás (Serpa, Portugal)
Cronologia: 3º milénio a.n.e.
Direcção dos trabalhos: Rui Parreira
Descrição: Bojo de cerâmica decorado no interior – decoração com desenvoltas tatuagens faciais (SB-311-8).
Contexto: Achado durante as escavações de 1979 (7 de Setembro a 15 de Outubro), levadas a cabo por Rui Parreira, cujo projecto foi por ele, e António Monge Soares, encabeçado. A peça encontrava-se sobre o plano artificial 8, tendo sido encontrado durante a limpeza de perfil. A peça, por isso, não possui grande valor cronologicamente fino. O complexo 311 tem a ele associado um prato simples, um adelgaçado, um espessado e outro almendrado, assim como uma taça simples e uma taça almendrada. Todos estes materiais são consentâneos com uma cronologia do 3º milénio a.n.e.
Comentário: O conjunto de cerâmica decorada do Cerro dos Castelos de São Brás é assaz diminuta, com 24 fragmentos e somente 1,04% de todos os recipientes cerâmicos (ver Agosto, 2021). Com efeito, dos poucos elementos cronometricamente sensíveis, somente se verificam neste sítio a peça em epigrafe, um fragmento já publicado por Rui Parreira (Parreira, 1983, p. 163, 1) também pertencente ao grupo de cerâmica simbólica – cujo nome, embora não seja a chave de leitura das materialidades arqueológicas, deveria ser seriamente revisto –, e os três fragmentos de cerâmica campaniforme do sítio.
Tanto a cerâmica dita simbólica como a cerâmica com motivos solares apontam, ao contrário da cerâmica campaniforme transtagana da segunda metade do 3º milénio a.n.e., para realidades de transição entre o 4º e o 3º milénio a.n.e.
Vários são os paralelos para estas cerâmicas, tanto em contextos sepulcrais (e.g., Leisner e Leisner, 1959, Tafel 41; Martín Socas e Cámalich Massieu, 1982, p. 271), como não-sepulcrais (e.g., Silva e Soares, 1987, p. 54 e 58; Gonçalves, 1989, p. 278; Costeira, 2017, p. 118).
Embora pouco possa ser avançado sobre um único fragmento cerâmico, porquanto a ciência pré-histórica releva da estatística e da hermenêutica de um conjunto coevo, semioticamente é possível afirmar que cerâmicas como a SB1-311-8 são – na relação signo-objecto – um legisigno – e.g., o motivo é estabelecido sem uma base material que seja «copiada». Cerâmicas como as a com motivos solares, por sua vez, já entrariam na categoria de ícone (porquanto possuem uma base material que é copiada).
Sem se querer avançar para uma interpretação do que representam, ao certo, a figura representada no fragmento cerâmico em epigrafe (seja ela a «deusa», antepassados, figuras centrais para a comunidade, ou uma simples figura mitológica), é de salientar que são instrumentos de rejeição e aceitação de determinadas crenças, preceitos societais ou aspectos mitológicos, sempre numa lógica de cultural material activa e de feedback (e.g., Alarcão, 2005, p. 259) onde a agência, seja individual ou colectiva, joga um papel determinante.
Local de depósito: Câmara Municipal de Serpa
Cronologia: 3º milénio a.n.e.
Direcção dos trabalhos: Rui Parreira
Descrição: Bojo de cerâmica decorado no interior – decoração com desenvoltas tatuagens faciais (SB-311-8).
Contexto: Achado durante as escavações de 1979 (7 de Setembro a 15 de Outubro), levadas a cabo por Rui Parreira, cujo projecto foi por ele, e António Monge Soares, encabeçado. A peça encontrava-se sobre o plano artificial 8, tendo sido encontrado durante a limpeza de perfil. A peça, por isso, não possui grande valor cronologicamente fino. O complexo 311 tem a ele associado um prato simples, um adelgaçado, um espessado e outro almendrado, assim como uma taça simples e uma taça almendrada. Todos estes materiais são consentâneos com uma cronologia do 3º milénio a.n.e.
Comentário: O conjunto de cerâmica decorada do Cerro dos Castelos de São Brás é assaz diminuta, com 24 fragmentos e somente 1,04% de todos os recipientes cerâmicos (ver Agosto, 2021). Com efeito, dos poucos elementos cronometricamente sensíveis, somente se verificam neste sítio a peça em epigrafe, um fragmento já publicado por Rui Parreira (Parreira, 1983, p. 163, 1) também pertencente ao grupo de cerâmica simbólica – cujo nome, embora não seja a chave de leitura das materialidades arqueológicas, deveria ser seriamente revisto –, e os três fragmentos de cerâmica campaniforme do sítio.
Tanto a cerâmica dita simbólica como a cerâmica com motivos solares apontam, ao contrário da cerâmica campaniforme transtagana da segunda metade do 3º milénio a.n.e., para realidades de transição entre o 4º e o 3º milénio a.n.e.
Vários são os paralelos para estas cerâmicas, tanto em contextos sepulcrais (e.g., Leisner e Leisner, 1959, Tafel 41; Martín Socas e Cámalich Massieu, 1982, p. 271), como não-sepulcrais (e.g., Silva e Soares, 1987, p. 54 e 58; Gonçalves, 1989, p. 278; Costeira, 2017, p. 118).
Embora pouco possa ser avançado sobre um único fragmento cerâmico, porquanto a ciência pré-histórica releva da estatística e da hermenêutica de um conjunto coevo, semioticamente é possível afirmar que cerâmicas como a SB1-311-8 são – na relação signo-objecto – um legisigno – e.g., o motivo é estabelecido sem uma base material que seja «copiada». Cerâmicas como as a com motivos solares, por sua vez, já entrariam na categoria de ícone (porquanto possuem uma base material que é copiada).
Sem se querer avançar para uma interpretação do que representam, ao certo, a figura representada no fragmento cerâmico em epigrafe (seja ela a «deusa», antepassados, figuras centrais para a comunidade, ou uma simples figura mitológica), é de salientar que são instrumentos de rejeição e aceitação de determinadas crenças, preceitos societais ou aspectos mitológicos, sempre numa lógica de cultural material activa e de feedback (e.g., Alarcão, 2005, p. 259) onde a agência, seja individual ou colectiva, joga um papel determinante.
Local de depósito: Câmara Municipal de Serpa
Bibliografia:
AGOSTO, F. (2021) - O Cerro dos Castelos de São Brás (Serpa) no 3º milénio a.n.e.: materialidades e problemáticas de uma especificidade cultural no extremo Sul do Sudoeste ibérico. Dissertação de Mestrado defendida na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.
ALARCÃO, J. (2005) – As cidades da Lusitânia: imagens de um processo cultural. In NOGALES BASARRATE, T., (eds.) - Augusta Emerita. Territorios, espacios, imágenes y gentes en Lusitania romana. Mérida: Museo Nacional de Arte Romano, p. 259-273.
COSTEIRA, C. (2017) - No 3o milénio a.n.e., o sítio de São Pedro e as dinâmicas de povoamento no Alentejo Médio. Volume I. Tese de Doutoramento apresentada à Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa
GONÇALVES, V. S. (1989) - Megalitismo e Metalugia no alto Algarve Oriental, uma aproximação integrada. Volume 1. Lisboa: CAH/Uniarch/INIC.
LEISNER, G.; LEISNER, V. (1959) - Die Megalithgräber der Iberischen Halbinsel: Der Westen, 2. Lieferung. Berlin: De Gruyter. (Madrider Forschungen, 1)
MARTÍN SOCAS, D.; CÁMALICH MASSIEU, M. (1982) - La Cerámica simbólica y su problemática (Aproximación a través de los materiales de la Colección L. Siret). Cuadernos de Prehistoria y Arqueología de la Universidad de Granada. 7, p. 267–306. doi: 10.30827/cpag.v7i0.1203.
PARREIRA, R. (1983) - O Cerro dos Castelos de São Brás. Relatório preliminar dos trabalhos arqueológicos de 1979 e 1980. O Arqueólogo Português. 4:1, p. 149–168.
SILVA, C. T.; SOARES, J. (1987) - O povoado fortificado calcolítico do Monte da Tumba: I - Escavações Arqueológicas de 1982-86 (resultados preliminares). Setúbal Arqueológica. VIII, p. 29–79.
AGOSTO, F. (2021) - O Cerro dos Castelos de São Brás (Serpa) no 3º milénio a.n.e.: materialidades e problemáticas de uma especificidade cultural no extremo Sul do Sudoeste ibérico. Dissertação de Mestrado defendida na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.
ALARCÃO, J. (2005) – As cidades da Lusitânia: imagens de um processo cultural. In NOGALES BASARRATE, T., (eds.) - Augusta Emerita. Territorios, espacios, imágenes y gentes en Lusitania romana. Mérida: Museo Nacional de Arte Romano, p. 259-273.
COSTEIRA, C. (2017) - No 3o milénio a.n.e., o sítio de São Pedro e as dinâmicas de povoamento no Alentejo Médio. Volume I. Tese de Doutoramento apresentada à Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa
GONÇALVES, V. S. (1989) - Megalitismo e Metalugia no alto Algarve Oriental, uma aproximação integrada. Volume 1. Lisboa: CAH/Uniarch/INIC.
LEISNER, G.; LEISNER, V. (1959) - Die Megalithgräber der Iberischen Halbinsel: Der Westen, 2. Lieferung. Berlin: De Gruyter. (Madrider Forschungen, 1)
MARTÍN SOCAS, D.; CÁMALICH MASSIEU, M. (1982) - La Cerámica simbólica y su problemática (Aproximación a través de los materiales de la Colección L. Siret). Cuadernos de Prehistoria y Arqueología de la Universidad de Granada. 7, p. 267–306. doi: 10.30827/cpag.v7i0.1203.
PARREIRA, R. (1983) - O Cerro dos Castelos de São Brás. Relatório preliminar dos trabalhos arqueológicos de 1979 e 1980. O Arqueólogo Português. 4:1, p. 149–168.
SILVA, C. T.; SOARES, J. (1987) - O povoado fortificado calcolítico do Monte da Tumba: I - Escavações Arqueológicas de 1982-86 (resultados preliminares). Setúbal Arqueológica. VIII, p. 29–79.
Mara Agosto
AGENDA
Para a «Felicidade Pública» No tricentenário do nascimento de Frei Manuel do Cenáculo Villas-Boas (1724-1814)
10 a 12 de Outubro Évora Mais informação AQUI |
The Lithic Studies Society Conference 2024
11 e 12 de Outubro Newark-on-Trent (UK) Mais informação AQUI |
XV Coloquio Internacional de Lenguas y Culturas
Paleohispánicas 16 a 18 de Outubro Madrid (Espanha) Mais informação AQUI |
Negotiating Identities, Constructing Territories
Pre-Roman Iberia, 900-200 BCE 17 a 19 de Outubro Universidade de Chicago (EUA) Mais informação AQUI |
SIMEP 2024
Social Interactions in Mediterranean Prehistory 21 a 23 de Outubro Barcelona (Espanha) Mais informação AQUI |
XIII Encontro de Arqueologia do Sudoeste Peninsular
25 a 27 de Outubro Cádiz / Benalup-Casas Viejas (Espanha) Mais informação AQUI |
Arqueologia em Construção 9: Sessão #4
29 de Outubro Faculdade de Letras de Lisboa Mais informação AQUI |
Participações em Congressos, Colóquios e Conferências
XV JIA (Jornadas de Jóvenes en Investigación Arqueológica)
Participação de Alice Baeta, Ana Rosa e Rafael Lima 4 a 6 de Setembro | Madrid (Espanha) Seminário Presencial "Paisajes arqueológicos de la Prehistoria y la Protohistoria de la Península Ibérica"
«Vale do Côa: visitas del siglo XXI sobre un paisaje del Paleolítico.» Comunicação de João Zilhão 10 a 12 de Setembro | Madrid (Espanha) VIII Congresso do Neolítico da Península Ibérica
Participação de Ana Catarina Sousa, Ana Rosa, Catarina Costeira, Cátia Delicado, Daniel van Calker, Joaquina Soares, Linda Melo, Mariana Diniz, Miriam Cubas, Mónica Corga e Rafael Lima 11 a 13 de Setembro | Alcalá de Henares (Madrid, Espanha) 14th annual ESHE meeting
«New elements on the Gravettian-Solutrean transition in westernmost Iberia: the production of Vale Comprido points at Portela 2 (Leiria,Portugal)» Poster de Cristina Gameiro 11 a 15 de Setembro | Zagreb (Croácia) XVII Congreso Nacional de Numismática: "Numismática ¿Qué y Para Qué? Generación y transferencia de conocimiento"
Participação de Alice Baeta, Noé Conejo Delgado e Ruth Pliego Vázquez 12 a 14 de Setembro | Pontevedra (Espanha) 33º Congresso "REI CRETARIÆ ROMANÆ FAUTORES"
Participação de André Gadanho, Carlos Fabião, Catarina Viegas, Cleia Detry, Macarena Bustamante-Álvarez, Rui Roberto de Almeida e Victor Filipe 15 a 22 de Setembro | Leiden (Países Baixos) |
Jornadas Internacionais "Una Nueva Edad del Bronce"
«Nuevos datos sobre el Campaniforme y Bronce Antiguo en Portugal» Comunicação de Ana Catarina Sousa 19 e 20 de Setembro | Alicante (Espanha) Colóquio Internacional "Alcáçovas do Gharb Al-Andalus"
Participação de Catarina Viegas, Hermenegildo Fernandes, Manuel Fialho e Mariana Diniz 20 de Setembro | Castelo de S. Jorge (Lisboa) 17th Archaeological Conference of Central Germany "A Stone Age History of Clothing"
«The Lagar Velho Child Burial Twenty-five Years on: The New Evidence and its Implications» Comunicação de João Zilhão 26 a 28 de Setembro | Halle (Saale) (Alemanha) Congresso Internacional "Los modelos urbanísticos, edílicos y decorativos en Lusitania"
«Nuevas observaciones sobre el forum y diseño urbano de Ammaia.» Comunicação de Carlos Fabião 27 e 28 de Setembro | Mérida (Espanha) 1.º Encontro "Estudos do Património de Arruda dos Vinhos"
«Apresentação dos resultados dos trabalhos arqueológicos no Moinho do Custódio e Forte do Passo 2019-2023 e apresentação do proecto "As dinâmicas de ocupação humana no território de Arruda dos Vinhos: Os sítios arqueológicos do Moinho do Custódio e do Castelo/Passo - Das primeiras sociedades camponesas ao período contemporâneo - DOHAV-CC-1."», Comunicação de Ana Catarina Sousa e Jorge Lopes 28 de Setembro | Arruda dos Vinhos |
Provas Académicas
Provas de agregação, no ramo de Arqueologia e Pré-História
por Mariana Diniz
Sessão 1: 22 de Outubro | 10h00 | Sala de Actos da Reitoria da Universidade de Lisboa
«Vila Nova de São Pedro (Azambuja) e o extremo ocidente da Península Ibérica, no 3.º milénio AC.»
Sessão 2: 22 de Outubro | 15h00 | Sala de Actos da Reitoria da Universidade de Lisboa
por Mariana Diniz
Sessão 1: 22 de Outubro | 10h00 | Sala de Actos da Reitoria da Universidade de Lisboa
«Vila Nova de São Pedro (Azambuja) e o extremo ocidente da Península Ibérica, no 3.º milénio AC.»
Sessão 2: 22 de Outubro | 15h00 | Sala de Actos da Reitoria da Universidade de Lisboa
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Edição e Textos: André Pereira, Carlos Fabião, Catarina Viegas, Filipa Rodrigues, João Zilhão, Joaquina Soares, Jorge de Juan Ares, Manuel Fialho, Mara Agosto, Maria Vitória Araújo, Mariana Diniz, Sergio Martín Jarque, Telmo Pereira e Yasmina Cáceres Copyright © 2024 UNIARQ, Todos os direitos reservados. O nosso endereço: Centro de Arqueologia da Universidade de Lisboa (UNIARQ) Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa Alameda da Universidade 1600-214 Lisboa PORTUGAL [email protected] Siga as nossas actividades também no facebook, twitter, instagram e youtube |